3-Medo, Racismo e Homofobia.

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Sangue e Chocolate - De skinhead a Ativo Apaixonado


Voltamos para Uberlândia, chegamos no aeroporto eram mais ou menos 15:00 horas, eu já tinha pedido para o motorista da empresa ir nos buscar pra evitar qualquer chamada de atenção da parte do Jorge, o motorista veio coloquei as malas no carro, quando já estávamos dentro, o Jorge disse...

– Edgar deixei o Gustavo na casa dele, e em seguida me leve ao escritório tenho algumas coisas a resolver, e quanto a você Gustavo, chegue as 7:30 por favor, pontualidade não é chegar em cima do horário é se adiantar quanto ao horário estabelecido.

Apenas concordei com a cabeça esse foi nosso único dialogo dentro do carro eu nem pensei em respondê-lo para não deixa-lo ainda mais irritado, mais eu deveria ter falado alguma coisa se ele estava com raiva provavelmente era do meu comportamento eu tinha sido o idiota da historia, comi o cara e depois fiquei agindo como se nada tivesse acontecido, fui para minha casa desfiz minha mala e fui para meu quarto descansar, mais não sem antes ter de contar a minha mãe tudo sobre a viagem as palestras e outras coisas do ramo de logística, disse a ela que o Jorge é muito exigente, autoritário e mimado. Ela sempre saia em defesa dele, ela é uma fã dele em resumo é isso.

No outro dia as 07:20 eu já estava no escritório, fui para minha sala que era como um hall de acesso a sala dele, tipo sala de secretária mesmo e me organizei redigi alguns e-mails pra ele já pra me adiantar, pedi o café dele, o pessoal da panificadora trouxe, até eles sofrem com o comportamento dele, quando pedi o café o rapaz me disse ao telefone – Esse café da Manhã é para o senhor Jorge!? Eu confirmei que sim, que era pra ele. Não foram 10 minutos estavam lá com o café e o pão de queijo fresquinho, deixei na mesa dele, quando era 07:50 ele passou por mim sem nem me notar e foi para sua sala com o telefone pendurado na orelha, mais quando passou notei que ele usava o relógio que o cara tinha dado no congresso meu sangue ferveu nessa hora, mais fiquei na minha quem sou eu pra exigir alguma coisa dele!?

Quando eram mais ou menos 11:00 da manhã eu já saia pra ir almoçar, ele me chamou a sala dele, peguei minha agenda e entrei mais do que depressa na sua sala e sem nem me olhar, ou melhor sem desviar os olhos de seu computador me disse:

– Peça para o Edgar ou o Valter te acompanharem ao DNIT eu preciso que você descubra o porque as licenças de trafego dos nossos equipamentos estão demorando tanto para serem confeccionadas, se já estiverem diga a eles que eu mesmo providenciarei a assinatura do Engenheiro de Trafego, agora se já tiverem assinadas liguei para as meninas do financeiro e peça para que transfiram o dinheiro.

Fiquei parado na porta eu ia perguntar a ele se poderia ser após o almoço pois queria comer, ia me desculpar, ia beijar ele mais tudo não passava de uma possibilidade na minha cabeça, ele me dirigiu os olhos e falou friamente...

– Ficar parado na minha frente não ira resolver o que te pedi, tem mais alguma coisa que queira me falar!?

Falou isso cruzando os braços e os apoiando na sua mesa de vidro, eu apenas abaixei meus olhos e sai da sala, realmente quando ele começa a tratar as pessoas com frieza, ou melhor, 100% profissionalismo intimida a gente, ficamos impotentes na frente dele eu tinha 20 reais na carteira, então chamei o motorista e fui, por fim fiquei enrolado lá no DNIT até as 15:00 horas comi apenas um lanche, quando voltei ao escritório voltei com as licenças, deixei com o pessoal da logística, quando já ia pra minha sala, a recepcionista me falou...

– Porque seu telefone estava desligado? O Jorge estava te procurando e esta uma fera com você, anda logo e vá a sala dele, não tem ninguém lá agora.

Já fui a sala dele com a ideia fixa de que seria demitido, entrei na sala ele estava ao telefone, e apenas fez um gesto pra eu me sentar se virando na cadeira e ficando de costas pra mim, então me sentei e fiquei a esperar o cheiro do perfume dele é ótimo e eu conhecia intimamente o cheirinho gostoso do perfume mesclado ao cheiro da pele dele, ele conversava em inglês com alguém ao telefone fiquei mais ou menos 10 minutos esperando ele conversar quando terminou virou de frente a mim, meu coração pulava no meu peito...

– Gustavo porque toda essa demora em fazer o que pedi?! Por algum acaso aproveitou pra fazer seu horário de almoço!?

– Não Senhor, eu fiquei o tempo todo no DNIT, fiquei de cima as licenças nem sairiam hoje, se não fosse pela minha persistência não teriam ficado prontas.

Ele ficou me olhando como quem analisava o que eu tinha acabado de dizer pra ele, meu mais uma vez abaixei meu olhar encarar ele estava se tornando uma tarefa difícil eu tinha vergonha de confrontar seu olhar, até mesmo porque eu não estava reagindo muito bem ao que tinha acontecido, quando ele foi conversar novamente eu de cabeça baixa ele me chamou a atenção.

– Gustavo olhe pra mim quando estiver conversando comigo, odeio pessoas que falam sem me olhar nos olhos é a forma mais grosseira de submissão, detesto quem fuja dos problemas, ou você se impõe ou o meio profissional te engole meu rapaz.

– Tudo bem senhor eu já entendi e sei onde quer chegar, me desculpa Jorge, eu não sei como agir, nunca tinha feito aquilo agi no impulso eu sou impulsivo me perdoa, eu sei que vai me demitir então não preciso do sermão.

– Não vou demiti-lo o que eu quero é que fiquei ciente que, o que, aconteceu naquele quarto não vai se repetir foi um erro da minha parte, quero me desculpar você é uma criança ainda, eu não tinha o direito de te exigir nada, muito menos cobrar algo de você, o que eu quero é profissionalismo, agora pode sair da minha sala.

O que me irrita é que sempre perco pra ele na conversa, sempre mesmo, o que me deu vontade foi de meter a rola nele, ali mesmo dentro daquela sala, porque ao menos assim eu estaria no controle da situação e o cara tinha me chamado de criança!!? Filho da puta, sem nem ter o que falar, eu sai da sala dele, a semana continuou, ou melhor, acabou, pois no sábado não trabalhamos e a semana que se seguiu foi um inferno ele me cobrava muito, eu ficava até tarde no escritório atendendo ligações dele, e fazendo tudo o que ele me pedia, depois de umas duas semanas sendo escravizado por ele uma noite ele me chamou em sua sala, já se aproximava do final do ano...

– Gustavo, seu ano letivo acabou, e você precisa se graduar, vou te dar até o meio do ano pra iniciar um curso superior, e por favor inicie também um curso de inglês ira precisar, a empresa tem um programa de auxilio universitário que paga 50% da faculdade e do curso de inglês, então comece a estudar, você terá em breve um aumento de salario isso possibilitara que estude, e aproveite pra tirar habilitação.

– Tudo bem senhor, irei providenciar tudo, e obrigado mais uma vez pela oportunidade.

Fui embora pra minha casa puto de raiva com ele, ele me mandava fazer as coisas e me dava prazos isso me irritava mais eu queria muito continuar naquele emprego, nesse dia meus amigos me chamaram para ir a uma boate, eu topei já tinha tempo que não saiamos juntos pra uma balada, nessa boate eu bebi como nunca tinha bebido antes fiquei ruim mesmo beijei umas garotas lá, por fim eu ia saindo com uma para leva-la embora comigo, quando na recepção da boate na hora de pagar a comanda encontro com o Jorge, eu fiquei até sóbrio de vergonha, soltei da mão da menina e disse boa noite a ele... Meus amigos então idiotas como eram, hoje sei que ninguém precisa desse tipo de amizades disseram...

– Quem é esse crioulo ai Gustavo!? Essa gente nem deveria frequentar os mesmos ambientes que agente, depois morrem e ninguém sabe porque.

Meu chefe nem é negro é moreno mesmo, do tipo mestiço, ele olhou pro meu amigo chegando bem perto dele e sem nenhum pingo de medo ou de receio falou pra ele.

– Engraçado você se julgar uma raça superior, se vestido como um andarilho, com esse cabelo mal raspado, sujo e fedendo, engraçado mesmo, aonde esta sua superioridade!? Esqueceu de traze-la hoje!?

Meu amigo ficou mudo, sem saber o que falar o Jorge intimida mesmo qualquer um, os outros dois que estavam com ele também não falaram nada, mais fizeram sinal para pega-lo na rua.

– Vou dar uma dica a todos, cuidado com os Negros e gays que vocês provocam na rua, nem todos eles são indefesos ou inocente ok, tem gente muito perigosa por ai, mais perigosas que vocês sua escoria social. E quanto a você Gustavo reveja suas amizades, ou quer mesmo continuar na companhia desses atrasados!?

Quando ele saiu da boate o segurança o acompanhou até o carro dele e assim ele foi embora, mais fiquei péssimo comigo mesmo, me sentindo um lixo e como eu iria encarar meu chefe na Segunda-feira!?

Sangue e Chocolate.Onde histórias criam vida. Descubra agora