Momentos Felizes da família Novaes Trindade

XI - Do sagrado ao desespero

Ao verem o pai esperando na esteira sob a árvore, Madeleine e Antero correram até ele, nem ouvindo o apelo da mãe:

- Cuidado com o rio, crianças!

Trindade recebeu os filhos de braços abertos, e beijou os cabelos dos dois:

- Meus fiote...

- Verdade que vocês vinham aqui quando eu tava na barriga na mãe? - o menino perguntou, curioso.

O violeiro olhou para a esposa, que estava sentando-se ao lado deles, com ar de encantamento:

- Foi mesmo...Nóis tava numa felicidade só de sabê que ia ganhá um principezinho, que nosso amor ia dá um fruto.

- E eu? - Madeleine reclamou fazendo um bico.

O pai apertou a pequena nos braços:

- Ocê só feiz aumentá nossa felicidade, minha princesinha! Mais quando ocê veio, a gente já tava casado, com nossa casinha, era otros tempo.

- Verdade. A gente curtia a barriga em casa, enquanto cuidava do Antero - lembrou Irma, sorrindo - A gente passou por tanta coisa, mas é tão bonito tudo que já vivemos juntos.

- Ô, se é... - Trindade ficou pensativo - Quero tocá uma moda pra ocê.

Ele passou Mad para junto da mãe e pegou a viola. Antero também pegou a sua, tentando copiar os movimentos do pai.

- Acho que essa moda fala de como me sinto - anunciou o violeiro, começando a canção.

"Tudo o que move é sagrado

E remove as montanhas

Com todo o cuidado, meu amor

Enquanto a chama arder

Todo o dia te ver passar

Tudo viver ao teu lado

Com o arco da promessa

Do azul pintado, pra durar

Abelha fazendo mel

Vale o tempo que não voou

A estrela caiu do céu

O pedido que se cansou

O destino que se cumpriu

De sentir seu calor

E ser todo

Todo dia é de viver

Para ser o que for

E ser tudo

Sim, todo amor é sagrado

E o fruto do trabalho

É mais que sagrado, meu amor

A massa que faz o pão

Vale a luz do teu suor

Lembra que o sono é sagrado

E alimenta de horizontes

O tempo acordado, de viver

No inverno, te proteger

No verão, sair pra pescar

No outono, te conhecer

Primavera, poder gostar