VII - Dias suaves

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Desde que Madeleine nascera, Irma não lembrava quando tivera um tempo pra si. Por isso tinha tirado aquela tarde para tomar um chá com Filó e Juma, enquanto as crianças estavam com o pai e o padrinho Tibério.

- Como é que tá a vida, Irma, com dois capetinha? - Filó riu, indicando que tinha usado aquela palavra de propósito, para brincar com a comadre.

- Cansada... mas imensamente feliz - a ruiva abriu um sorriso tão grande que chegou a fechar os olhos por instantes - Acho que eu sempre esperei por essa vida.

- É, ocê e o Xeréu parece mesmo feito um pro outro, que nem era eu e o Zé - o rosto da morena ficou sério, mas ela logo tentou disfarçar - Deve ser bão ter duas cria assim pertinho, um faz companhia pro otro, alegra a casa... Deus só me deu o Tadeuzinho mesmo, mas não posso me queixá, é um filho de oro.

- É muito bom sim, Filó. É uma delícia ver eles brincando juntos, Anterinho é tão protetor com a irmã, coisa mais linda.

Ainda mastigando uma chipa, Juma perguntou:

- E ocê não pensa em ter mais fio? Eu quero ter um monte de cria mais o Joventino, quero famia grande.

- Ah, Juma, acho que eu não tenho mais idade, não... Vocês são jovens. O Trindade até queria mais um, mas eu já fechei a fábrica.

- Minha mãe também não queria mais fio, e eu vim. É a natureza que escolhe - insistiu a moça.

- Vira essa boca pra lá, Juma - Irma fez uma careta - Dois já tá de bom tamanho.

- Viro não, porque ninguém manda neu.

- É só uma expressão, você pode falar o que você quiser - a ruiva explicou com carinho.

A moça olhou pra ela com jeito de criança travessa e se aproximou como se fosse contar um segredo:

- Filó recebeu visita do Eugênio chalaneiro dia desse...

A mais velha interrompeu, falando com a voz trêmula:

- Ara! Ele só veio trazê umas mercadoria. E o ocê, Juma, aprendeu a ser linguaruda, foi?

- Qual o problema, Filó, de vocês darem ficarem mais próximos? - questionou Irma, demonstrando que não tinha acreditado na comadre.

- Ah, não esqueci meu Zé... - a morena justificou, meio encabulada.

- Mas você tá viva, minha amiga! E a vida segue.

- A Irma tá certa - concordou Juma, pegando mais um biscoito - E o Eugênio gosta da Filó, eu vi nos zóio dele.

- Se a Juma tá dizendo, eu acredito - afirmou a ruiva.

- Mas ocêis duas vão se juntá pra me desencaiá agora? - Filó resmungou.

- A gente só quer lhe ver feliz, comadre... - justificou Irma, com carinho.

- É, eu sô feliz com meu amor, a Irma com o amor dela, ocê também pode - Juma acrescentou.

- Fui muito feliz com meu Zé - a morena sorriu - mas entendo as razão de ocês também, prometo que vô pensá.

Irma e Juma abraçaram Filó, comemorando.


Irma voltava da casa principal da fazenda quando avistou Anterinho montado num potro com o padrinho Tibério ao lado. Não gostava muito daquilo, ficava apreensiva, mas sabia que o compadre cuidava com atenção do menino. Seus olhos se arregalaram quando logo ao lado viu Trindade segurando a pequena Madeleine em cima de um cavalo. O animal andava bem devagar, e a menina ria muito faceira. Irma se aproximou quase sem respirar:

Momentos Felizes da família Novaes TrindadeOnde histórias criam vida. Descubra agora