𝑉𝑖𝑎𝑔𝑒𝑚 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑎𝑙

𝙲𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝚇- 𝙰𝚝𝚛𝚊́𝚜 𝚍𝚊 𝚙𝚘𝚛𝚝𝚊

  Corri para a porta, eu precisava achar o banheiro.
  - Bom dia, a senhora poderia me informar onde fica o banheiro?
  - Bom dia, onde fica o banheiro?
  - O senhor sabe me dizer onde fica o banheiro?
  Ninguém me respondia, e quando me respondiam, me mandavam para outras salas, era como se fosse um labirinto. Não tinha fim. Paredes velhas de madeira, tudo parecia que ia desmoronar, e ninguém lá parecia ser muito gentil. Todos corriam de um lado pro outro me deixando mais confusa, eu precisava de respostas.
  Parei e sentei-me em uma pedra, o chão era apenas concreto, era algo realmente triste, era a parte triste daquele lugar.
  - Jovem... Você quer ir ao banheiro?
  Olhei para um canto perto de uma das portas, uma senhora de saias rasgadas -muito feia, de nariz enorme, unhas amareladas, certamente uma bruxa de filmes infantis- descascava um alimento.
  - Sim, a senhora sabe onde é o banheiro?
  Aquela senhora ficou ainda mais feia rindo.
  - Não, eu nunca vi o banheiro daqui.
  - Há quanto tempo a senhora está aqui?
  - Senhora? - ela riu - Você me vê assim? - riu novamente ficando ainda mais feia - Me vê como uma senhora?
  - Desculpe eu...
  - Quantos anos acha que eu tenho?
  - Oitenta?
  - Tudo isso? Aquela bruaca foi malvada - a senhora riu e parou de falar- Oito.
  - Que?
  - Oito, você respondeu a minha pergunta, respondendo a sua, oito.
  - Você está há oito dias aqui?
  - Dias?
  - Anos?
  - Das vezes que eu me lembro... Eu tive vários apagões, e é normal isso acontecer por aqui. Eu perdi a noção do tempo.
  - O que? O que tem aqui?
  - Eu não sei. Mas espero que você não fique o suficiente para descobrir.
  - Como eu faço pra sair daqui?
  - Você só poderá sair com um novato, e apenas se nem você e nem a pessoa comeu da comida daqui.
  - A senhora já comeu?
  - Não minha querida, esse nariz já era meu mesmo.
  - Como assim nariz?
  - Se ficar tempo o suficiente, perceberá, que quem come da comida daqui, tem o nariz enorme. É para marcar quem já comeu.
  - Está cheio de pessoas novas lá! Vamos! A senhora pode fugir, é a sua chance!
  Então a senhora olhou para baixo, mostrando-me uma corrente que prendia seu pé.
  - Eu já tentei.
  - Mas... eu posso ...
  - Se você ficar muito tempo por aqui, eles perceberão! Vai! Você não tem o nariz grande, eles sabem que você não comeu! Você não tem muito tempo!
  Eu corri para fora, tentei parecer tranquila, mas o medo de ficar para sempre naquele lugar, era enorme.
  Então senti uma mão puxando meu braço.