Capítulo 11

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Juntamos nossas bagagens e decidimos ir além da praça, além de lugar nenhum e atravessamos a grande passarela de árvores que davam até uma paisagem de fim de tarde, em um mar agitado. E senti o vento balançar e eu gostei e consegui balançar entre as folhas, e assobiar com os pássaros, e sentir a sensação de liberdade. E olhei as folhas das árvores que caem e entendi que apenas gostava disso delas, elas sempre balançavam diferentes, leves, sem o terror de ser arrancada do lugar confortável, eram sinceras e dançarinas, folhas que dançam ao vento.

E eu sentia as sensações se penetrando em meu ser, em minha essência e que aquilo no fim me confortava, como jamais algo que me confortou.

E quando chegavamos mais e mais pertos da paisagem a beira do mar eu senti os tons laranjas me invadirem e me abraçarem, e vi o rosa das nuvens, e o azul do mar que parecia o céu em dias noturnos, a natureza em si parecia completa

-Eu me sinto completa

-É lindo- A garota segurou minha mão- Eu me sinto...

-Transbordando

-Eu acho que no fim, tudo que é bom, não nos completa

-Transborda...

-Talvez, o tom do amor, seja o que mais nos transborde, o que mais nos lembre de se permitir

-Deixe a luz entrar...

-Talvez o amor, não seja o tom, talvez...

-Ele seja uma tela inteira?

-E se o talvez ...

-For o que é de fato?

-E o que nos ensinaram ...

-Fosse tudo errado?

-Qual é o tom do amor?

-Ele é uma tela inteira! Mas se for pra ser um tom, ele vai ser o tom em que estiver o céu- Olho para o fundo do céu e vejo a luz entrar- Vai ser da cor do sol, e se o amor é uma tela ele vai ser ser o pôr do sol, com toda certeza.

Rio pra mim mesma e olho para a garotinha e ela ri

-Talvez, seja hora de ir pra casa?

Ela me guia até ruas que reconheço

-Sinceramente, você sempre quis fazer isso- Ela ri, ela olha a casa verde com paredes meio quebradas e ri. Era a minha casa, a casa onde eu cresci- Ateie fogo nos seus pesadelos

Eu vi meus pesadelos queimarem e as cinzas de todo o meu ser, de todas ás vezes vezes que morri, ou ao menos realmente tentei, se esvairam pelo ar e se espalharam pelo céu e pelo vasto infinito, e minhas cinzas estavam por aí, todas as partes ruins, boas que me formaram, se jogaram ao léu e decidiram que deviam servir para outras coisas. E todo o tremor dos textos que se chamaram abusos, agora estavam com tintas velhas e lágrimas secas. Quando olhei a menina, eu entendi, eu me vi, não mais em um vestido cuidado, mas numa blusa do batman, e lágrimas caindo no rosto, ela segurou meu rosto e encostou as testas, beijou minha testa com cuidado e me abraçou e sorriu

-Estamos em casa, e o tom do amor deve ser o que você quiser, desde que seja intenso.



-Então, pegue os pincéis, canetas, e faça o intenso dentro de vocês, transbordar. -

(Qual o tom do amor?)

Qual o Tom do Amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora