XI

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GULF

Esse elevador nunca pareceu tão pequeno como está agora, parece que a cada andar as paredes se estreitam ainda mais.

O clima está tenso um silêncio muito constrangedor está presente e parece que existe um muro gigantesco entre nós.

Meu ar falta quando o vejo apertar o botão de emergência e parar essa coisa, minhas mãos soam.

Sinto uma gota de suor escorrer por minha testa e tudo piora quando ele estende a mão e passa o polegar por minha sobrancelha secando a gotícula.

— Calma eu não vou tentar nada. Eu só quero me desculpar. Direito dessa vez.

Dá alguns passos atrás e encosta no fundo do elevador.

— Sabe Gulf, eu tenho ciúmes de você com meu pai. - Mew sopra um riso sem graça - Sei que é besteira, mas ele sempre falou tão bem de você e quando me ligou para que viesse para o Brasil cuidar da cervejaria...

— Mew, nós temos uma reunião, podemos falar disso depois. - tento destravar o elevador, mas sou impedido por ele.

— Me desculpe. - ele olha dentro dos meus olhos.

— Pelo que exatamente está se desculpando?

— Por tudo, por ter sido um babaca desde que cheguei, por ter acreditado no que falaram sobre você antes de te conhecer e continuar usando isso para te machucar mesmo sabendo que era mentira e por ontem.

Encaro o chão, mas sinto sua palma tocar meu rosto, levanto a cabeça e o encaro, seu polegar deslizando na minha bochecha bem próximo a minha boca.

— Eu espero que você possa realmente me desculpar. 

Seus grandes olhos me investigam, a forma como ele me olha sempre me deixa inquieto, seu olhar é intenso e profundo. Não pareceu intencional, mas ele se aproxima, é como se tivesse sendo atraído por um ímã.

E quase me deixei levar novamente, pela sedução que transborda para fora de seu corpo por cada um de seus poros, mas antes que possa tocar meus lábios viro o rosto.

— Você pode começar devolvendo minha máquina e só então eu posso pensar se merece ser desculpado. - destravo o elevador.

— Gulfito, você sabe que eu não posso fazer isso... - ele continua me olhando e eu o fito de lado. — Dois copos todos os dias um pela manhã e um à tarde, eu pago.

— Está melhorando... Mas?

— Eu sou tão previsível assim? - afirmo com um menear de cabeça. — À tarde nós vamos sair para comprar, nós dois juntos.

Gargalho olhando para o número dos andares que demoram demais para passar.

— Você tem noção de que eu sou só um empregado aqui como todo mundo não é? Eu não posso só sair para tomar um smoothie no meio do expediente.

— Pode ser depois do seu horário e eu já te deixo na faculdade.

— Não! Você me acusou de tirar proveito do seu pai e agora isso? Pra quê? Para jogar na minha depois? Não. Muito obrigado.

— Eu já pedi desculpa e eu estou realmente arrependido, mas eu não vou negar que você me faz sentir coisas e Olívia ainda me fez ler aquele livro e eu fico pensando em te foder o tempo todo. - ele sopra um riso e eu custo a acreditar que estou ouvindo aquilo. — Ainda descobri que sou o primo babaca e eu não quero ser o primo babaca.

— Do que você está falando?

— Eu ainda quero você Gulf, mas eu entendi que eu não posso simplesmente ir lá e te pegar como se fosse uma caneta qualquer jogada em cima da mesa, mas você também precisa me ajudar. - ele gesticula com as mãos, parece estar nervoso.

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