Rafael.
- Você viu Mônica por aí? - perguntei entregando a Beth o atestado de óbito assinado.
- Não doutor, acho que ela foi pra casa. - murmurou e assenti deixando que ela saísse voltando a organizar minhas coisas para sair também.
Ainda me lembro como foi difícil perder meu primeiro paciente, ainda em meu primeiro ano de residência e questionei seriamente se poderia passar por isso.
Mas, com tempo, esse passou a ser um sentimento com o qual eu me adaptei. Ainda era triste e desolador, mas eu sempre tinha o conforto de saber que fiz o meu máximo, por isso sempre o fazia.
Se algum dia um paciente perdesse a vida porque eu não fui um bom profissional seria devastador para mim. A vida era assim, hoje infelizmente perdíamos Louise, porque esse era o caminho escrito para ela, esse era o destino dela, assim como um dia chegará o de todos nós.
Terminei de organizar as coisas em minha pasta e peguei meu paletó deixando minha sala.
- Mônica. - chamei ao vê-la parada em frente ao elevador com sua mochila nas costas e aqueles sapatos feios que ela usava hoje.
- Doutor Dantas. - respondeu baixo sem o seu sorriso habitual e pude notar seus olhos avermelhados.
- Está tudo bem? - perguntei entrando atrás dela no elevador. - Você fez tudo o que podia, todos nós fizemos.
- Não é justo. - sussurrou e olhei para ela.
- Nunca é, mas é a vida. A única certeza que temos é essa, a de que um dia não estaremos mais aqui. - afirmei fitando-a com atenção. - Alguns se vão mais cedo que outros e isso é tudo.
- Ela tinha tanta esperança. - suspirou. - E eu aqui reclamando da minha vida.
- É normal, eu também reclamo da minha ás vezes. Pode ter pessoas no mundo que passam por problemas maiores que os nossos, mas eles são difíceis para nós. Reclamar não faz de você uma pessoa ruim, apenas usar sapatos como esses. - alfinetei recebendo um pequeno sorriso em meio aos seus olhos inchados e sorri de volta.
- Você pode ser bem agradável quando quer doutor Dantas. - apontou e assenti quando a porta do elevador se abriu no térreo antes de descer para o estacionamento. - Boa noite então. - sorriu. - Até amanhã.
- Você... realmente está bem para ir sozinha? - perguntei um pouco sem jeito e Mônica assentiu.
- Eu vou ficar bem. - garantiu saindo do elevador e deixei que as portas se fechassem contrariando minha vontade de oferecer novamente uma carona.
Quando cheguei ao meu apartamento joguei minha pasta no sofá abrindo alguns botões da minha camisa e a tirei quando cheguei ao quarto. Deixei os sapatos ao lado da cama e segui para a cozinha.
Sorri ao ler o recado de Rachel colado na porta do micro-ondas avisando que meu jantar estava lá dentro.
Rachel era a mulher que cuidava do meu apartamento, já que, eu só ficava aqui para comer e dormir pela noite e passava a maior parte do meu tempo no hospital.
Sorri ao ver a deliciosa lasanha e coloquei um minuto para aquece-la enquanto pegava uma garrafa de suco na geladeira.
E assim como todas ás noites, eu jantei, li mais um capítulo do livro que estava lendo essa semana e depois corri por quarenta minutos na esteira, antes de tomar um banho e colocar uma calça de moletom e me jogar na cama.
Minhas noites eram sempre simples e até mesmo um pouco solitárias. Já eram quase meia noite e meia quando meu celular tocou.
Olhei para o nome de Amanda que brilhava no visor e respirei fundo olhando novamente para o meu livro. O celular silenciou logo depois e voltou a tocar novamente para o meu aborrecimento.
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Desejo
ChickLit(+18) Rafael sabia, ele tinha uma vida perfeita. Ele tinha o emprego dos sonhos, amigos leais e a mulher perfeita ao seu lado, mas quando dois desses pilares importantes se quebraram ele entendeu que uma vida perfeita, não existia. Mas, quando um no...