VI - Dia de piquenique

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Ao acordar na manhã seguinte, Irma estranhou ver Trindade ainda dormindo na cama ao lado dela, e sacudiu o marido:

- Amor! Você não vai pra lida hoje?

- Quê? Minha cabeça tá pesada... - ele murmurou, sonolento e sem abrir os olhos.

- Trindade, já é dia alto - ela avisou, rindo.

O peão sentou-se na cama, esfregando a testa:

- Ara, acho que exagerei na pinga...

- Um pouco, né - a esposa continuava achando graça - Mas vou passar um café bem forte, que logo você tá novo - pegou Mad no berço e colocou junto de Xeréu - Tem alguém aqui que já mamou, trocou a fralda, e agora está querendo brincar...

- Cadê a princesinha do pai? - ele esfregou o rosto na barriga da pequena, provocando risos dela, enquanto Antero vinha correndo se juntar a eles.

- Papai! Me leva no cavalo? - o menino pediu ao mesmo tempo em que subia na cama.

- Mais tarde, filho, depois da lida. Vem cá - o violeiro puxou o pequeno com um braço, enquanto segurava Madeleine com o outro, e apertou os dois filhos juntos - Coisa boa acordá com meus fiote!

Irma sorriu com aquela cena de seus três amores juntos, e saiu para fazer o café, sentindo o coração aquecido.


Depois daquele churrasco, as rodas de viola voltaram a ser mais frequentes na fazenda, mas Irma sempre se esquivava quando surgia a ideia de um novo evento grande. Com a proximidade do primeiro aniversário de Madeleine, Jove avisou que não abria mão de comemorar a data com uma festa como sua afilhada merecia,e que Filó já estava planejando o bolo mais lindo que já fizera. A tia deu-se por vencida. Mas depois, a sós com Trindade, comentou que gostaria de fazer também uma comemoração íntima, só os quatro.

- É uma boa ideia - o marido ficou pensativo.

- A gente podia fazer um piquenique com as crianças. Vai dar trabalho, mas vai ser gostoso, um programa diferente - ela sugeriu com entusiasmo.

Xeréu parecia estar lembrando de algo e fazendo planos mentalmente:

- Domingo. Ocê prepara a cesta e a toalha, que eu tô pensando num lugar.

- Onde?

- Surpresa - ele sorriu de um jeito misterioso.

A ruiva o encarou, apreensiva:

- Ai, Trindade, não esquece que vamos com duas crianças pequenas, e teu filho é bem levado.

- Ah, agora é só meu fio?- o peão provocou, querendo rir.

- Claro que não. Mas o jeito destemido, com certeza o Antero puxou de você - Irma rebateu no mesmo tom.

- Pelo que eu me alembro, era ocê que me pegava de susto no galpão, na cocheira, em vários canto dessa fazenda, sem medo nenhum - ele devolveu com ar divertido.

- Mas foi você quem me deixou desse jeito - ela retrucou com um olhar malicioso - E bem que gostava das minhas surpresas...

- Ô se gostava... melhor hora do dia! - Trindade fechou os olhos por um instante, como se fosse longe - Lembra quando seu Zé Leôncio pegou a gente na cocheira?

- Lembro! - a mulher riu com gosto.

- Eu não sabia onde enfiava minha cara - o violeiro agora estava mais sério.

Mas Irma continuava sorrindo:

- Pois eu não fiquei com vergonha, não. E quando o Zé veio com um papo de preocupado comigo, eu disse que você me amava como nenhum homem tinha me amado antes.

Momentos Felizes da família Novaes TrindadeOnde histórias criam vida. Descubra agora