Ilusão: O querer não é poder, o poder é não querer

Soraya

Não sei quando isso começou, eu só sei que notei ela quando no primeiro dia que entrei no senado, a Simone brigou com uns três idiotas por minha causa, eu me lembrava dela, ela tava um pouco mais velha mas ainda tinha aqueles olhinhos brilhantes... Era a minha professora, eu sei que ela não lembraria de mim, mas eu lembro muito bem dela, ela me impulsionou a ser alguém melhor, e sempre notou que eu me sentia insuficiente e sinceramente... Eu achava que ela tinha uma quedinha por mim na época, por mais que eu fosse um bolo fofo, eu achava! Ate falar com ela e ela dizer que se lembrava do meu nome, mas não se lembrava muito de mim, até desanimei! Mas pelo menos estamos aqui juntas de novo, e a todo momento ela dizia que se sentia orgulhosa de ser minha colega de trabalho. ela era aquele tipo de pessoa católica, conservadora que amava a família acima de tudo, e o marido a cima de todos. Como que consegue? Eu tive que abrir meu casamento desde sempre, e o Cesar nunca foi contra, eu não conseguia entender como que conseguiam passar tanto tempo juntos sem se envolver com outras pessoas, apesar disso eu sentia uma vibe tão gay nela, uma coisa mais incubada e tímida que me atraia demais. A minha sexualidade nunca foi um tabu, sempre fui assim, e minha família sempre aceitou muito bem.

Foi um caos meu primeiro dia no senado, eu amei demais, nunca ri tanto, bem no dia que eu cheguei tava tendo uma briga, pedi até pra um senador me gravar, aqui era o máximo! Foi quando eu vi ela! Com cara de brava olhando pra frente, meus batimentos erraram. Mas ela foi tirada bem rápido da minha cabeça, meu marido tinha me trazido flores! Que lindo! Eu fiquei muito emocionada, ele não me dava muitas flores mas isso me quebrou, eu amava esse homem. E pra minha surpresa ela chegou em mim mais tarde me cumprimentando e eu tive que dizer que ela foi minha professora, ela ficou bem surpresa mas muito feliz. Olhei de cima a baixo, ela exalava o puro poder! Era desse jeito que eu gostava! O tempo foi muito bom pra ela.
   Mas eu só realmente notei e vi ela com uns olhares de empatia quando eu vi ela chorando escondido no banheiro, depois de uma discussão muito feia no senado.

"Tá tudo bem?"

Aí Soraya! Claro que não tava bem, ela tá chorando! Ela olhou pra cima e meu coração quebrou, nunca tinha visto essa mulher chorar.

"Tá, tá tudo bem."

Eu não continha abraços ainda mais pra quem eu via sofrendo, ela não pediu! Mas eu abracei ela, ela ficou super desconfortável, mas quem ligava?. Ela se soltou logo depois e chorou muito mais. Nesse momento eu soube que me importava com dela.

Durante bastante tempo tentei deixar bem claro que eu gostava dela, sempre puxando assunto, encostando, jogando um charme, sorrindo pras piadas secas dela. Eu me sentia um pouco a baixo do nível dela, mas é óbvio que não demonstrava e até fingia que essa coisa não andava comigo. No fundo eu só queria um beijo, porém já no primeiro ano eu desanimei, ela não demonstrava nada de muito surpreende, nem uma reação, a única vez que ela demonstrou alguma coisa era quando algum homem tentava me impedir de falar ou gritava comigo, ela vinha que nem uma fera.

Em uma ocasião muito especial, teve uma homenagem pra ela, e o marido dela apareceu, ele me explicou a surpresa que ia acontecer e eu topei participar, mas quando vi eles se beijando eu já desisti, mas segui né! Eu estava feliz por ela, e se ela estava feliz. Eu também estava.
Essas pequenas coisas foram acontecendo, e eu não sei em que momento essa admiração acabou de tornando uma paixão incubada, eu não tinha com quem dizer essas coisas, mas tinha o Diego! Meu irmão de outra mãe, ele era a minha alma gêmea, eu amava ele de coração, e ele me escutou e me aconselhou, sempre me julgando é óbvio! E Robertinho do Guaraná também, eles foram meus melhores amigos, até eu receber a fatídica notícia que o Roberto tinha falecido, meu mundo caiu. E meu coração se partiu pra sempre, nesse tempo a Simone pareceu me notar, mas ela não entendia o porquê eu estar tão triste, ela não sabia que eu e ele fomos amigos.