1º CAPÍTULO

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Quando se é jovem sempre há expectativas. Um futuro brilhante em mente. Toda a sua vida estruturada apenas em mente. Obviamente, eu não era assim. Para ser franca, nunca me vi formando em uma faculdade após 5 ou 6 anos de estudos como uma condenada. Meu ponto de vista sobre a vida era tão compreensível. Apenas, viver. É praticamente impossível viver quando seu objetivo de vida é estudar para ser alguém na vida. "O estudo é tudo o que você tem". Honestamente eu cansei de ouvir essa frase, principalmente vinda de uma família de classe média. Eu não tinha muitas escolhas, por essa razão a minha foi viver.

Após uma apresentação arruinada de um trabalho no colégio eu me encontrava sentada no peitoril da janela. Há 8 andares abaixo encontrava-se a cidade de Grand Rapids, movimentada ecolorida devido o sol da tarde que se encerraria em cerca de 2 horas. Com o livro apoiado sobre meu colo eu já havia me perdido em meus próprios pensamentos. Com a megera e entristecida vida da protagonista repentinamente comecei a refletir sobre a vida que eu vivia. Não era a vida perfeita, mas eu não reclamaria.

Para uma jovem de 18 anos eu tinha uma vida surpreendente e mais interessante que a de outros diversos jovens. Francamente, apesar de não ter regalias e tudo de mão beijada, eu tinha uma vida ótima. Passeando meus olhos pela cidade abaixo a possibilidade de me jogar se passou pela minha mente. Bom, eu não era uma depressiva, para ser honesta gostava da minha vida, e vivê-la ainda era viável para mim. Mas me pergunto constantemente o que se passa na cabeça de um suicida para levá-lo a jogar-se de um prédio.

A vida é megera as vezes, ela nos castiga de formas horríveis. Eu por exemplo, fui castigada após a morte do meu pai, assim dando liberdade a minha mãe para sumir no mundo. Ela esqueceu-se completamente que ainda tinha uma filha, porém usou a morte do meu pai como uma escapatória para fugir, usando também o luto como uma desculpa para viajar países e países em busca de esquecê-lo. Mas a verdade é que não existia amor no casamento, a morte foi como um livramento.

Meu pai nunca foi muito importante para mim. Eu era violentada por ele, e após completar meus 16 anos servi de objeto para ele tocar quando sentisse vontade. Essa não era a melhor atenção que você poderia receber do seu pai. Inúmeras vezes presenciei brigas dos dois, e em uma delas tive que assistir meu pai espancar a minha mãe, pois não poderia fazer absolutamente nada. Minha mente ficou conturbada após presenciar tantas cenas como essa. Eu entendia a minha mãe, e honestamente a morte dele foi um livramento para nós duas.

Desço do peitoril, marcando o livro e em seguida o deixando sobre a escrivaninha ao lado da parede. Meu quarto era estrategicamente organizado, por essa razão eu sempre encontrava tudo sem uma sequer dificuldade. Tudo estava sempre em seu devido lugar, e quando não estava eu fazia questão de organizar - obviamente após um pequeno surto de irritação.

Vesti um moletom velho e desbotado que estava sobre a minha cama. Foi a única peça de roupa que restou de minha mãe após a mesma ir embora. Para a minha sorte a cada mês minha mãe mandava-me uma quantia em dinheiro para pagar as despesas. Ela não se esqueceu totalmente que tinha uma filha. Sai do apartamento sem pressa alguma, subindo as escadas até o terraço calmamente, enquanto tentava esvaziar minha mente.

Passei pela porta de aço empurrando-a com cuidado. Imediatamente pude visualizar o céu divido em cores. O por do sol se formava a cada instante, e presenciar esse fenômeno era inexplicável. A brisa era tão agradável que fechei meus olhos por um momento apenas para senti-la mais intensamente. Conseguia perceber que meus cabelos voavam. Eu me senti livre naquele instante.

Permaneço naquela posição por um longo tempo. Eu gostava da sensação de me sentir livre, me sentir bem comigo mesma. Provavelmente por ter crescido em um lar conturbado repleta de traumas e situações de puro desespero, a sensação de me sentir livre é tão rara, que eu me sentia extraordinária.

Love To Any Measure - Jenlisa Onde histórias criam vida. Descubra agora