IX - O dia dos violeiros

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Antero acordou logo que o dia nasceu, pulou da cama, e foi até o quarto dos pais. Cutucou Trindade, que estava quase babando no travesseiro:

- Paaai! É hoje!

- Fiote... Ainda tá cedo - Xeréu respondeu sem abrir os olhos totalmente - Vamo durmi mais um poco.

- Tô sem sono - o menino insistiu.

- Mas eu to com muito sono. Fica sossegado, que lhe chamo quando for a hora de ir pra cantoria - o pai respondeu quase adormecendo de novo.

- Vai pra cama, Antero! - mandou a mãe, com uma voz grogue.

- Ocê ouviu, melhor obedecê - Trindade abriu um olho e tentou falar firme com o filho.

Antero saiu cabisbaixo, mas antes de chegar na porta, voltou correndo:

- Será que o primo Jove vai me deixar tocar na roda?

O pai sentou-se, esfregando o rosto:

- Primeiro: quem decide qualquer coisa na roda é o Tibério e o Eugênio, fica sussegado. Segundo, quem manda mesmo nessa fazenda é a Filó. E ocê sabe que ela lhe gosta por demais, como um neto. Vai é ficá emocionada de lhe vê tocando...

- O Jove também vai ficar todo bobo... Que motivo ele teria para não gostar? - murmurou Irma, sem se mexer, demonstrando que apesar de parecer que continuava dormindo, estava ouvindo tudo.

- Verdade... - concordou o menino, esboçando o sorriso.

- Então acarma o coração, fio... E vamo durmi mais um poco.

Antero concordou com a cabeça e saiu do quarto, bem mais tranquilo. Trindade suspirou, aliviado, e se deitou novamente, sendo abraçado pela esposa, que sussurrou:

- Vai ser um dia intenso...

- Vai... - ele concordou, fechando os olhos.


Ao chegar no churrasco, Antero correu até o padrinho:

- Hoje vou tocar com vocês!

- Mas isso eu quero vê - Tibério abriu um largo sorriso.

Trindade, chegando logo atrás, cochichou para o amigo:

- Vai com calma, ele tá tão nervoso que caiu de madrugada da cama.

O administrador sinalizou afirmativamente com o olhar, e se dirigiu ao afilhado:

- Vamo escolhê um lugar do mió pra ocê. Pode sê entre seu pai e seu padrinho?

- Pode! - o menino ficou empolgado.

- Então senta aqui - Tibério indicou o local, depois ajudou Antero a ajeitar a viola nos braços

O garoto endireitou as costas, todo orgulhoso.

- Mas óia isso, a pose de violeiro já tem... - brincou o padrinho, provocando risos no afilhado.

Eugênio ia chegando, e sorriu ao ver o menino já pronto para tocar:

- Qué dizê que temo violeiro novo na roda?

- Sim, tio Eugênio!

- Mas que beleza! Eu to mesmo ficando véio, tem que vim as nova geração - comentou o chalaneiro num tom emocionado.

- Que é isso, amigo.. ocê tem muita lenha ainda pra queimá - Trindade apressou-se em contestar.

Eugênio retribuiu com um sorriso de gratidão:

- Deus lhe ouça - inclinou-se na direção da criança - E o que o menino vai tocá pra nóis?

Antero olhou para o pai como que pedindo ajuda para começar.

Momentos Felizes da família Novaes TrindadeOnde histórias criam vida. Descubra agora