5 de abril de 2019

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Day 4

A última voz familiar que Five havia escutado era a de Reginald dando uma bronca à ele quando colocou no café da manhã sua ideia de viajar no tempo à mostra.

Apesar daquela voz que o dava medo vir de alguém que ele nunca o considerou como pai e o subestimou a vida inteira, ele não esperou ser exatamente essa voz depois de quase dois dias falando "eu avisei" enquanto ele cavava a terra com as suas próprias mãos e algumas vezes apalpava o bolso de seu blazer quando guardou lá uma prótese de olho que achou na mão do Número Um.

O cheiro da morte que os cercava impossibilitava que eles pudessem comer qualquer coisa sem que quisessem vomitar, mas isso não mudava muita coisa quando eles nem ao menos conseguiam colocar algo em suas bocas.

Seus estômagos já estavam vazios, algumas vezes Five lembrava dos bolos que Grace assava e Pacífica lembrava do aroma de biscoitos de chocolate que ela fazia quando ficava sozinha em casa.

Nos poucos minutos que ocasionalmente eles paravam para descansar, nenhum dos dois comeu ou bebeu alguma coisa.

Eles aos poucos foram assimilando enfim a situação em que estavam, mais do que apenas os corpos dos irmãos de Five espalhado, mas aparentemente o mundo todo havia morrido.

Eles se deram conta de que estavam sozinhos.

Pacífica tentou chorar. Ela tentou tirar a angústia que carregava em seu peito. Ela tentou chorar quando terminou de enterrar aqueles quatro corpos.

Ela chorou vendo o sangue misturado com terra abaixo de suas unhas e se dando conta do cheiro de cadáver que penetrava neles e ao seu redor.

Mas a rouquidão em sua garganta quando tentava fazer isso apenas a alertava que as coisas estavam mais difíceis.

Nenhum dos dois de fato falaram alguma coisa em mais de vinte e quatro horas além de alguns resmungos e murmúrios, mas Five se viu chamando por ela quando Pacífica desmaiou por alguns segundos após reclamar sobre algumas náuseas e a bile subindo pela sua garganta.

Quando ela aos poucos retomou a consciência, ele não pôde deixar de soltar um suspiro aliviado por saber que ela ainda estava viva.

Talvez Five não tivesse a certeza disso naquela época, mas ele sabia que era egoísta o suficiente para desejar a companhia dela no fim do mundo. Porém, ele só foi descobrir algum tempo depois que a companhia dela havia se tornado muito mais do que apenas uma pessoa com quem ele vagava dia após dia pela Terra, e sim alguém que ele nunca mais se via longe.

Mas por ora, fraco o suficiente para andar e a voz até mesmo rouca para perguntar como ela estava, o garoto se abaixou e segurou no braço dela, os saltando até uma loja de conveniência onde ele sabia da existência e que não ficava tão longe assim da Academia.

Quando ele a deixou encostada num pedaço de meia parede que havia ali, Five andou através do mercado achando algumas garrafas de água e todo o tipo de comida variada e para todos os gostos que ele poderia achar.

Bem, o mundo era todo deles, as comidas e bebidas do mundo eram todos deles. E ele pensou nisso quando abriu uma das garrafas e passou primeiramente para ela, esperando que Pacífica recuperasse parte da consciência, e então estendeu um pacote de salgadinho.

Quando ela parecia um pouco melhor, foi a sua vez de beber algo e se alimentar.

E os dois ficaram ali até passarem mal, se alimentando mais do que seus corpos necessitavam, apenas para saciar aquela fome incontrolável que eles ignoraram nesses dias.

Apesar da situação em que estavam e do cansaço consumindo cada parte de seus pequenos corpos, os dois nem ao menos haviam cogitado dormir e descansar.

O medo do que havia acontecido e de ficarem presos ali os rondava frequentemente.

Five ainda não havia começado a trabalhar nas suas equações. Números nem passavam pela sua cabeça enquanto enterrava seus irmãos, mas ele sabia que se houvesse alguma chance de retornar e voltar para casa, logo teria que começar a fazer isso.

Então, quando estavam um ao lado do outro dividindo o sexto pacote de bolacha, Pacífica nem ao menos havia se dado conta de quando seu corpo protestou contra ficar acordada e aos poucos foi lhe fazendo desmaiar de cansaço, se inclinando e encostando a cabeça no ombro de Five.

Ele não gostava que o tocassem. Havia crescido em uma casa onde o treinamento corpo a corpo e as incessantes missões que iam o acabavam traumatizando com cada machucado que era desferido em sua pele e o fazia cada vez mais recuar até mesmo quando seus irmãos queriam brincar.

Mas ali, sentindo a batalha que estava perdendo contra manter seus olhos abertos, ele suspirou fundo e se inclinou para o lado, descansando sua cabeça no topo da cabeça dela enquanto seus braços roçavam um no outro.

Hard To Love - Five HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora