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Angeline

- Oi, tá fugindo do caos? - Disse quando me aproximei o suficiente, e me sentei ao seu lado.

- Com certeza, mesmo que eles sejam um caos afinado. - Ele riu.

Ficamos em silêncio, eu não sei nem por onde começar. Que porcaria.

- Porque tá com essa cara? O que foi? - Me olhou preocupado, como sempre me conhecendo como a palma de sua mão.

Mas o que eu falo agora?

- Ah... - Tentei começar. - É que eu queria falar com você, já faz tempo que quero falar sobre isso.

Ele se virou totalmente pra mim, e eu fiz o mesmo, só pra poder olhar nos seus olhos.

- Pode falar, não vou sair até você terminar, prometo. - Colocou as suas mãos em cima dos meus joelhos, como se me colocasse mais perto. Respirei fundo antes de começar.

- Sabe, aquele dia na lanchonete? Eu não te disse a verdade. Calma. Eu te disse a verdade, eu só não disse toda a verdade. Não que aquilo não fizesse parte da verdade, sabe? Tipo, foi a verdade, só que eu omiti grande parte da verdade. Então eu não menti, entende? - Me embolei, falei rápido, e quando parei para analisar seu rosto, sua expressão levava um sorriso leve no rosto, como se entendesse.

- Continua, Angel. - Fez sinal com a cabeça.

- Antes de tudo... Antes de eu terminar tudo, falando que aquilo era o melhor pra gente e toda aquela baboseira, eu não tomei essa decisão do nada, sabe? Todos os dias, e isso era todos os dias mesmo, me falavam sobre como você estava. - Percebi que eu não estava sendo clara o suficiente quando sua sombrancelha se arqueeou - Calma.

Respirei fundo.

- Kate me ligava todos os dias, na primeira semana ela me pediu desculpa, e então suas ligações passaram a ser diárias. Ela sempre falava sobre você, sobre ter te visto no colégio, andando com seus amigos, cabisbaixo, ou triste. Ela sempre vinha com um papo de que "eu estava atrasando sua vida". Mas Kate é Kate, sabe? Então eu sabia que não dava pra levar tudo a sério. - Parei para pegar ar, vai doer. - Então liguei para Nash, porque naquele tempo vocês dois estavam muito próximos, e pra minha surpresa, ele confirmou tudo. Ele disse que você sempre reclamava sobre se sentir sozinho, sobre se sentir fechado ou até mesmo preso no relacionamento.

- Ele disse o que? - Seu sorriso se fechou, e seu olhar foi para desapontamento.

- Gilinsky eu te conhecia, eu sabia que aquilo não podia ser verdade, porque você nunca foi assim. Mas, porra, era seu melhor amigo, eu não sabia que ele ia mentir. Então isso foi consumindo, sempre que Kate dizia algo, eu ligava só pra confirmar. E ele confirmava, as vezes até falava algo pior. - Suspirei, colocando minha mão em seu rosto. - Eu juro, juro, que se fosse por ela, eu nunca acreditaria. Mas como tudo estava sendo confirmado, um tempo depois eu parei de ligar para ver se era verdade. Foi quando terminei. Eu não podia seguir achando que estava te prendendo, que você estava mal. Me doeu muito, e ainda dói.

- Porra, Angel, porque você não falou comigo? - Ele colocou sua mão em cima da minha.

- Porque se fosse verdade, você não confirmaria. Eu fiquei com medo, fiquei com medo de que você não quisesse me magoar, e por isso guardou tudo pra você. - Pausei. - Quando eu voltei, e percebi o que rolava entre Nash e Kate, vi como tinha sido idiota, mas não tinha como voltar atrás.

Ele ficou em silêncio, então eu fiquei também, não sabia se ele precisava de um tempo para raciocinar, ou algo assim.

- Depois que a gente terminou, Kate sempre vinha falar comigo sobre como você reclamava do relacionamento antes de terminar - Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. - Que filha da puta. Eu não entendo porque disso. Por que ser assim.

O silêncio voltou, e ficou por alguns minutos, eu olhava para ele, esperando algo, enquanto ele olhava pra areia, até que soltou uma risada e levantou seu olhar pra mim novamente.

Você disse que estava com medo de quebrar meu coração e olha onde estamos agora.

Seu sorriso voltou ao rosto, e isso fez meu coração aliviar, palpitar, pular, sambar, cantar.

- Chega de Kate. Chega de Nash. Chega de toda porra que não seja nós dois. Tô cansado disso. - Suas mão foram para minha nuca, e ele segurou meu rosto. 

- Isso é efeito da praia? - Perguntei com um sorriso.

- Isso é efeito você.

Ele se aproximou, eu quase não acreditei. Ficamos próximos o suficiente, mas claro, nada é fácil. Nada.

Escutamos um barulho de vidro quebrado. Não só um vidro, mas 10 deles. 

Lembra que Nate estava na churrasqueira? Lembra que eu falei que não daria certo? Assim que nos separamos pelo susto, um canto de "Nate" chegou aos nossos ouvidos.

Ele se levantou e me puxou pela mão, indo ver o que tinha acontecido com nosso maravilhoso churrasco, que agora estava jogado pela areia.

(2/2)

Fell It - 2 - JGOnde histórias criam vida. Descubra agora