04 - memórias estilhaçadas.

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O quarto onde Rose Sammuels foi alocada era realmente um dos melhores do andar

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O quarto onde Rose Sammuels foi alocada era realmente um dos melhores do andar. Não por ser diferente ou esteticamente melhor, mas sim, por quase nunca ser usado, o que o livrava de marcas na parede, móveis quebrados ou danificados — mesmo que levemente, como arranhões causados por antigos pacientes ou peças faltando — e o comum cheiro de deterioração que era bastante frequente após alguém ficar internado ali por anos. Muitas vezes, esse era um odor que apenas os médicos e enfermeiros podiam sentir.

O próprio Sean sentia-se mais leve dentro dele. Não que toda aquela aura obscura do hospital simplesmente deixasse o recinto, mas era apenas uma sensação mais leve e livrada de grande parte das preocupações rotineiras. Rose Sammuels parecia sentir bem isso. Estava de frente para a janela. Mesmo com seus 78 anos, a senhora era bastante ativa. Apenas havia sido locomovida por uma cadeira de rodas por conta da lentidão nas pernas, mas ela tinha completo controle de sua inteira fisionomia. Sean chegou a se surpreender ao vê-la ensinando um dos enfermeiros a dançar salsa, assim que adentrou ao recinto. Chegou a se juntar à festa por alguns minutos, antes de ser obrigado a interromper a diversão para conversar com ela sobre o que realmente importava.

Olhando pela janela, que apresentava a lateral florida do hospital, seguida por uma densa floresta, Rose sequer parecia ter passado por uma situação preocupante. Sorrindo numa expressão convidativa, Sean chegava a sentir pena de ter de levá-la novamente para os momentos traumáticos das últimas noites. Porém, aquilo seria necessário para um bom estudo de tudo que ocorreu para alocá-la naquela condição. Assim, o sobrevivente sentou-se na ponta da cama.

— Linda é uma grande amiga minha — começou dizendo.

— Oh, Linda... Ela é perfeita, não? — respondeu a senhora, com sua doce voz.

Percebendo que ela não o reconhecia, Sean explicou:

— Sou Sean Thompson, Srta. Sammuels. Conheci Linda a mais ou menos dois anos.

— Sim...

— Na Universidade de Winchester.

A mais velha pensou por um instante, até assimilar a informação. Por um instante, pareceu recobrar consciência de sua vida, mesmo que nas últimas horas estivesse num perplexo estado de desenvoltura alucinada, quase que infantojuvenil, arriscava dizer.

— Aquele lugar... — murmurou ela. — Eu não gosto daquele lugar.

— Posso concordar — disse ele, com um sorriso. Não queria que a conversa fosse para um lado sombrio antes do necessário. — Mas estamos todos bem agora, certo?

Rose pensou por mais alguns instantes. Seus olhos, de repente, encheram de lágrimas.

— Não... Estamos em perigo... Oh, minha doce filha!

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