Acontece

III

Eu realmente devo ter sido uma pessoa horrível em uma outra vida, esta deve ser a única razão para eu ser tão azarado assim. Quando finalmente achei que teria um pouco de paz no trabalho esse idiota aparece para fazer da minha vida um inferno

Passei a última semana lembrando daquela cena ridícula de nós dois nos trocando no escritório e depois ele me fazer ir até seu apartamento buscar um terno limpo. Ok, ok, a culpa do terno ter sido destruído em parte foi minha, mas se ele não tivesse mexendo naquele maldito celular e prestado atenção por onde andava nada disso teria acontecido.

E ainda por cima ele pensa que sou o que? Seu capacho? Me fazendo vir até sua sala a todo momento para trazer café, encomendar flores e presentes para suas amantes. Como agora, já estou de pé a frente de sua mesa a uns quinze minutos, enquanto ele flerta descaradamente com uma tal de Olívia pelo telefone.

Bato o pé impacientemente contra o chão enquanto o som daquela risada falsa me causa náuseas, eu ter descoberto que ele é solteiro não muda o fato da fama de cafajeste ter atravessado o continente e chegado até aqui, ele é sínico e dissimulado e não esconde o fato de que não gosta de mim, então porque deveria pagar simpatia para ele? Nunca fiz isso nesses quase três anos de empresa e não é agora que vou começar. Por mais que ele seja meu chefe, isso é apenas temporário. Um ano, é só aguentar por um ano.

Quando me canso de esperar e faço menção de ir embora, ele bate a caneta na mesa chamando minha atenção me viro de volta na sua direção e ele levanta a mão para que espere. Cruzo os braços em frente ao corpo com o cenho franzido e espero por mais alguns longos minutos até que finalmente ele encerra a ligação.

- Já terminou? Pergunto com a sobrancelha erguida e ainda mais impaciente do que estava quando entrei na sala. Ele não responde apenas me encara com aqueles olhos enormes e escuros. - O senhor tem uma reunião com novos acionistas as dez e o conselho irá se reunir durante o almoço para discutir o orçamento anual, as três um encontro com alguns fornecedores e no fim da tarde uma visita até a fazenda. Isso é tudo por hoje.

Me apresso para sair da sala, quero ter o mínimo de contato possível com ele, quando estou próximo a porta sinto meu corpo arrepiar, mas não de um jeito bom. Aquela voz com um tom que grita arrogância corta o silêncio e leva minha paz para longe.

- Não lembro de ter autorizado sua saída. - ele fala seco e debochado.

Recolho minha mão que já estava sobre a maçaneta, tento manter o controle. A imagem dele se aproximando de mim e suas palavras de ontem ficam voltando todo o tempo á minha mente por mais que eu tente afastá-las, elas parecem uma praga, quando achamos que estamos livres lá estão elas novamente.

Respiro fundo e volto a encará-lo, permaneço em silêncio por alguns instantes e ele faz o mesmo parece estar jogando algum tipo de jogo para ver quem cede primeiro, quando me lança um olhar inquisitivo percebo o que Mew quer.

- O senhor precisa de mais alguma coisa? - vejo aquele sorriso sínico que sequer chega aos olhos brotar em sua face.

- A Srt Olíviia está chegando de viagem, a busque no aeroporto e leve-a até meu apartamento para que se acomode, depoi...

- Eu não vou. - digo confiante.

Mew vira a cabeça minimamente em minha direção, ele ergue o queixo me desafiando a continuar, mas permaneço quieto, faço uma reverência me curvando diante dele e me viro para sair.

- Como é? - ele pergunta antes que eu possa me afastar.

- Eu disse que não vou! - digo enquanto me viro de volta para si - Isso não faz parte do meu trabalho.

Com a mão fechada em punho sob o queixo, ele parece me analisar, seu olhar furioso sobre mim, faz uma sensação gélida subir por minha coluna, tudo naquele homem parecia assustador, mas ele está enganado se acha que me deixarei levar por medo dele.