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Eu pensava que minha segunda-feira iria ser um pouco mais calma. Eu já tinha acordado sabendo justamente o que eu iria fazer a Maria Isis passar.

Eu não entendo a dualidade de sentimentos que eu vivo em relação a Isis, mas me sinto confortável quando acordo a odiando.

Eu imagino que meu pai fique orgulhoso quando acordo determinado a infernizar a vida dela. Parece que tudo fica certo, exatamente como planejávamos antigamente.

Mas quando fico frente a frente com ela, tudo desaba. Não consigo ser totalmente cruel. Armei todo um show onde ela seria a protagonista, em um podrão de esquina, mas não consegui ir até o fim.

Acabei ficando com dó da safada, acredita?

Ainda por cima comprei duas maçãs em uma vendinha e dei para ela, para que não fosse fazer os exames de barriga vazia. Pode isso?

Tudo estava indo bem, até o doutor falar que meu pai não está comparecendo às consultas programadas. Que velho teimoso!

Maria Isis, ainda por cima, tem que meter o bedelho nos meus assuntos e questionar se meu pai estava doente. O que isso muda a vida dela? Será que ela é uma espiã?

Preciso ficar de olho em Maria Isis. Ela pode estar fingindo esse tempo todo justamente pra arrancar informações preciosas de mim.

Depois de deixá-la em casa, sigo pra casa do meu pai. Ele sempre enche a boca para me cobrar todo tipo de atitude. Agora é minha vez.

–– O que você quer, Rafael? Não vê que a Charlotte está me fazendo uma massagem?

Assim que cheguei na casa do meu pai, segui para onde a governanta disse que meu pai estaria; na sala de massagem e meditação.

–– A Charlotte é massagista? –– Questiono de sobrancelha erguida. –– Tá variando bem o cardápio hein, pai?

–– Seu insolentezinho! –– Ele levanta da maca e vem até mim, na intenção de me bater, mas eu seguro sua mão. –– Como ousa ofender a Charlotte assim? O que ela fez pra você?

–– Manda essa vagabunda sair. Eu quero conversar com o senhor sozinho. –– Eu estava sem paciência e poucas foram as vezes que eu desrespeitei meu pai assim. O resultado quase sempre é ruim.

Meu pai olha para mim, praticamente querendo me fulminar, e depois dispensa a tal Charlotte. Depois que ela sai, com a maior cara de choro, ele senta e cruza as pernas.

–– O que você tem de tão urgente pra falar comigo, seu energúmeno? Não te criei mal educado assim.

–– O senhor não está comparecendo às consultas com o doutor Gustavo. E não adianta mentir porque o próprio me disse isso, pai.

–– Sim, e o que você tem com isso? No que isso te interessa?

–– Pai, como o senhor fala isso? Eu sou seu filho, eu me preocupo com o senhor. Eu não quero que o senhor...

–– Deixa de ser imbecil, Rafael. Eu não irei morrer nem tão cedo. Ainda tenho que me lambuzar todo com a minha vingança. Largue de ser ingênuo e sentimental. Eu odeio isso em você.

Balanço a cabeça em negação não entendendo toda sua despreocupação com a saúde. Temos dinheiro o suficiente pra que ele escolha o melhor médico, o melhor hospital, o melhor tratamento, tudo do melhor para si.

E por que rejeita?

–– Eu irei abandonar nosso plano. –– Cruzo os braços. –– Se o senhor quer morrer por pura teimosia eu também posso ser teimoso e abandonar nosso plano.

Você é o meu prêmioOnde histórias criam vida. Descubra agora