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Eu não estava exatamente programando como iria abordar o assunto com Fushiguro, a não ser que idealizar todas as suas falas seja um jeito de programar. Se sim, então eu estava programando muito. Pra caralho.

A expectativa de o encontrar fazia minhas palmas suarem. E meu coração palpitar de preocupação.

Não tive notícias dele desde que saí do hospital, e sinceramente isso estava me matando.

A cadeira da sala de aula parecia pequena em meu corpo desconfortável, e isso era tão notável que Gojo, o substituto, chegou perto de mim.

– Tudo ok por aí? – sua fala sorridente não é um alívio hoje. Seco as mãos na calça e afirmo com a cabeça – Hmm... Vou te deixar, então.

Ele faz menção de se afastar, mas antes de conseguir abrir meio metro entre nós o mesmo gira a cabeça, me olhando de canto de olho.

– Vi sua inscrição pro show. Uncover, huh? Estou com altas expectativas – e voltou a dar aula.

Se eu já estava nervoso antes, fiquei um poço de ansiedade. Altas expectativas?! Nem eu tinha expectativa de porra nenhuma! Ainda nem tinha falado com Megumi!

Certo. Isso ia me matar.

Levanto alegando que ia ao banheiro e dou uma fuga até o pátio, me sentando embaixo de uma árvore completamente cheia de folhas cor-de-rosa. Respiro fundo, tentando me acalmar.

Agora seria o momento perfeito para ligar para Nobara caso a mesma não tivesse me abandonado para passar um dia com seus avós. E eu jamais atrapalharia uma ocasião tão rara dessas.

Meus olhos se fecham enquanto meus dedos afrouxam o tecido da calça que eu apertava.

Estou fudido. Esse garoto vai ser minha perdição.

– Fushiguro... – murmuro, ainda respirando fundo.

– Oi?

Levanto na velocidade da luz.

Parece miragem, mas não, é simplesmente o menino desmaiado de dois dias atrás me encarando com olhos curiosos e sobrancelhas franzidas.

– O que você tá fazendo aqui? – pergunto, chegando perto e examinando seu corpo, levantando seus braços e procurando por qualquer sinal de mal-estar – Você deveria estar de repouso! Volta pra casa!

– Ei, ei, ei! Me solta! – ele puxa os braços com força e se desfaz do meu toque, e eu fico ali parado, com cara de otário – Estou bem, ok? Vivo e inteiro. Não posso faltar aula pra sempre. Mas e você? Estava sonhando comigo?

Sua sobrancelha arqueada me pega nos nervos, e sei que fico com uma cara boba enquanto assimilo o que ele estava dando a entender.

– Morre, Fushiguro. Eu só estava preocupado por ter sido o motivo do seu desmaio, mas agora que está bem posso voltar a dar zero fodas pra você. – Cruzo os braços e empino meu nariz. Ele ri levemente de minha pose e rebate:

– Não foi isso que você falou no hospital...

– Eu estava emocionalmente instável, ok? Você morreu na minha frente!

– Eu tô vivo.

– Que se foda! Eu pensei que tinha morrido!

Ele tenta segurar uma risada mas acaba deixando escapar. Não me seguro e também rio. Finalmente ele está bem...

Isso me lembra o quesito da banda. E de como eu preferiria fazer qualquer outra coisa sem ser contar para ele.

Uncover • ItafushiOnde histórias criam vida. Descubra agora