Ilusão: O querer não é poder, o poder é não querer

briga e reconciliação

Já se passaram semanas, e eu ainda não consegui nem olhar na cara da Soraya, e ela também não fez um único esforço pra falar comigo, ela ainda apareceu com a aliança no dedo, talvez o marido dela tenha desculpado ela, e se ele aparecer na minha frente um dia, eu esqueço até como se anda. Pelo menos ele não contou nada para o meu marido, ex marido!, Eu estava muito preocupada com a repercussão que isso causaria.
Eu queria tanto falar com ela, queria perguntar se ainda poderíamos ser amigas, eu sentia falta dela, mas eu acho que estraguei todas as chances disso acontecer com aquele beijo, apesar de que eu não beijei sozinha. Hoje ela apareceu no plenário um pouco mais desarrumada que o costume, só uma calça e uma blusa de alça, ela já ia se sentar do meu lado, mas me olhou de longe e foi sentar nos últimos assentos atrás de mim. Isso trazia um sentimento tão amargo na boca.
Conversei com a elzimara senadora por um tempo, já que não tinha Soraya, eu tinha que socializar com outra. E ela era bem legal, eu tinha muito mais tempo aqui do que ela, ela chegou praticamente ao mesmo tempo que a Soraya. E tínhamos tambem alguns assuntos em comum, eu nunca imaginaria. Depois de várias horas jogando papo fora um milagre aconteceu! A Soraya se sentou do meu lado, ficou calada, mas ainda sim sentou, se ela queria bancar a "menina malvada" que faz o voto de silêncio, assim vai ser, eu era bem pior. Eu saí de perto dela e fui sentar do lado da elzimara na bancada da frente, e que por conhecidencia eu ficaria bem na frente da Soraya.

"Eu queria ter te conhecido mais cedo, mas por incrível que pareça eu sou vergonhosa."

"Eu confesso que te achava a mulher mais chata da câmara, mesmo se tu falasse comigo eu iria ignorar."

Ela tinha um sotaque maranhense muito carregado

"Eu acho que a assembleia inteira acha isso."

"Nem todo mundo, a sua namorada parece tão apaixonada por você"

Eu comecei a rir de desespero, que namorada era essa?

"Que? Eu não tenho namorada. Eu sou casada! Com um homem!"

Ela arregalou os olhos e começou a rir também

"Meu deus! Desculpa! Mulher do céu, eu achei que ela era sua namorada."

Ela apontou pra Soraya, eu imediatamente virei e depois de semanas eu e a Soraya nós encaramos, e apesar da máscara no rosto, eu vi ela ficando envergonhada, era a primeira vez que eu via isso, a Soraya envergonhada!

"E que vocês andam sempre juntas, e vocês se olham de um jeito... E você foi lá na mansão aquele dia... Mas desculpa viu." Ela continuou, todo mundo percebia isso? Todo mundo achava que nós éramos um casal lésbico?

"Tá tudo bem."

Eu dei mais uma olhada pra Soraya, e ela estava olhando pro outro lado da sala, o rosto todo vermelho. Ela era tão fofa! Por mais durona que ela demonstrasse eu sabia que dentro ela tinha um coração de manteiga.

Eu queria manter minha promessa de não falar com ela, mas o universo estava me mandando sinais sutis de que eu tinha que falar com ela, como: ficar trancada dentro do salão azul, e as saídas de emergência estavam todas emperradas, imagina se fosse uma urgência, todos nós tínhamos morrido, eu fui a primeira a sair quando a sessão foi encerrada, mas esqueci algumas coisas em cima da mesa, e voltei pra buscar, a Soraya ainda tava lá mexendo no celular, e tinha mais umas oito pessoas lá dentro. Eu só notei que tinha algo de errado quando um moço começou a gritar e batendo com violência na porta, algumas pessoas foram tentar abrir as saídas de emergência mas todas estavam emperradas, tentamos contato com os seguranças e nenhum respondia, só podia ser um castigo! Eu fiquei calma, até porque uma hora eles iriam abrir. A Soraya ainda desacreditada que ninguém conseguia abrir a porta, foi tentar

"Vocês não estão fazendo direito, deixa eu..."

Ela empurrou a porta e a porta nem se mexeu, e mesmo assim ela começou a chutar e empurrar a porta como se uma mágica fosse acontecer.