8 - o último grito.

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A funerária tinha um cheiro forte de produto de incenso e roupa lavada. Linda imaginava o quão estrita devia ser a regra de limpeza do lugar. Um longo corredor se abria logo após as portas de entrada, desencadeando em um salão aberto e de teto alto. No caminho, dois pares de portas surgiam em cada parede, todas fechadas. Pessoas estavam alocadas ao longo do corredor, sentadas nos banquinhos dispostos ou em pé, conversando com outras em tom baixo. Ninguém quebraria o silêncio fúnebre e com ar de morte.

Cumprimentando gentilmente cada um que encontrava, Linda tentava expressar suas condolências, dentro do vestido preto que provavelmente usou nos últimos três funerais em que participou. Pensou se deveria usar o chapéu que acompanhava o vestido, mas o sol não era forte naquele dia e odiava a ideia de chamar muita atenção. Manteve os cabelos castanhos e lisos, tentando cobrir o olho esbranquiçado para não causar estranhamento. A ocasião pedia discrição, e odiaria se tornar o centro das atenções.

Continuou caminhando até chegar ao salão. Ali, o som de choro se acumulava e o amontoado de pessoas se consolavam enquanto velavam o corpo dentro do caixão. Linda travou no lugar, pensando consigo mesma se seria a melhor ideia se aproximar. Durante toda a viagem, não havia constatado como seria a sensação de estar ali, diante do cadáver do amigo. Engoliu em seco, desviando os olhos para as pessoas, tentando encontrar algum meio de se distrair antes de encarar os fatos de que Sean estava morto.

Infelizmente, não pôde encontrar os pais do rapaz para prestar os pêsames e, assim, vendo-se deslocada na multidão, aproximou-se do caixão. Passo a passo, Linda sentia as mãos suando. Porém, assim que teve visão, percebeu que o mesmo estava fechado. Suspirou num misto de alívio e apreensão. Por um momento, pensou consigo mesma o que seria melhor. Talvez ver a feição de Sean ajudasse a se dar conta da situação e suprimir a informação de que ele estava mesmo morto. Mas, por outro lado, seria um trauma irremediável. Já tinha perdido amigos demais naquela longa jornada de mortes e a expressão deles jamais saíam de sua cabeça. Somar mais à lista era algo que Linda não gostaria de fazer.

Ainda assim, colocou-se por alguns minutos ao lado do caixão fechado. Imaginou o motivo daquilo. O corpo estaria em um estado tão ruim assim? O que teria acontecido a ele?

Uma imagem de Sean, impressa num painel, estava posta ao lado da mesa que sustentava o caixão, em união a um bocado de flores. Rezou consigo mesma, e em seguida começou a calcular a melhor forma de descobrir tudo o que tinha acontecido nos últimos dias.

Estava em Oakfield. O corpo foi levado de volta para a cidade natal onde todos seus parentes moravam. Tinha em mente ir para Glenvale, onde todo o desastre aconteceu, e procurar pela delegacia e testemunhas do massacre. Não que aquilo fosse concertar alguma coisa, apenas relaxaria sua mente e curiosidade. Teria aquela tarefa a ser completa antes de visitar Rose no asilo em Avon Lake. Odiaria ir a uma visita carregada de mágoas e interrogações na cabeça que com certeza a fariam não aproveitar o momento com a mãe.

— Ei, Linda — uma voz surgiu às suas costas.

A sobrevivente se virou, expressando surpresa ao mirar Hayden. A garota, em seus trajes escuros, estava séria. Linda rapidamente se dispersou do grupo de pessoas e foi ao seu encontro, abraçando-a fortemente. Ter alguém conhecido, e que tinha a mesma ligação com Sean, foi um alívio ao coração. Quando se separaram, afastaram-se para um canto.

— Como você está? — perguntou.

— Na medida do possível. Estava esperando por você. Por que demorou tanto?

— O que quer dizer?

Hayden colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.

— Eu estava lá, quando tudo aconteceu.

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