O Caminho Para O Sul

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Demikas e Sven estavam a caminho do sul, seguindo as informações que obtiveram no vilarejo de Bravuque sobre o paradeiro do Teurgo que procuravam. A jornada era longa e perigosa, mas a esperança de encontrar Syrus mantinha-os firmes em seu objetivo.

Após horas de caminhada, o sol começou a se pôr, pintando o céu com cores quentes e vivas que logo deram lugar ao crepúsculo. Os últimos raios de luz brilhavam no horizonte, e a escuridão gradualmente engolia o cenário. O vento soprava suavemente, balançando as folhas das árvores ao redor.

Demikas, com sua experiência em viagens e sobrevivência, logo encontrou uma clareira cercada por árvores para montarem o acampamento. Utilizando pedras ao redor da fogueira para evitar que o fogo se espalhasse, ele preparou cuidadosamente a lenha e acendeu a fogueira. O crepitar das chamas ecoava na noite, criando um ambiente acolhedor em meio à escuridão que os cercava.

Sentados em troncos caídos ao redor do fogo, Sven parecia preocupado, suas sobrancelhas franzidas revelavam a angústia que ele carregava em seu coração. As sombras da noite dançavam em seu rosto tenso.

— "Demikas, acha que realmente encontraremos meu irmão?" — perguntou Sven com tristeza na voz.

Demikas olhou para Sven com um olhar tranquilo e colocou a mão no ombro do jovem.

— "Acredito que sim, Sven. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para encontrá-lo. E, se ele é inocente, tenho certeza de que terá uma explicação para tudo o que aconteceu."

Sven suspirou, olhando para o fogo com melancolia.

— "É que... Eu sinto tanta falta dele. Nós éramos inseparáveis desde crianças. Eu nunca imaginei que um dia estaríamos assim, separados... Ele é meu irmão, Demikas, e sempre cuidamos um do outro."

Demikas baixou os olhos, entendendo a dor de Sven.

— "Eu sei, meu jovem. E sei o quanto você se preocupa com ele. Eu também o vejo como um filho, afinal, cuidei de vocês desde que eram apenas crianças órfãs nas ruas de Virgonia.

Sven olhou para Demikas, seus olhos umedecidos.

— "Você sempre foi como um pai para nós. Nos ensinou a lutar, nos protegeu, nos guiou... E agora, meu irmão precisa de ajuda, e eu sinto que não posso fazer o suficiente por ele."

Demikas balançou a cabeça suavemente.

— "Sven, às vezes, não podemos evitar que a vida nos coloque em situações difíceis. Mas saiba que estamos juntos nessa jornada, e faremos o possível para trazer Syrus de volta para casa."

Ainda olhando para as chamas dançantes, Sven enxugou uma lágrima solitária que escorreu por sua bochecha. Ele admirava a calma de Demikas, seu mentor e protetor, mas sabia que mesmo ele tinha suas fraquezas e preocupações.

Demikas, sentindo a tristeza que tomava conta do coração de Sven, decidiu compartilhar uma história de seu próprio passado, uma lembrança que o perseguia.

— "Sabe, Sven, você mencionou que fui como um pai para você e Syrus. Mas nem sempre fui assim. Há muito tempo, fui um homem de coração frio e egoísta, que vivia apenas para si mesmo. Eu não me importava com ninguém além de mim mesmo, e isso me trouxe muita solidão.

Sven olhou para Demikas, surpreso com essa revelação. Ele nunca imaginou que seu mentor tivesse um passado tão sombrio.

Demikas continuou:

— "Foi somente quando encontrei você e Syrus, dois jovens órfãos desamparados, que minha vida começou a mudar. Ver o vínculo entre vocês e o amor incondicional que compartilhavam tocou meu coração de uma forma que eu nunca havia sentido antes. Eu percebi que precisava mudar, que precisava me tornar alguém melhor para cuidar de vocês."

As chamas da fogueira dançavam, refletindo nos olhos de Demikas enquanto ele mergulhava em suas memórias.

— "A partir desse momento, fiz o meu melhor para ser o pai, mentor e protetor que vocês mereciam. E, ao longo dos anos, aprendi o verdadeiro significado do amor e da família. Vocês me ensinaram isso."

Sven ouvia atentamente, sua expressão agora era de compreensão e carinho.

— "Demikas, você é um homem incrível. Eu e Syrus somos gratos por tudo o que fez por nós. E, mesmo que a vida tenha nos afastado agora, sei que nunca nos abandonará."

Demikas sorriu, reconfortado pelas palavras de Sven.

— "E eu prometo que farei o possível para encontrar Syrus e trazê-lo de volta para casa, onde ele pertence."

E assim, na luz quente da fogueira, Demikas e Sven se abraçaram, compartilhando o laço de pai e filho que haviam construído ao longo dos anos. As estrelas cintilavam no céu noturno, testemunhando a jornada que estava apenas começando.

Demikas tinha muito mais a contar sobre seu passado, e a noite estava apenas começando. O fogo continuou a queimar enquanto eles compartilhavam histórias, esperança e determinação para enfrentar o desconhecido que os aguardava. Juntos, eles seguiriam em direção ao sul, em busca do Teurgo e da verdade sobre a acusação que recaía sobre Syrus. E, em meio às adversidades e desafios, a força de sua amizade e amor mútuo os guiaria na jornada em busca da verdade e da justiça.

A noite foi passando até que chegou o momento. Demikas encarou a fogueira por um momento, como se buscasse forças para compartilhar sua história. Ele fechou os olhos por um instante e começou a narrar sua infância dolorosa, como se voltasse no tempo.

— "Minha vida começou em Brivia, um feudo sombrio situado no noroeste do continente de Verturia, próximo à grandiosa "capital do mundo", Nova-Exitus. Mas minha história de dor inicia-se antes mesmo de eu nascer."

As chamas da fogueira pareciam dançar em sincronia com a narrativa de Demikas, enquanto ele prosseguia.

— "Minha mãe foi uma vítima das atrocidades cometidas pelos invasores do feudo rival, o Feudo de Elia. Ela foi violentada e abandonada quando a cavalaria real chegou para combater os invasores. Descobriu sua gravidez somente alguns meses depois, quando foi morar com sua tia. No entanto, ela não conseguia falar e comia apenas o mínimo necessário. O nojo que sentia de seu próprio corpo e do bebê que carregava... de mim.. era avassalador."

Com um olhar sombrio, Demikas continuou a desvendar seu passado doloroso.

— "Minha mãe chegou a tentar tirar a própria vida, mas a presença do bebê dentro dela a impediu de seguir adiante. Sua tia, em meio a sermões, aconselhava que não seria justo acabar com a vida da criança, pois ela não tinha culpa dos acontecimentos e que isso iria contra os desígnios do deus da justiça, Heavens."

Os olhos de Demikas se encheram de tristeza ao recordar os eventos que moldaram sua infância.

— "Assim, nasci em meio a um ambiente tóxico e desprovido de amor. Minha mãe nunca demonstrou qualquer afeto por mim, mal me alimentava com seu leite. Era minha tia quem se encarregava de me cuidar e me alimentar com o leite de uma cabra quando sentia fome."

A vida de Demikas tomou um rumo sombrio à medida que ele crescia, e a necessidade o levou a tomar decisões difíceis.

— "Com apenas 10 anos, eu já me tornara um ladrão. Assaltava caravanas de mascates que se dirigiam à cidade de Nier, roubando alimentos para sobreviver e sustentar minha mãe negligente. Era uma forma de sobrevivência em meio à pobreza que nos cercava."

Um momento fatídico mudaria tudo. Ao retornar para casa em um dia como qualquer outro, Demikas encontrou uma cena de desolação.

— "E então, em um dia sombrio, ao voltar para casa, me deparei com a vila em chamas. Algo terrível havia invadido o lugar. Deixei cair o saco de estopa com o meu saque no chão enquanto testemunhava a destruição à minha frente."

O brilho das chamas da fogueira refletia nos olhos de Demikas, evidenciando a dor que ele carregava em seu coração desde aquele dia. Ele agora estava pronto para compartilhar o restante de sua história sombria, uma história que o levaria a caminhos desconhecidos e a um destino que ele ainda estava por descobrir.

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