Único

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"Você faz o papel de uma alma com saudades de casa
Você estava contando as estrelas?
Porque você arrumou suas malas,
seu coração estava pronto para vagar."
(In My Room - Chance Peña)

[...]

Era suposto que o garoto não pudesse vê-lo; anjos da morte não são tão acessíveis, e quando são, o resultado nunca é bom. 

Mesmo que tivesse suas teorias, a dúvida permanecia. De tempos em tempos, havia algumas almas com extrema sensibilidade capazes de enxergar mais do que a maioria.

Tobirama até pensou em investigar a anomalia com outros anjos ou algum ancião; mas acabou desistindo da pergunta. O garoto iria morrer de um jeito ou de outro, que importância isso teria no final? 

— Você é o anjo da guarda mais chato que eu já vi, sabia? — o garoto perguntou puxando o cobertor até o queixo, o rosto voltado em direção à janela aberta. — Fica aí paradão.

Seu trabalho era ficar ali no canto, paradão, esperando; então não havia nada que pudesse dizer em sua defesa. 

O trabalho poderia ser chato às vezes, mas era necessário. 

— A madre disse que os anjos da guarda são os mais legais, tiram a gente de problemas, mas eu nem tive a chance de te dar dor de cabeça ainda — Izuna disse e deu uma risada fraca, mas a piada não era tão engraçada e os seus olhos se perderam através da noite estrelada. — Isso não é justo. Eu só tenho 19.

— Não existe idade pra isso — ele respondeu antes de se dar conta do que estava falando, e Izuna o encarou atentamente, rindo da sua falta de empatia. 

Ele ria bastante para uma pessoa que não tinha forças nem para ficar em pé, ou se alimentar sozinho. No fundo, queria ser misericordioso, mas por algum motivo, continuava esperando. 

Esteve esperando por longos 5 anos desde o acidente no orfanato. Tobirama estava fora do continente quando o nome do garoto apareceu em seu pulso, notificando uma morte de alma. Houve um deslizamento no orfanato em que ele vivia, uma das paredes havia desabado em cima dele durante a fuga, os irmãos o deixaram para trás. 

Izuna deveria ter morrido ali, pelo menos foi o que o Livro predeterminou, mas o anjo da guarda que o acompanhava interviu pouco antes de Tobirama chegar.

De todas as classes de anjos, os que mais detestava eram os guardiões porque estavam sempre interferindo no seu trabalho, tendo pena, dando chances e chances como se pudessem mudar alguma coisa sobre o destino. 

Apesar da graça, a pré-determinação sempre foi absoluta.

Enfrentar anjos da morte não era algo recomendável independente da casta, isso até alguns arcanjos já haviam entendido. Aquele pequeno anjo da guarda insolente não pôde resistir contra ele, fugiu, e quando Tobirama se aproximou para levar o garoto, encontrou uma alma vivente. 

Ele sobreviveu. E olhando para Tobirama ali, segurando as colunas que haviam caído sobre seu corpo, teve a pior conclusão que poderia ter: 

"Você é o meu anjo da guarda?". 

Não. O anjo da guarda dele fugiu assim que Tobirama ameaçou arrancar suas asas. Um verdadeiro exemplo de guardião.

Ele deveria ter encarado o garoto e dito a verdade, não era um guardião, na verdade, estava bem longe disso; mas antes de falar qualquer coisa, percebeu que aquela alma não era tão desconhecida assim. 

Olhando bem para ele, e consultando o nome em seu pulso outra vez, deu-se conta que aquela maldita alma já havia morrido mais vezes do que poderia lembrar.

Sonhe (tobiizu)Onde histórias criam vida. Descubra agora