discretas

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Eu já estava começando a ficar iludida, ela estava me dando sinais tão sutis tal qual um elefante em um pula pula de criança, eu estava começando a me sentir muito culpada, sentindo como se estivesse traindo Eduardo, ainda mais com uma mulher, ele nunca vai merecer uma traição, apesar de tudo, eu não era esse tipo de pessoa, eu era uma chifruda com consciência, eu amava meu marido, eu sou hetero!, Trair o marido e o de menos, estou sentindo coisas estranhas por uma colega igualmente hetero, eu tentava esconder esse sentimento a todo custo, mas as vezes eu me pegava conversando com ela e sorrindo pelo celular do lado de Eduardo, não eram conversar fora do contexto estabelecido normalmente como "amizade", era bem normal, mas eu adorava. Ela era bem mais atirada e sem papas na língua, e me elogiava a todo momento sem vergonha nenhuma, eu sempre fui muito tímida então... Não sabia o que responder ou simplesmente fingia que não via. Eu já fiquei triste quando em algumas sessões no plenário o debate era tão intenso que nós não tínhamos tempo nem pra se olhar, ela ainda tentava sentar do meu lado todos os dias, mesmo assim, a única coisa que tínhamos era um encontro de olhares rápidos ou uma piscadinha de olhos quando uma das duas se encarava demais. Ela já estava sendo uma melhor amiga pra mim, mas cogitei ser um pouco mais que isso, eu não tinha notado até o dia que tive um sonho com ela.

Éramos casadas, tivemos três filhas e vivemos uma vida inteira juntas, senti os anos passarem, cada toque, cada respiração, cada beijo. E tudo entrou em colapso quando ela pegou em minha mão e disse "quando acordar, lembre de mim" e em desespero acordei, foi tudo um sonho, um maravilhoso sonho. Que se transformou em pesadelo, aquele sentimento ficou em meu peito, era infundável sentir isso ainda mais por um sonho, mas quase entrei em depressão, queria aquilo de novo, e quando encontrei Soraya na câmara rindo com alguns colegas distraída senti aquele sentimento do sonho voltando com tudo, e parece que transferi tudo pra ela, despejei em cima dela, tudo aquilo. E não sei que estava passando pelo filtro da ilusão, mas pra mim parecia que ela tava dando em cima de mim. Ou era o jeito dela que era assim com todo mundo?
Em um dos momentos que tive a certeza foi quando, eu apoiei um papel na parede pra assinar e senti braços ao redor da minha cintura, e soltei um gemido de surpresa quando meu corpo de chocou contra a parede, ela ficou na pontas dos pés e colocou a cabeça perto do meu ouvido "porque você não veio semana passada em Monalisa" demorei séculos pra conseguir formular uma frase e mesmo assim saiu esdrúxula, e bem super ficial, virei um pouco o rosto pra olhar em seus olhos e nunca me controlei tanto para beijar alguém, até ameacei ir, e ela nem se moveu, como se esperasse, mas não fiz e me arrependi amargamente. Ela pegou a mania de me abraçar por trás e falar perto dos meus ouvidos, meu corpo inteiro entrava em pane.

E quando não tentava de alguma forma sempre encostar em mim, pegar em minha mão, coxa, ombros... Eu estava imersa nessas teorias, mas enquanto vida eu tivesse NUNCA perguntaria algo à ela. Éramos mulheres de meia idade, com filhos e maridos, famílias formadas e segundo ela pelo menos um casamento maravilhoso, eu não me deixaria levar por pensamentos adolescentes bobos, embora já esteja imersa neles. Na cabeça pode ficar, fora dela nem pensar.

"Mone! Eu tava pensando aqui! Eu sei que você não e muito de sair, de beber, e se divertir mas eu e as meninas estamos pensando em ir em algum evento, aceita ir comigo?."

Na verdade não queria, mas a Soraya parecia um pouco nervosa e com medo de perguntar e deixar a situação chata só iria piorar.

"Que meninas"

"Ah as de sempre, elisangela, marta, Soraya, elzimara e eu... E você também"

Pensei seriamente em recusar

"Quando vai ser o evento? Que horas? Vai tocar que tipo de música?"

"Perai" ela pegou o telefone e discou um número.
"Oi, eai tudo bem, então... Você tem o alvará do lugar? E que a doutora quer analisar se todos os vasos tem assento e se tem rampa também pra deficientes. Se puder mandar a descrição detalhada do lugar."

Ilusão: O querer não é poder, o poder é não quererOnde histórias criam vida. Descubra agora