por que?

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Pov s/n

É tudo tão estranho, tão monótono, tão quieto.

Eu comecei a viver no modo automático, não ligando mais pra nada, não sentindo mais nada.

Sempre a mesma rotina. A que eu tenho tido nesses últimos três meses.

Eu não pude sentir a dor, não me deram a oportunidade de sentir, de me lamentar.

Todos me reprimem, toda vez que eu tento sentir algo.

Eles nunca me deixaram chorar, sentir pela minha perda.

"Ela não gostaria de te ver chorando!", "Ela está em um lugar melhor agora!", "Foi melhor assim, ela estava sofrendo muito!"

Por que? Por que eu não posso simplesmente chorar, sentir toda a dor que está guardado no meu peito? Por que eu tenho que ser forte o tempo todo?

Eu não aguento mais isso.

Minha vida se tornou preto e branco, tudo perdeu a cor.

Mais um dia de aula não é mesmo?

Mais uma vez eu apenas me escondi debaixo do capuz de meu moletom, não querendo que ninguém visse as olheiras embaixo de meus olhos.

Ninguém precisa saber que não tenho dormido direito.

Logo que chego naquela escola, vou direto para meu armário, para poder pegar o material para a minha aula.

O sinal tocou, e todos começaram a ir para suas aulas.

Pela primeira vez naqueles meses, eu parei em frente aquele armário específico.

A porta de metal estava com várias fotos dela, cartinhas de despedidas, e flores pelo chão. Uma homenagem.

Eu fui tão reprimida nesses últimos tempos, que eu nem se quer parei ali naquele armário.

Eu não consegui chorar em seu velório, não pude ficar perto do caixão, ninguém me deixou chegar perto.

Olhando aquela foto, eu comecei a me lembrar de vários de nossos momentos. Todos onde eu me pegava admirando o ruivo de seus cabelos, e o verde de seus olhos.

FLASHBACK'S

Era primeiro dia de aula do primeiro ano do ensino médio, e eu estava na casa da minha melhor amiga, me arrumando junto dela para aquele dia.

– você acha que esse ano Steve repara em mim?– Natasha perguntou enquanto eu fazia a sua maquiagem.

– eu não sei Nat, ele pode gostar de outra pessoa, por isso nunca falou com você. Você é linda, perfeita, todos adorariam ter você como namorada.– sorri para ela.

– você acha?– eu assenti.– mas eu espero que ele me note esse ano.– sorriu de leve enquanto colocava suas pulseiras.

[...]

Já estávamos no terceiro bimestre, e Natasha estava namorando com Steve.

Aquele ano ele havia notado ela.

Me lembro que aquele relacionamento não durou muito, em menos de dois meses já haviam terminado.

Eu tive que apoiar a minha amiga naquele momento, ser seu ombro amigo, para que ela pudesse chorar.

Apoie ela em toda aquela fase se superação do ex, mesmo com dor, eu ajudei.

Porque eu era uma idiota que havia se apaixonado pela melhor amiga.

Meus pais não sabia de nada, eu nunca havia mencionado gostar de garotas, mas eles já perceberam, já que eu nunca tinha falado sobre garotos antes.

No fim ela superou, não era um amor de verdade, não era paixão.

[...]

Natasha namorou com outros caras até o final do segundo ano.

Aquilo me machucava tanto, mas eu não podia dizer nada, eu não podia perder a amizade dela.

Não podia perde-la.

[...]

Quase no final do segundo ano, Natasha começou a ter problemas em casa.

Seus pais estavam pensando em se separar, por conta de muitas brigas. Eles realmente se separaram.

Melina voltou para Rússia, seu país Natal, e levou Yelena junto, enquanto a ruiva ficou com Alexei nos Estados Unidos.

Eu percebi que ela estava se afastando.

Desde o início do ensino médio, Natasha sofria bullying por ser ruiva, algo que eu achava ridículo, já que amava seus cabelos.

Eu percebi o quando ela estava diferente, o quão distante e fria ela estava, em como ela havia mudado.

Ela não era mais aquela Natasha animada que eu conhecia.

[...]

Metade do terceiro ano.

Eu queria dizer o que sentia, e eu já estava pronta para isso.

Aquele dia, após insistir tanto, Natasha aceitou ver um filme comigo em minha casa.

Estávamos confortável em meu quarto, sentadas com grandes travesseiros nas costas.

Eu ia dizer naquele momento, e poderia ser meio impulsivo, mas eu precisava dizer.

– Natasha!– chamei a atenção da ruiva.

A garota virou o rosto para me olhar, e fez um barulho nasal, para que eu dissesse o que queria.

– eu estou apaixonada por você!– soltei na mesma hora.

A Romanoff ficou paralisada por um tempo, me olhando, investigando meu rosto.

Meu coração batia tão forte, parecia que ia explodir de tão nervosa que eu estava.

– não está!– finalmente falou.

– como assim?– questionei confusa.

– você não está apaixonada por mim.

– sim, eu estou!– engoli seco.– eu sei que você é minha melhor amiga, e que não é certo eu sentir isso, mas eu sinto, e eu quero você.– tomei coragem para dizer.

– não! Você não quer!– negou.– você não pode!

Então ela se levantou e correu para fora do meu quarto.

Corri atrás dela, mas ela já havia ido embora.

Natasha já tinha planejado, ela já tinha tudo pronto. A data, a hora, as cartas, tudo.

Se eu soubesse eu teria impedido.

FLASHBACK'S OFF


"Depressão não é frescura!". "Não romantize o suicídio!".

Aquilo era o que havia escrito nos cartazes que foram postos ali a dois meses.

Tudo aquilo, após uma aluna se suicidar.

Natasha era aquela aluna.

Eu nunca vou me perdoar por não ter ajudado ela, por não ter percebi que havia algo estranho.

Se eu pudesse, eu mudava tudo.

One-shots Natasha Romanoff Onde histórias criam vida. Descubra agora