A Caça e o Caçador

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Era uma tarde sombria e macabra, a luz do sol mal conseguia penetrar a densa névoa que pairava sobre a cidade esquecida. O vento sussurrava misteriosamente, ecoando pelos becos estreitos e sinistros. A chuva havia deixado suas marcas, transformando as ruas não ladrilhadas em verdadeiros labirintos de lama e poças, onde os reflexos das luzes fracas criavam visões distorcidas como espelhos côncavos. Figuras solitárias, envoltas em roupas desgastadas e sem estilo, perambulavam pelas vias enlameadas. Suas vestimentas, em tons terrosos, imitavam a própria palidez da cidade decadente. Tais almas esquecidas quase se fundiam com as paredes cobertas de musgo e os prédios abandonados, como se fossem apenas espectros desvanecendo na paisagem lúgubre. No entanto, o silêncio mórbido foi abruptamente interrompido por um homem gordo, vestindo uma indumentária composta por trapos, amarrados desajeitadamente com uma corda na cintura, e uma calça caramelo remendada com fios desgastados. Seu rosto transpirava desespero, seus olhos arregalados refletiam o mais puro pavor.

— "Corram! Eles estão vindo!", bradou ele aos céus, sua voz soando rouca e trêmula. 

O eco das palavras desesperadas ecoou pelas ruas desoladas, alertando os moradores atemorizados que se esconderam em suas casas escuras e vielas obscuras. Como ratos procurando refúgio nas sombras, eles buscavam proteção contra algo desconhecido e ameaçador.

O homem gordo, ofegante, lançou-se desesperadamente até uma carroça modesta carregada de legumes pálidos e encharcados pela chuva. Seus passos pesados encontravam resistência na lama, e cada inspiração era ofuscada pela névoa úmida. Mesmo assim, sua determinação em sobreviver o impulsionava adiante. A carcaça de madeira rangia sob a pressão do homem, enquanto ele diminuía a velocidade e, com olhos ansiosos, olhava para trás. Seu corpo trêmulo e os soluços intermitentes contavam a história de um encontro aterrador.

— "Vo-você não vai me pegar", gaguejou ele, as palavras mal articuladas pela agitação crescente. 

Uma presença oculta e sombria parecia pairar ao seu redor, e o silêncio era quase palpável. O homem sentia os pelos de sua nuca eriçarem-se, como se uma entidade sinistra o observasse, pronta para atacar a qualquer momento.

No entanto, o que quer que o perseguisse permanecia oculto nas sombras, apenas observando, esperando o momento certo para revelar-se e mergulhar a cidade em um terror inimaginável. O homem compreendeu que não poderia enfrentar o desconhecido sozinho. Seu único pensamento era avisar os outros, alertar os incautos sobre o perigo iminente. 

Ele sabia que somente juntos teriam uma chance de sobreviver a essa sinistra e sombria aventura que se desenrolava perante seus olhos atemorizados. Assim, com o coração martelando em seu peito, ele ergueu-se da carroça e partiu em silêncio em direção ao centro da cidade, onde a esperança de ajuda ainda residia, mesmo que envolta em um véu tênue de incerteza e medo. 

O homem, ofegante e atordoado, puxou a carroça de legumes com todas as suas forças, despejando uma quantidade considerável de vísceras de animais no chão enlameado. Mesmo após sua fuga frenética, a exaustão finalmente alcançou-o, e ele soltou bufos rápidos e frequentes, como se seus pulmões e coração estivessem prestes a explodir. Tentando escapar mais uma vez e aproveitar a "distração" proporcionada pela carroça de legumes gordurosos afundados na lama, ele fez um movimento rápido, porém, escorregou em uma poça d'água formada no sulco criado pela carroça.

Desesperado, o homem se debateu no lamaçal, suplicando para si mesmo que aquilo não estivesse acontecendo. Tentou se levantar a todo custo, mas seus esforços foram atrapalhados por sua própria aflição. Mal conseguia encontrar uma posição que lhe proporcionasse o mínimo de equilíbrio. Suas mãos se moviam apavoradas, buscando algo a que se agarrar, até que encontrou um pedaço de tecido rígido, talvez couro, não tinha tempo para pensar, apenas se agarrou a ele com força.

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