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No segundo dia de aula da semana depois da viagem para a casa de praia tive aula com Gojo. Novamente ignorei suas falas e foquei em tentar fazer exercícios bestas de matemática que eu precisava para nota.

Mas, ainda assim, sua voz acabou ecoando no fundo de linha cabeça. Em específico a parte onde falava do show de talentos. Eu sabia que em alguma hora alguém me forcaria a participar, mas não estava com real ânimo para lutar contra qualquer pessoa. Só que, querendo ou não, o peso das baquetas em minhas mãos trazia um peso no meu peito muito maior.

Minha mãe sempre fora apaixonada por música. Isso é algo presente em minha vida desde que me entendo por gente. Ela queria montar uma banda, ela cantava e tocava guitarra enquanto eu me encarregava da bateria e Sukuna do baixo. Ele obviamente largou o instrumento assim que fez idade o suficiente para ter poder de escolha, mas eu continuei. Algo nas batidas leves e fortes me dava a sensação de formigamento nas entranhas, algo meio inexplicável e ansioso por ser liberado.

E ai ela morreu, e tudo que senti tocando bateria era que algo estava errado. Pegar em um par de baquetas parecia como pegar lápis mal apontados e ter que escrever uma letra fina com eles. Meio frustrante e dificultoso. Era assim que eu me via, ainda agora. Mesmo naquele dia nessa mesma sala, eu ainda tinha a impressão de que tudo estava errado. Perdi o jeito, essa é a verdade.

Ainda assim, eu não me importaria de tocar nesse show idiota, afinal, eu sei que sou bom, só não sou adepto a fazer nada que me deixe em profunda agonia.

De qualquer maneira, tenho que parar de devanear e pensar sobre o que me faz ou não bem por conta do platinado parar em minha frente, ambas mãos apoiadas na cintura.

– Itadori... – ele começa.

– Gojo.

– Você está sonhando em minha classe, não está?

– Qual o problema nisso?

– Acabei de falar algo muito importante. Imagino que não tenha ouvido.

– Não, desculpa.

Ele suspira, convencido.

– Eu sabia. Você precisa decidir se vai tocar ou não no show, estou dando pontos extras em teoria musical, artes e geografia para quem participar.

– Por que geografia? Não tem nada haver com música, você sabe.

– Eu perguntei pro professor e ele concordou. Agora, você vai participar ou não?

Olho para os lados, vendo alguns alunos me olhando, outros fofocando entre si. Não existe ninguém nessa turma com quem eu gostaria de tocar junto nesse show, e não preciso de pontos extras em artes.

– Não.

Ele parece decepcionado quando murmura um "então tá bom" e sai, voltando para dar aula.

Não posso fazer muito sobre seu desânimo, sei que nem que a vaca tussa eu vou participar de algo tão íntimo. Pelo menos eu vejo assim, músicas são declarações, não deveriam ser tocadas sem paixão, e eu definitivamente não vou tocar nada com paixão agora.

Eu teria que sentir muitas emoções para isso e definitivamente não estou afim de me humilhar a esse ponto.

Assim que o sinal bate novamente eu respiro fundo pela primeira vez na aula. Não havia notado o quão tenso estava até sentir as mãos leves de Nobara em meus ombros.

– Tá tudo bem? – ela pergunta.

– Uhum, só estou meio cansado.

Ela não compra muito isso mas não insiste. Isso eu gosto em Nobara, seu jeito de não me deixar desconfortável.

Kugisaki começa a falar sobre bobeiras de nossa aula, hora xingando todos os professores, hora xingando os alunos. Essa menina só sabe fofocar, sério.

Me encolho em meu banco e ouço por cima tudo o que fala até focar em algo que me chama a atenção.

–... E vai ser esse final de semana. Legal, né? Nem sei que roupa usar.

– Epa, peraí, o que disse?

Ela revira seus olhos com os cílios enormes, dramatizando minha falta de atenção.

– Festa na casa do Panda, burro! Ele chamou a todos, vai ser nesse sábado. Quero ir de dourado, o que acha?

– Melhor vermelho, e você tem certeza que ele nos chamou?

– Óbvio, ele especificamente falou "a escola inteira, inclusive aquele anêmona de cabelo rosa que tem
um irmão gêmeo tatuado".

– Ha, ha. Obrigada pela parte que me toca.

– Por nada. Você vai?

– Devo ir se você for.

– Então vamos! – ela exclama, quase pulando.

Nobara ama festas. Isso está escrito em sua testa e é de conhecimento que ela é a famosa "topa tudo". Assim, acabo sempre indo também, mas eu na real até curto.

Ficar com amigos e beber, só poderia ficar melhor se todos fossem um pouco mais educados. Conheço bem festas de escola e não é anormal ter sempre alguém te encoxando ou te empurrando. Chega a ser chato pra caralho, mas não acho que muita gente se importa. Eu mesmo só me importo quando o fazem com Nobs.

De qualquer maneira, a ruiva procede em contar detalhe por detalhe como ela espera que a peça seja, meio que me deixando louca mas também aliviado por ela não precisar me incluir na conversa. Assim, rabisco as bordar de meu caderno enquanto ouço por cima o que a menina fala em minha frente.

Isso até o professor de matemática entrar, gritando que queria passar deveres e mais deveres.

Tento me concentrar na aula, tenho uma paixão secreta por essa matéria e em dias como esse, quando estou melancólico, prefiro fazer coisas que me afastem de meus pensamentos.

Isso funciona por alguns momentos, e pelo menos esse pouco já foi o suficiente para mim.

Tento ignorar a sensação enjoada em minha garganta. Relembrar de certas coisas sempre me faz mal, querendo ou não.

Respiro fundo. Não é nem de tarde ainda.

Meus ombros se cansam de tanto escrever e a tensão neles aumenta enquanto vou para casa.

Pelo resto da aula nada aconteceu, mas quando andei até meu portão percebi algo que me abismou um pouco.

Na realidade, não percebi, mas lembrei.

Falta um dia para o aniversário da morte de minha mãe.

Faz mais sentido o porquê de minha melancolia hoje, mas ainda me sinto mal por não a ter linkado com o dia que eu mais detesto o ano todo.

Odeio pensar sobre isso. Ainda sinto sua falta e nada a faz passar, ano após ano, dia após dia.

Paro por um segundo antes de abrir a porta quando o lembro.

Tudo isso vai ser complicado demais.

~
oii, perdão pela att atrasada!! vem mto mais por ai, não briguem comigo por favooor <3

Uncover • ItafushiOnde histórias criam vida. Descubra agora