Sou eu

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S/n estava sozinha como de costume em casa, vestindo calça xadrez largas e uma blusa cinza que um dia foi de seu melhor amigo, Eddie Munson, que se sacrificou pela cidade na última batalha contra Vecna.

Já fazia algumas semanas, e S/n ainda não conseguia dormir por mais de duas horas. Sua cabeça não parava. Deitada na cama, lembrava das cenas que vivenciou no Mundo Invertido, da esperança que sentiu ao botar fogo no próprio Vecna no porão, mas todo seu mundo desabou quando voltou para o trailer e encontrou o corpo sem vida e ferido de Eddie nos braços de um Dustin desesperado.

Desde então, Hawkins tem passado por coisas mais sinistras do que de costume. Chuva de cinzas que a mídia afirma com toda certeza que é neve fora de época, nuvens escuras e raios vermelhos, barulhos agoniantes em qualquer horário do dia como algum animal sendo ferido, sem falar das grandes rachaduras que apareceram pela cidade depois do terremoto que Vecna causou. Mas claro, apenas um pequeno grupo de crianças, adolescente, talvez quatro ou cinco adultos, e uma menina com super poderes sabe da verdade.

S/n começa a sentir o ar faltar em seus pulmões e sua nuca molhada de suor, afasta as cobertas e se arrasta até a cozinha. Toma seus remédios e vai para sala, liga a Tv. Procura algo pelos diversos canais.

O sinal cai, a tela fica cinza e granulado. Ela se irrita com o barulho irritante e joga uma almofada na direção da Tv, depois desliga o eletrodoméstico e esfrega o rosto, sentindo os olhos arderam.

Aquela era a vida de S/n desde que decidiu visitar Eddie em uma noite para declarar seus sentimentos verdadeiros depois de beber muita cerveja, e encontrar ele com Chrissy Cunningham. Mas ao contrário do que S/n imaginou de cara, não, eles não estavam tendo um caso.

Chrissy estava flutuando no teto de Eddie tendo seus ossos quebrados. Foi uma cena horrorosa, e que ela teve certeza de que Eddie não era responsável, mas não era isso que Hawkins pensava.

– Eu sinto tanta sua falta. – S/n disse em voz alta, olhando para o teto, suplicando para que seja lá onde Eddie estivesse agora conseguisse a escutar. – Seu idiota, eu nem consegui dizer que te amava.

S/n começou a sentir dor de cabeça, como sempre sentia quando tinha aquelas crises. Se levantou e estava subindo as escadas para tentar dormir mais uma vez quando escutou um barulho estranho, que com certeza não foi S/n que fez.

Ela estava sozinha.

Sentiu seu corpo paralisar e o pânico tomar conta de sua mente, olhou para trás e tudo que encontrou foi o escuro do corredor que levava até sua lavanderia.

Escutou mais uma vez o barulho. Vinha lá de cima.

Seus instintos diziam que ela deveria ligar imediatamente para Jim Hopper, Steve Harrington ou Nancy Wheeler. Eles saberiam o que fazer e ela sempre se sentia segura na presença deles, mas não queria parecer uma incoveniente paranóica.

Talvez fosse alarme falso, coisas da sua cabeça ou um animal correndo pelas telhas.

Ela subiu um degrau, e depois outro, até seu corpo ligar o automático, pois a mente de S/n estava nublada de medo das possibilidades do que pode achar lá em cima. Em questão de segundos, estava na frente da porta do seu corpo, encarando a maçaneta.

Ela conseguia escutar quando se aproximava o barulho de passos arrastados e uma respiração distante. S/n recuou, se dando conta de que deveria ter pego alguma coisa para se defender, foi quando a maçaneta girou e ela sentiu suas pernas tremendo.

Sua mão apalpou com dificuldade a jarra de flores que havia em cima da mesa no corredor, e foi nesse exato momento que a porta se abriu e ela visualizou uma silhueta alta e robusta se inclinando em sua direção. Sua primeira reação foi acertar o jarro de flores na direção dele.

– Ai! – S/n escutou uma voz grave e masculina.

Quando finalmente conseguiu voltar a raciocinar direito, ela tentou correr mas ao sentir dedos grossos lhe agarrando acabou tropeçando e dando o grito mais alto que podia dar no momento.

– Me larga! Seu verme! – Dizia enquanto se debatia nos braços daquele ser.

– S/n! Mas que droga, sou eu.

Aos poucos, S/n foi tentando se acalmar até conseguir focar sua visão no rosto mal iluminado que estava a centímetros de si.

Eram olhos vermelhos sangue, mas ainda sim reconhecível para a garota. Cada traço daquele rosto era familiar para ela, por mais diferente que estivesse naquele momento.

– Eddie?

Sua voz carregava um misto de emoções. Como alívio, medo, mágoa, raiva, dor...

– Sou eu, querida. – Ele repetiu abrindo um daqueles sorrisos gigantes dele, mas havia algo de diferente.

Eddie tinha presas. Como as de um vampiro.

– O que aconteceu com você? – Ela perguntou, os lábios tremendo em um bico revelando sua tentativa de segurar o choro.

S/n o puxou para um abraço apertado e quente, que ela até alguns minutos atrás imaginava que nunca mais iria sentir.

– Digamos que os demobats não me mataram...

– ... Mas também não te deixaram viver.

Eddie concordou levemente com a cabeça enquanto se afastava, dando um beijo no topo da cabeça dela.

– Eu senti tanto sua falta. Eu achei que nunca mais iria te ver. Era tanta dor, se você não estivesse agora, aqui, na minha frente, não sei se conseguiria aguentar sem você quando tudo isso acabasse.

– Não fala isso, você aguentaria sim. Você é minha heroína, você aguenta qualquer coisa.

Com um sorriso triste e os olhos avermelhados por conta do choro, ela negou com um movimento da cabeça.

– Mas todos heróis possuem suas fraquezas, e a minha é um mundo sem Eddie Munson.

S/n espalmou a mão no rosto dele, olhando para seus olhos vermelhos e depois para seu corpo que parecia maior, as roupas rasgadas deixando visíveis os ferimentos das mordidas dos demobats que se tornaram cicatrizes profundas.

Ela não iria adiar seus sentimentos de novo.

– Vamos resolver as coisas, e depois, se você quiser realizar o desejo mais profundo e humano do fundo do meu coração, poderíamos ficar juntos.

Eddie ergueu as sobrancelhas a olhando com seriedade, esperando qualquer traço de que ela estivesse brincando.

– Por mim, estaríamos juntos muito antes de O Culto de Vecna ou a minha transformação no Kas.

S/n deu uma risadinha e eles se encararam por um tempo até trocarem um selinho rápido e significativo.

Aquele ainda era seu Eddie, com presas e talvez imortal, mas ainda sim o Eddie.

Imagines | Eddie Munson [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora