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Eu não estava acreditando que aquele imbecil tinha me feito encontrá-lo em um restaurante pra falar do nosso filho com desdém, como se ele fosse qualquer pessoa em minha vida.

Quem ele pensa que é pra falar assim da pessoa mais importante da minha vida?

Eu só não estapeei seu rosto porque eu não queria chamar a atenção das pessoas que estavam ao redor. Elas não mereciam ter seu momento interrompido ao presenciar uma agressão. Sem contar que isso poderia ser péssimo pra mim.

Assim que vou me aproximando do ateliê vejo que Nita e Liam estão chegando também. Mudo rapidamente minha expressão e corro até meu filho.

–– Oi, meu leãozinho. Que carinha é essa? –– Noto que ele está com os olhos vermelhos. Olho imediatamente pra Nita. –– O que aconteceu com o Liam?

–– Ele disse que pela manhã, na escola, alguns amiguinhos zombaram dele por ele não ter pai.  –– Nita dá de ombros. –– Desde que busquei ele na escola ele não para de chorar. Agora pediu pra ver você. Tive que vir e trazer ele.

Ele me abraça e depois se afasta de mim, coçando os olhinhos daquela forma amável e dengosa.

–– Não fique triste, meu leãozinho. O seu pai está viajando e vai voltar um dia. Isso não quer dizer que você não tem pai. Tudo bem? Ele vai voltar pra pegar aquele bolo que você guardou pra ele.

Ouço Nita tossindo e olhando para algo atrás de mim. Levanto e viro o rosto imediatamente para ver do que se trata, mas já sabendo no meu íntimo do que se tratava. Ou melhor, de quem.

–– Rafael...

–– O que significa isso, Maria Isis?

Liam agarra na minha perna e olha para Rafael. Os dois estão se olhando e minha boca fica totalmente seca.

–– Mãe, quem é o moço? É seu amigo? É o meu pai que voltou da viagem?

E sabe quando a pressão cai repentinamente? Na verdade, quando ela despenca?

Eu só lembro do meu corpo ficando mole e de tudo ficando escuro. Por sorte, não desmaiei. Mas ficou tudo turvo e um zumbido insistente me tirava a concentração.

Quando tornei, estava no sofá do meu escritório. Liam estava perto de mim, brincando com seu cavalinho, e Rafael estava sentado numa das cadeiras, com uma expressão de dar dó.

–– Ai, minha cabeça. –– Coloco a mão na testa.

–– Nita, você pode por gentileza levar o meu... novo amiguinho pra outro lugar? –– A voz sombria de Rafael me arrepiou toda. –– Preciso conversar com a mãe dele.

Observo Nita sair com Liam e fechar a porta cuidadosamente. Os olhos de Rafael caíram em mim e eu tive vontade de chorar. O porquê eu não sei.

–– Maria Isis... –– Por que ele parece tão surpreso? –– O que significa isso? Você sumiu sabendo que estava grávida? Você escondeu meu filho de mim durante todo esse tempo por vingança?

–– O quê? –– Levanto sobressaltada. –– Você está brincando não é? Claro, claro que é uma brincadeira e de muito mau gosto. –– Procuro na gaveta da minha mesa um remédio pra dor de cabeça. –– Rafael, não precisa desse teatro na minha frente. O Liam não está ouvindo. Ele não sabe que o pai dele ignorou sua existência por capricho, por infantilidade. Agora que você o viu, e muito obrigada por não falar quem é, pode ir embora. Nunca precisamos de você e não é agora que vamos precisar.

–– Ô Maria Isis, você bateu forte com essa cabeça em algum lugar ou sofreu lavagem cerebral? –– Rafael aparenta estar profundamente magoado e enraivecido. –– Você que escondeu o garoto de mim, sua insensível. Você fadou uma criança a viver sem o pai por vingança, mostrando ser a garota mimada e dondoca que sempre foi. Mas isso não vai ficar assim. Eu movo céus e terra, mas eu garantirei o direito de me aproximar do meu filho. Tem noção do quanto eu perdi por sua imaturidade, Maria Isis? Droga!

Você é o meu prêmioOnde histórias criam vida. Descubra agora