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Mônica.

Olhava para o grande prédio á minha frente e um sorriso automaticamente se alastrou pelo meu rosto fazendo-me querer pular de alegria.

O hospital Vassar, sempre foi o meu sonho e agora, apenas alguns meses de concluir meus estudos, eu estava aqui para fazer o meu estágio.

Caminhava completamente encantada e impressionada com tudo o que via ao meu redor. Era um hospital altamente equipado, com tecnologia de ponta e profissionais gabaritados e o melhor, era onde três, dos médicos mais conceituados trabalhavam.

Rafael Dantas, Amanda Johnson e Nate Collins, eram três dos melhores médicos especialistas em transplantes do pais e a chance de trabalhar com algum deles me deixava eufórica.

Ser médica era o meu sonho, desde que o meu pai foi salvo pelas mãos e pela competência de um médico incrível que conseguiu-lhe uma nova chance através de um transplante de rim eu fiquei encantada por esse mundo.

Mas, como a realidade é bem diferente, minha família não tinha nenhuma condição para custear uma universidade de medicina e eu não nasci inteligente o suficiente para conseguir uma bolsa.

Então, optei pela enfermagem, que me capacitaria para fazer aquilo que amo e cuidar das pessoas de uma forma diferente.

- Com licença. - chamei assim que encontrei a recepção que deveria me identificar. - Sou Mônica Evans.

- Sim, está atrasada senhorita Evans, o grupo com os outros enfermeiros já começaram o tour. - alertou me entregando um crachá. - Vá para o terceiro andar, boa sorte.

- Obrigada. - sorri me apressando a correr até o elevador torcendo para que mais ninguém notasse o meu atraso.

Quando cheguei até a sala onde todos estavam reunidos me sentei em uma das cadeiras disponíveis na última fileira e logo o rapaz ao meu lado sorriu.

- Eles já entregaram os folhetos informativos. - disse me mostrando o papel em sua mão e sorri quando ele me permitiu ler.

- Obrigada.

- Sou Josh. - piscou e meu sorriso aumentou.

- Mônica, prazer. - selei nosso cumprimento apertando sua mão.

- Atenção! - a mulher loira apareceu na sala com sua voz forte e andar confiante. - Sou Elisa, a enfermeira chefe desse setor e vou encaminha-los para suas respectivas equipes.

- Josh Smith. - chamou e o rapaz ao meu lado se pôs de pé. - Ala quatro, quarto andar, equipe do doutor Nate Collins. - orientou e Josh faltou saltar de alegria enquanto corria em direção a enfermeira chefe para pegar sua identificação.

- Leila Williams. - chamou e uma garota morena se levantou do outro lado da sala. - Equipe da doutora Amanda Johnson, quarto andar, ala quatro.

Suspirei apreensiva, todos estavam indo para a ala dos transplantados, desse jeito eu acabaria na urgência.

- Mônica Evans. - chamou enfim depois de mais dois nomes e me levantei de pressa. - Equipe do doutor Dantas, ala quatro, quarto andar. - afirmou e quase saltei de alegria enquanto buscava meu crachá.

Esse seria um novo começo para mim e eu não podia estar me sentindo mais animada. Finalmente, tudo estava dando certo.

Rafael.

- Senhora Jules, eu terei que insistir nisso mais uma vez, eu preciso que tome esses remédios sem erro. - pedi pacientemente para a senhora de sessenta anos á minha frente.

- Eu sei doutor, estou tomando. Mas, não tem ninguém que cuide de mim. - suspirou dramática e assenti vagarosamente olhando para a sua filha.

Uma das coisas que pacientes idosos exigiam era um tratamento mais atencioso, já que, muitos deles eram negligenciados pela família e tinham um nível de carência extremo.

- Estamos preparando a senhora para o transplante que deve acontecer no mês que vem, mas, para receber o novo rim o seu corpo precisa estar forte e saudável, então, não pode deixar de tomar os remédios. - expliquei pausadamente.

- Eu vou ajudá-la mais agora doutor. - sua filha se pronunciou. - Eu consegui tirar férias do meu trabalho, agora poderei cuidar melhor da minha mãe.

- Perfeito. - sorri anotando os pedidos de exame em sua guia. - Esses serão os últimos exames antes da cirurgia, o doador já foi testado compatível, agora nós só precisamos que faça tudo corretamente, combinado?

- Combinado. - a senhora sorriu e sorri acenando para a enfermeira que a acompanharia para a saída.

- Nos vemos em dez dias então, para avaliar os exames. Tenha um bom dia senhora Jules.

Acompanhei enquanto a senhora deixava a sala e me estiquei em minha cadeira puxando o ar enquanto me espreguiçava.

- Com licença, doutor Dantas? - Beth chamou e olhei para a enfermeira que trabalhava comigo há dois anos. - A enfermeira estagiária da equipe chegou.

- Manda entrar. - pedi entediado. Há cada seis meses recebíamos estagiários, mas nem metade deles eram capazes de continuar com a gente.

- Bom dia. - a mulher entrou sorridente pegando-me um pouco de surpresa. Quem sorria tanto assim pela manhã?

Encarava a mulher á minha frente que continuava mantendo seu sorriso, seus cabelos eram de um castanho claro e seus lábios ostentavam uma cor rosada claramente artificial proporcionada por algum batom fraco. Seus olhos grandes e castanhos me fitavam com ansiedade e não permiti que meu olhar vagasse pelo seu corpo me endireitando em minha cadeira.

- Seu nome. - pedi desviando o olhar.

- Mônica Evans. - disse se sentando na cadeira á minha frente e assenti.

- Beth, a enfermeira chefe da equipe lhe explicará tudo com detalhes. Não gosto de erros ou de pessoas desatentas, como você é a estagiária poderá me acompanhar em rondas e algumas cirurgias. Ficará comigo por dois meses e depois poderá escolher se quiser mudar de equipe.

- Entendido doutor. - assentiu mordendo os lábios e indiquei a porta.

- Evite que sua ansiedade interfira em seu trabalho. - aconselhei mexendo em alguns dos prontuários em minha mesa. - Se me atrapalhar, passará todo o estágio cuidando do estoque da enfermaria.

Mônica deixou a sala com um aceno de cabeça e me preparei para receber o próximo paciente. Eu confesso que já fui uma pessoa mais paciente, mais compreensiva, eu costumava ser assim, mas toda a minha gentileza não impediu que as pessoas que mais se beneficiaram dela me apunhalasse pelas costas.

Todos no hospital sabiam do caso que minha ex-noiva mantinha com o meu, agora, ex-melhor amigo. Todos me olharam com pena enquanto riam pelas minhas costas e todos ainda hoje me marcavam por isso.

Então, eu não precisava usar minha gentileza com eles, não mais.

***

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