two

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Sexta pela manhã tive que ir à biblioteca para pegar um livro enorme sobre como administrar uma empresa grande. De alguma forma meu pai acha que isso vai ajudar. E talvez ajude, já que caso eu queira futuramente quebrar esse padrão sexista da nossa família, terei que me esforçar e ler muito. Que seja, aceitei vir porque poderei ficar sozinha sem ser vigiada. Finalmente vou poder fechar meus olhos por um minuto. Meu pai ainda não comentou nada sobre o que o tsukishima me contou ontem, mas eu realmente espero que aconteça.

- Obrigada. - agradeci quando a bibliotecária me entregou o livro de 6159 páginas, é enorme e pesado. Praticamente corri até a mesa mais próxima enquanto meus braços se esforçavam para aguentar o peso. As mesas aqui são extensas então sempre tem mais alguém com você.

Como a que eu escolhi, na qual Suna Rintarou está na outra ponta da mesa. Parece tão distante mas ao mesmo tempo está muito perto. Por um instante percebi seus olhos escaparem do livro e focarem em mim descaradamente assim que cheguei perto.

- Bom, serei legal e lerei ao menos duas páginas para compensar. - susurrei para mim mesma ao respirar fundo e abrir o livro, para em seguida ler as duas páginas tão rápido que quase não absorvi nada que havia escrito. O garoto da ponta ainda estava me encarando, e eu sabia disso sem ao menos olhar para ele. Simplesmente resolvi ignorar ele, já fiz isso muitas vezes que até me acostumei.

Não sei. Ao que parece, minha família cogitou unir nosso negócio com o deles, ou seja, me vender pra família de suna. Antes mesmo de eu saber sobre isso, esse garoto já me encarava com indiferença na escola. Ele é estranho. Sua família também é muito poderosa no ramo da administração de casas e prédios. Por incrível que pareça, sua mãe é prefeita da nossa cidade, a prova de que há famílias menos preconceituosas que a minha. E para minha surpresa, os Halpert nunca se deram bem com os Suna's. Queriam reverter isso oferecendo minha mão ao primogênito deles, mantendo assim uma união com a família mais poderosa do estado. Mas eles recusaram, e segundo os relatos no contrato, suspeitaram que eu não era mais pura por já ter sido oferecida a kei antes. Porra, eu só tinha 10 anos na época. Parei de pensar nessa bagunça toda depois de alguns minutos, não vale a pena.

Depois disso, com o frio e o silêncio do local, senti o cansaço da noite passada me atingir de vez. Acordei cedo por causa de uma obra recém iniciada na suíte master dos meus pais, por isso, em minutos caí em sono profundo sem me importar com mais nada. Eu posso fazer isso, eu mereço. E assim o fiz.

- Ei... - alguém me balançou por alguns minutos e acordei subitamente ao me assustar. Ao abrir os olhos, vi quem eu menos gostaria, Suna Rintarou. Seus olhos estreitos e estranhamente bonitos possuem uma cor amarelo-acinzentado que me encaravam firmemente. É bonito, e um tanto quanto revoltante.

- O que foi? - perguntei indignada por ser despertada do meu sono, de certa forma nunca fui com a cara de suna. Fui treinada para odiá-lo, mas não sinto isso. Apenas não gosto dele. Sua presença me causa arrepios e não gosto do seu olhar baixo e enigmático. Ele sempre fez de tudo para me fazer odiá-lo. - Por que me acordou? - adicionei aborrecida, meus olhos ainda queimavam de cansaço e, uma vez que acordo, não consigo adormecer novamente.

- Você estava gritando por ajuda. - respondeu direto e meu coração quase pulou para fora, o que diabos eu estava dizendo? Ele logo sorriu ao ver minha expressão, como se já soubesse o que eu estava pensando. - Bom, você dizia: "Não aguento mais vocês, parem de sugar minha energia! Eu estou desgastada, não consigo suportar isso!" - ironizou afinando a voz para se parecer com a minha. - Foi algo assim. Ah, e tem mais: "Kei, guarde seu pau fedorento para amanhã, estou cansada de tanto estudar para ser ninguém." - me assustei assim que ele terminou e soltou uma risada.

Minha nossa.

Eu devia ter me lembrado que falo enquanto durmo, não consigo nem piscar de tamanho embaraço que estou sentindo. Já houve episódios como esses, e todos foram na presença do meu namorado. De alguma forma, eu falo tudo que não tenho coragem durante o sono. Uma vez, acordei sendo sufocada por kei ao dizer que ele fode como um virgem e que não sabe o que eu quero na cama.

- Oh, meu Deus! - coloquei as duas mãos na boca, incrédula. Me sinto menos envergonhada por não haver ninguém por aqui, mas será que mais alguém ouviu? - Só você escutou? - perguntei desesperada e ele só soube rir da minha cara por exatamente dois minutos. Tudo que imaginei de suna é verdade, soube disso no momento em que ele parou de rir e me encarou com uma expressão de nojo enorme.

- Sua vida não parece ser tão maravilhosa assim quanto as garotas comentam na faculdade. Sua família não é perfeita, você não tem um namorado super gentil e fofo. E o não menos importante, você não tem nem um pouco de amor próprio. - senti o peso das palavras bem mais forte do que deveria, odiei tudo porque é a pura verdade. Ele não mentiu. É exatamente isso. Ele só está zoando com a minha cara por saber disso. - Sinto muito por seu namorado não saber o que uma mulher como você precisa, deve ser horrível ter que se deitar com ele sem nem gostar do que recebe. - encerrou sarcástico, o sorriso no canto da boca fazendo seu rosto parecer mais diferente do que antes.

Suspirei irritada, Suna não tem todo esse conhecimento. Não tem como ele saber de todas essas verdades imutáveis. Bom, kei sabe tranzar bem, é só que algumas vezes não é o suficiente. Não sei, meu corpo nunca fica satisfeito com o que recebe dele. É estranho e sempre acabo no banheiro irritada por não receber o que desejava.

- Bom dia. - soltei ao me levantar da cadeira tão rápido que meu mundo girou e minha vista ficou escura. Isso sempre acontece. - Uma curiosidade que não consigo deixar passar, o que uma pessoa como você faz em uma biblioteca? - perguntei por saber muito bem da sua fama, muitas festas e algumas notas abaixo da média. Ele é da minha turma, cursa a mesma coisa, sei do que estou falando. Ele é só um viciado em álcool que vai liderar as empresas da família sem nem saber de nada, e o fará apenas por ser um homem.

- Como alguém como você conseguiu sair de casa? Por acaso fugiu das câmeras? - perguntou retoricamente, me curvei em direção a mesa que antes estava sentada, as sobrancelhas mexendo em sinal de indignação. Como ele sabe até disso? - Consigo ver muito além desse seu decote minúsculo. Seu namorado viu uma coisa dessa? - ele riu irônico, minha camiseta preta com gola alta não deixava nada visível, suna é um completo idiota. Mordi os lábios tentando segurar insultos que queria despejar em seu rosto feio e comum. - Por que esconde tanto esses peitos de criança? Ninguém gosta disso. - seu sorriso convencido me fez surtar. Esse garoto está maluco? - Seja você mesma, pare de seguir sua família e namorado feito um animal obediente. Quebre a porra do sistema. - ele falou mudando completamente sua expressão, como se estivesse de fato me dando um conselho. As palavras ecoaram na minha cabeça em um volume absurdamente alto. Era algo que eu não sabia que precisava ouvir.

- Digo o mesmo em relação ao que você esconde entre as pernas, não é nenhuma surpresa que só se ouve relatórios ruins sobre você lá embaixo... - apontei na direção de sua virilha, causando ligeiramente uma reação meio estranha da parte dele. Será que sooei ousada? Não importa. Ele acabou de dizer para ser eu mesma. - As garotas só falam disso no banheiro, sabe, sobre o quanto você é pequeno... - sorri de canto me sentindo vitoriosa, mesmo que tenha usado dados falsos para conseguir. Ninguém fala isso sobre ele, é totalmente o contrário, as garotas gritam no banheiro enquanto falam seu nome. Parece que suna é bom no que faz.

- Muito bem. - ele sorriu como se estivesse orgulhoso do que acabei de dizer. Que idiota. Peguei o enorme livro nas mãos e sorri de volta para ele, por algum sentido me sentindo mais leve do que antes. Logo em seguida caminhei de volta à recepção para entregar o livro para a bibliotecária. - Você me diria o contrário se o visse. Aposto que nunca mais iria querer saber de Tsukishima kei. - gritou desesperado enquanto eu caminhava com esforço até a saída. O livro pesava muito, mas fiz o trabalho com um sorriso enorme no rosto.

Suna perdeu dessa vez.

Bom, já tive encontros assim com suna antes. Uma vez ele entrou na aula de natação feminina e disse que o maiô escuro me fazia ficar sem volume nos seios. Além disso, outra vez decidi ir de vestido para a aula porque não achei minhas blusas discretas que costumo usar, aí ele simplesmente sentou ao meu lado e passou a aula inteira olhando para o meu decote, só para no final dizer que faltava conteúdo lá dentro. Ele é um completo babaca.

Não sei muito bem o que aconteceria se kei ouvisse nossos diálogos, acho que eu levaria a pior. Para minha felicidade, meu querido namorado cursa administração em uma faculdade melhor que a minha. Pelo menos assim não tenho que lidar com seu ciúmes exagerado enquanto estudo. Ele surtaria muito até se me visse respirar perto de suna. Ele o odeia infinitamente, pois segundo ele, isso é consequência de ter imaginado suna no lugar dele comigo na cama.

Ele nunca superou que meu pai tenha cogitado suna como meu pretendente, não consegue aceitar que essa teria sido a melhor opção.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouOnde histórias criam vida. Descubra agora