bicho papão (único)

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Eddie estava cansado, extremamente cansado, não dormia a semanas, e era tudo culpa dos pesadelos recorrentes que tinha, que assombravam sua mente e o faziam acordar aos berros. Tudo ficou mais difícil assim que seu tio teve que ir fazer uma conferência para fora do país, e o deixando no trailer sozinho, por longos dois meses. Quando Wayne estava em casa, ele acalmava Munson, o fazia parar de chorar e de tremer, e então dormia na cama do sobrinho com ele, como uma forma de proteção, já que o mesmo pedia. Mas a uma semana, o adulto precisou sair, e o cacheado mal conseguia dormir, sem acordar no meio da noite aos prantos, suado e tremendo. Ele se encolhia no canto da cama, e chorava até dar o horário da sua escola. Então passava uma maquiagem fraca para esconder as olheiras, e ia para aquele lugar que tanto odiava.

Sabia que era preocupante, mas suas economias mal davam para colocar comida em casa, quem diria pagar algum tipo de psicólogo. No fundo, sabia que a psicóloga da escola não ajudava, ela não entendia, e não tentava entender, ela apenas prescrevia remédios para insônia, que nunca funcionavam. No seu novo trabalho, como caixa de mercado pequeno, o dinheiro dava para pagar as contas do trailer, e as vezes conseguia comprar algo que não fosse pão, já não aguentava mais comer apenas pão. Ele aguentaria pelo menos até a formatura do colégio, e então arrumaria um emprego de verdade.

Mas, tirando a ansiedade, a insônia, os problemas com dinheiro, o cansaço, e a depressão, ele estava bem. Estava namorando um jogador de basquete um tanto quanto mimado, escondido, porque sabia que ambos apanhariam como se fossem aberrações, por isso. Preferiram esconder, até que o mundo estivesse um pouco menos caótico. Steve Harrington, seu namorado que era o total oposto de si, e ainda sim se amavam. Steve era o típico nerd enrustido que paga de mimado, que no fundo só imagina seu futuro com alguém que ama em uma casa repleta de crianças brincando e um cachorro de porte grande no quintal. Já Eddie Munson, era um metaleiro metido à jogos de rpg e drogas, também tinha visões para o futuro antigamente, que era ele sozinho com 30 anos, trabalhando em algum emprego de merda para sustentar uma vida de merda, o problema era que, assim que conheceu Harrington, começou a partilhar os mesmo desejos que ele, uma família.

De qualquer forma, por mais íntimos que fossem, Eddie não gostava de contar nada sobre o seu passado para Steve, sobre o porquê de precisar vir morar a força com o seu tio, ou se quer comentava algo sobre seus pais. O metaleiro deixava bem claro que odiava tocar nos assuntos familiares, e qualquer tipo de coisa que envolvesse uma ansiedade ou insegurança sua. Steve, por mais preocupado que ficasse, aceitava e não o pressionava. No fundo, achava que nem era algo tão grave, afinal, Edward andava por aí com o nariz empinado, parecendo um imperador, ele não poderia estar tendo qualquer tipo de problema, poderia? Não, não poderia.

Agora, mais um dia que seria cansativo, ele mal conseguia prestar atenção no que Steve falava para si, não era culpa sua afinal, Harrington falava muito, e não parava um minuto. Sua cabeça estava escorada na janela fechada do carro, ele não queria fechar os olhos, porque sabia que aquelas cenas, e lembranças, voltariam com tudo. E era por não estar prestando atenção que respondia com um "uhum" toda vez que fazia um tom de interrogação. Ele estava cansado mentalmente para lidar com qualquer problema que fosse.

—O que você acha disso? Acho que pode ser uma boa idéia —O castanho parou o carro em frente à escola, olhando para o namorado, que se espreguiçou e acenou com a cabeça.

—Acho perfeito, até depois —Virou para lhe beijar, mas não o fez assim que lembrou que qualquer um poderia vê-los. Apenas pegou sua mochila -que tinha mais peças de D&D do que coisas importante para as aulas- e saiu do carro apreçado, já estava atrasado para a sessão, e isso não era comum para si.

Steve piscou devagar, jurou que Eddie não aceitaria que ele fosse dormir lá, mas quando ele concordou, sorriu largo e se sentiu feliz, o namorado estava confiando mais em si, isso era ótimo, perfeito. Partiu dali com o carro, feliz, hoje seria uma tarde em que Munson voltaria para casa com carona da Max, então provavelmente iria ir para casa do garoto pelo anoitecer.

Nightmare - SteddieOnde histórias criam vida. Descubra agora