Achou que tinha acabado? Pobrezinho...
Três anos após a aparente finalização dos massacres que envolveram a vida de Emily Hayes e todos os sobreviventes do Carrasco de Oakfield, um novo massacre toma forma na cidade de Glenvale, no estado de Ohio.
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A brisa do vento adentrava pelas portas abertas da varanda, esvoaçando levemente as cortinas. Linda Sammuels estava sentada atrás da mesa de madeira, ornamentada pelos itens de sua posse, incluindo alguns arquivos, o computador, dois ou três livros e um quadro pequeno portando uma fotografia sua e de Emily Hayes, de quem jamais chegaria perto de se esquecer ou deixar de amar, independente das condições mentais que a tomavam.
Ser Reitora não era um trabalho fácil, ainda mais de uma faculdade à beira de ruir e que, querendo ou não, já se tornava o alvo favorito da boca dos sensacionalistas. Foi um longo ano após o fim do terceiro massacre, onde não apenas Linda, como o restante da equipe da Universidade de Winchester, foi obrigada a aguentar os assédios morais de dúzias de jornalistas, donos de sites de fofocas ou apenas curiosos que moravam nas proximidades, que chegavam aos montes querendo realizar uma entrevista com qualquer um deles. Tal situação chegou a fazer com que boa parte do corpo docente, das cozinheiras e dos faxineiros se demitissem, deixando Linda com uma carga ainda maior nas mãos ao ser forçada a procurar por novos candidatos à vaga — uma tarefa duplamente difícil pois estes eram poucos. Ninguém seria louco de trabalhar ali, levando em consideração o passado da instituição — tanto em relação ao medo de que uma nova onda de mortes eclodisse, quanto pelo simples receio de trabalhar na universidade mais criticada e com menor reputação dos últimos tempos.
Winchester podia ser descrita como uma montanha russa. Começou com uma longa subida, se tornando uma das faculdades mais procuradas do estado. Então, com a morte do Reitor Aaron Snell, Winchester entrou em seu estado de declínio, que perdurou por longos meses até conseguir elevar a reputação novamente. Então, feito uma bomba, o Carrasco decidiu fazer sua entrada triunfal, a levando para baixo novamente.
Felizmente, as coisas começaram a se estabilizar após algum tempo de crise. Cortando gastos, vendendo uma parte do terreno e criando alianças com empreiteiras que a anos estavam querendo pôr as mãos numa jazida de petróleo subterrânea dentro de Winchester, a sobrevivente conseguiu acumular um dinheiro e, aos poucos, a situação do local melhorou. A maior parte da leva de estudantes que tinha desistido de estudar nos últimos dois anos começava a voltar e novos interessados faziam matrículas. Obviamente, isso demandou uma exaustiva campanha publicitária e, até mesmo, reuniões de pais, mestres e jovens independentes para garantir que a segurança da universidade foi reestabelecida.
Em questão ao olho cego, acabou se acostumando com a aparência do mesmo, esbranquiçado, e não mais usava o tampão que lhe acompanhou por muitos meses após o incidente causado por Emily Hayes. Foi muita sorte não ter preciso amputá-lo. Apenas os recém-conhecidos se assustavam, mas aqueles com quem convivia diariamente sequer estranhavam mais, o que Linda agradecia. O que mais tentava fazer era restabelecer um cotidiano tranquilo no qual pudesse se afastar de todos os traumas.
Naquela tarde, após um longo telefonema com um dos líderes de marketing de Winchester, Linda matava o restante do tempo e da sede tomando um copo de limonada. No computador, conferia as últimas novidades do estado, feliz pelo fato do massacre ter saído das páginas iniciais dos sites mais importantes.
Um toque se deu na porta de vidro, chamando a atenção da Reitora, que ergueu os olhos e deixou que a secretária adentrasse o recinto.
— Aqui está o jornal de hoje — disse ela, entregando um maço de folhas acinzentadas em suas mãos. — Desculpe pela demora. O carteiro atrasou.
— Tudo bem, Dorothy. Obrigada.
A moça se retirou e Linda deixou o jornal de canto por um instante, voltando a navegar pela internet, até que, ao pegar o copo de limonada e preparar-se para mais um gole, seus olhos captaram um rosto conhecido estampado na primeira página do jornal. Os olhos arregalaram no mesmo instante, conforme trazia-o para mais perto. O coração acelerou de maneira tão repentina que temeu sofrer um desmaio.
Ali, a manchete principal vinha em letras grandes e chamativas, em união ao rosto do rapaz que tão bem conhecia e que tanto fora seu amigo nos últimos três anos.
SEAN THOMPSON, SOBREVIVENTE DE DUAS ONDAS DE MORTES,
