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Ele tinha acabado de me fazer confessar em voz alta que eu sentia algo pelo Rafael. Foi estranho me ouvir dizendo isso, mas também foi libertador.

Eu simpatizo com aquele cretino e sei que ele também sente o mesmo. Mas as circunstâncias em que acabaram nos envolvendo impede que isso vire algo maior e mais bonito.

Eu estou do lado dos meus pais e Rafael, do seu pai. Ambos os lados são inimigos e nós, por questão lógica, devemos ser também. Mas quem disse que eu queria?

Não, eu não queria. Eu não queria mesmo. E eu não me vejo obrigada a ser. Porém, Rafael sim, ele se vê obrigado a me destratar, humilhar, torturar com seus joguinhos chatos.

Mas eu já consegui ler algumas das suas atitudes. Vivemos em um incansável morde e assopra. É até engraçado pensar nisso, dessa forma que estou.

Encontro-me nessa situação porque o homem que é inimigo de Rafael e do seu pai resolveu apelar para agiotas mafiosos e não cumpriu com sua dívida tendo como resultado final o meu sequestro. O que ele poderia fazer? O óbvio seria deixar com que o castigo do meu pai fosse perder a filha, mas não, ele está negociando tudo que puder pra me ver livre.

Devo acreditar que há mais do que meus olhos conseguem ver e meu raciocínio decifrar?

Enquanto pensava, notei que não estava sozinha nessa. O homem que estava em minha frente também estava pensativo. Parecia perdido em pensamentos mais complexos do que os meus.

–– Você está sendo sincera. Na verdade, os dois estão. Mas não quero ficar tentando entender o que realmente está acontecendo entre vocês dois.

É, tentar entender isso vai ser bem difícil. Nem eu sei de tudo que realmente acontece entre nós dois. Imagina quem está de fora?

–– Eu pretendia ficar com você, flor. Eu já estou com 36 anos e não tenho filhos, o que pra mim é uma coisa ruim. Tenho um legado a passar para alguém e gostaria que fosse para um filho meu. Mas... –– Ele cruza os braços e sorri. –– Não posso ter um filho antes de resolver umas pendências na Bolívia com meu irmão. E eu sei exatamente como seu namorado pode me ajudar com isso.

–– Você quer que ele trabalhe pra você? Seja da máfia?

–– Não, não se preocupe. Apesar de tudo, não preciso de homens trabalhando pra mim. Preciso apenas de uma ajuda. Você não precisa saber o que é. Sabe, flor, gostaria de ser um pouco mais novo e ter te conhecido sem essas marcas todas que carrego na alma. Você é uma garota que vale a pena ter por perto. Digo isso porque acompanhei um pouco da sua rotina. Você seria uma mãe perfeita também.

–– Não pretendo ser mãe, se me permite opinar. Justamente porque acredito não ser apta pra essa posição. Mas... obrigada pelos elogios e espero que tudo dê certo pra você.

Por que eu olho pra ele e não consigo sentir repulsa, apesar de alguns dos seus atos terem sido reprováveis?

Eu vejo um homem solitário e carente, desejando ter o que a maioria das pessoas desejam que é ter uma família. Mas, presumo eu, que a vida no meio da criminalidade o fez repensar várias vezes se valia a pena colocar um inocente em risco.

Acabei de crer que eu sou uma pessoa muito empática. Putz!

–– Seu namorado lhe mandou um recado. Quer ouvir? –– Assinto. –– Ele disse que iria fazer de tudo para devolver você às pessoas que ama e que se falhasse não seria por falta de tentativa e insistência. Sabe qual é o nome disso não é, flor? Até mais.

Ele vai embora e me deixa mergulhada nos meus pensamentos. Estava impossível organizá-los de tão confusos que eles estavam.

Garça e Cisne aparecem e me convidam pra almoçar. Tive que comer fast food no almoço enquanto as duas ficavam perguntando coisas sobre mim.

Você é o meu prêmioOnde histórias criam vida. Descubra agora