I - Sonho que virou verdade

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Desde que teve o pequeno Antero em seus braços pela primeira vez, Trindade passou a sentir as comitivas ainda mais demoradas. Agora, então, que esperavam por uma princesinha para completar a família, os bois pareciam se arrastar. Por isso, assim que chegaram no local de entrega da boiada, Xeréu já partiu de volta, nem esperou que Tadeu terminasse a negociação. Sua vontade era de que aquele cavalo voasse. Sentia até a viola bater nas costas, de tão rápido que estava galopando. Mas sabia que não abusaria do animal, quando cansasse teria que aceitar seu ritmo, apesar da ansiedade. Já podia sentir o perfume de sua princesa e o cheiro bom dos cabelos do seu principezinho. Logo estaria junto daqueles que o faziam o homem mais feliz do mundo.

No caminho, parou na chalana para pegar uma encomenda:

- Trouxe o que pedi, Eugênio?

- Mas é claro. Esse foi um pedido especial - o chalaneiro lhe passou uma pequena viola

- Ah, mas que lindeza... - Trindade não conseguiu disfarçar a emoção - desculpa não ficar de prosa, mas já fiquei dias longe de casa, e agora a saudade aperta.

- Vá lá, amigo... família é um tesouro.


Trindade apeou do cavalo com pressa e correu para dentro de casa. Parou e ficou por alguns instantes apenas contemplando a cena: Antero, sentado no tapete, brincava com um cavalo preto de plástico que ganhou do primo Jove, enquanto Irma cantarolava Noite de Tempestade para a filha na barriga. A mulher percebeu a presença dele:

- Meu amor!

Xeréu se aproximou e a beijou apaixonadamente:

- Não tava mais aguentando de sardade de ocês, princesa.

- Papai! - Anterinho correu até eles, e Trindade pegou o menino no colo, beijando-lhe os cabelos e abraçando apertado.

- Ô, meu príncipe. O pai pensou em ocê o tempo inteiro. Cuidou da mamãe?

- Cuidou! - o pequeno respondeu, orgulhoso

- Esse é o meu peãozinho... - o pai sorriu, e pegou o saco que tinha largado no sofá - O pai trouxe um presente.

Trindade desembrulhou a violinha e passou o brinquedo para as mãos do menino, que ficou deslumbrado, e logo posicionou na frente do corpo e começou a bater nas cordas, imitando o pai.

- Tocá igual papai! - Anterinho vibrou.

- Papai vai ensinar tudo - Xeréu afirmou, maravilhado.

Irma observou a cena emocionada, mas não conseguiu evitar sua racionalidade:

- Trindade, ele ainda é bem pequeno... a violinha é quase do tamanho dele.

- Melhor se acostumar com o instrumento desde cedo. E olha como ficou feliz?

- É verdade. Mas se a Madeleine quiser uma viola também, vai ganhar? - provocou a princesa.

- Ué, qual o problema? Tem muita violeira boa por aí. Num país que teve Inezita Barroso e Helena Meirelles, é uma afronta dizer que mulher não pode tocar viola, né.

- Muito justo - ela concordou.

- Por falar na nossa princesinha, como vai o mais novo amor do pai? - ele perguntou beijando a barriga de Irma - Ó, mexeu, ela conhece minha voz.

- E adora suas músicas. Fica calminha quando canto Noite de Tempestade.

Trindade chegou bem perto da barriga e cantou "Meu sonho virou verdade, amor" para a filha. Deu mais um beijo no ventre, outro nos lábios de Irma e olhou com amor nos olhos dela:

- Sou o homem mais feliz do mundo mesmo, com essa família linda que ocê me deu.

- Que nós construímos juntos - ela ressaltou, sorrindo.

- É, nós construímo, com nosso amor, mais forte que qualquer cramulhão.

- Ah, Trindade, nem lembra dessa criatura... - a princesa até estremeceu, só de falar naquele ser.

- Ocê tá certa. Tudo que eu preciso tá aqui - ele sorriu olhando para Irma, a beijou mais uma vez. Então ficaram contemplando Anterinho brincar com a violinha, enquanto Trindade acarinhava Madeleine no ventre de Irma, com a sensação de felicidade completa.

Momentos Felizes da família Novaes TrindadeOnde histórias criam vida. Descubra agora