QUATRO DIAS ANTES
O alarme escandaloso na cabeceira da cama apitou incessantemente durante trinta segundos antes de um braço emergir do meio das cobertas e apertar o botão na parte superior, encerrando o disparo. Infelizmente, o quarto continuou lotado pela barulheira, agora vinda da avenida principal bem ao lado do prédio, que lançava seus sons rotineiros de carros passando em alta velocidade, buzinas ecoando e a conversação vinda dos estabelecimentos abertos. Um grunhido infeliz foi solto antes de Sean Thompson tomar coragem para levantar.
A vontade era de ficar ali por mais cinco horas, mas o dever o chamava. Enrolou nas cobertas antes de colocar os pés para fora da cama e seguir em direção ao banheiro. Com os cabelos desgrenhados, iniciou sua rotina exaustiva. O plantão de duas noites atrás ainda acabado com ele e sentia que não tinha descansado nenhum pouco. Mal acreditava que já deveria se aprontar para retornar ao trabalho.
Colocou os óculos ao voltar para o quarto e sair para o restante do apartamento. Não era tão grande, mas era o suficiente para um único morador. E viver sozinho era uma beleza, uma tranquilidade que apenas era cortada pelos recorrentes barulhos vindos dos vizinhos e, claramente, do bairro agitado.
— Bom dia, Jerry — cumprimentou o gato, que passou preguiçosamente entre suas pernas depois de saltar da cama, já colocando-se diante do pote de ração. — Calma aí, comilão. Eu mal acordei. Vai dar uma mijada primeiro.
Com um miado compreensivo, o animalzinho seguiu em direção à caixa de areia, por onde ficou durante os próximos cinco minutos, concentrando-se em aliviar a bexiga. Enquanto isso, o sobrevivente ligou a TV no noticiário, que àquele horário resumia-se em dois acidentes de trânsito, sem vítimas fatais.
Assim que preparou o café da manhã e alimentou Jerry, sentou-se no balcão e pegou o celular. Nenhuma mensagem do médico de Emily tinha sido enviada durante a madrugada, o que era um alívio, mas Sean rapidamente cumprimentou o senhor e perguntou por novidades. Aquilo fazia parte de sua rotina: ter certeza de que a amiga, ainda internada, não havia causado mais problemas e rezar para que tivesse alguma melhora.
Felizmente, a correria do estágio no Hospital Psiquiátrico St. Sulpice o distraía o suficiente daquela parte horrível de sua vida. Tratar de pacientes transtornados não era bem uma forma de afastá-lo de toda a desgraça ocasionada pela insanidade de Emily Hayes, mas Sean fazia o possível para não se sobrecarregar com um caso finalizado. Como a muito tempo aconteceu, seu nome tinha voltado a rondar todos os canais de comunicação durante um longo tempo e a passar de boca em boca pelo local de trabalho. Havia aprendido a não ligar para opiniões alheias, mas ser alvo de cochichos sempre que entrava na sala dos funcionários não era uma das melhores coisas. Sentia-se uma celebridade, e não da forma boa.
Vivendo em Glenvale, a alguns longos quilômetros de Avon Lake, pensou que acabaria passando despercebido, mas aquilo claramente não aconteceu. Por sorte, os poucos amigos que tinha eram compreensíveis e deram o suporte necessário nos tempos traumáticos que se passaram após ter saído vivo do terceiro massacre, e o terapeuta que consultava toda semana fazia o possível e o impossível para melhorar seu condicionamento mental e físico. E sabendo que aquele seria um assunto que jamais sairia do conhecimento popular de Ohio e, até mesmo, de todo o país, Sean esforçava-se para esquecê-lo como podia.
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Midnight Shift
HorrorAchou que tinha acabado? Pobrezinho... Três anos após a aparente finalização dos massacres que envolveram a vida de Emily Hayes e todos os sobreviventes do Carrasco de Oakfield, um novo massacre toma forma na cidade de Glenvale, no estado de Ohio. S...