28 de agosto de 2019

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Day 150

Five nunca havia se preocupado em ter algo que o pudesse fazer se lembrar de casa. Ele nunca precisou.

Não havia o porque ter carinho pelo lugar onde ele morava, até porque ele só considerava aquele amontoado de tijolos e concretos como uma prisão para super-heróis para terem seus poderes testados, não um lar aconchegante que você procurava estar após um dia difícil.

Mas naquele fim do mundo, tudo que ele mais desejava era poder estar na Academia novamente, comendo sanduíches de madrugada, brincando com seus irmãos e desafiando as ordens de seu pai.

Dizem que os olhos são a janela da alma, mas já faziam meses que os olhos do garoto não brilhavam mais. Estavam opacos, sem vida, esculpindo a imagem de uma infelicidade crônica que mata devagar por dentro.

Five era apenas um garoto de 13 anos, e a tristeza que habitava nele era facilmente assemelhada a de um homem que viveu por anos com experiências de uma vida inteira carregada em seus ombros curvados.

Talvez ele não estivesse muito diferente em alguns anos se ainda tivesse permanecido na Academia, mas a vida havia sido cruel demais ao castigar apenas um garoto a viver essa vida.

Pois agora, seus olhos eram de seca, olhos de assassino.

Olhos de alguém que aos poucos parecia estar desistindo da vida.

Esse pensamento constantemente o levava até casa, e mesmo com o passar dos dias e as coisas que tinham que deixar para trás, a gravata pertencente ao uniforme que ele antigamente usava diariamente estava guardando no fundo de sua mochila, uma lembrança clara dos dias que jamais voltariam.

Ele nunca comentou isso com ninguém, ele nunca iria admitir uma fraqueza para alguém, mas Pacífica sabia pelo apego que ele tinha na mochila que carregava algo especial.

Todos os dias, todas as noites, ele apenas desejava poder estar em casa novamente, mas a realidade com que ele acordava todos os dias o fazia acreditar que não tinha mais nada esperando por ele, que deveria de uma vez aceitar esse destino, mas por que era tão difícil?

Não estava em seu sangue desistir das coisas, pois desde cedo Five havia aprendido a competição com seus irmãos e os eternos esforços para se tornar o melhor, mas ele também não tinha mais seus irmãos com ele, não tinha seu pai, sua mãe robô e nem menos Pogo.

Olhando para Pacífica que dormia alguns metros longe dele, Five se perguntou se ela apenas falava que não o culpava pela situação em que estavam para não o pressionar. Ele faria isso se estivesse no lugar dela, não faria?

Ele de fato não sabia. Pacífica nunca mostrou saudades de casa, de seus pais ou de algum amigo. Ele nunca a viu guardar algo que se lembrasse de sua realidade igual ele fazia com medo de enlouquecer.

A curiosidade algumas vezes o fazia questionar como era a vida dela, se por alguma circunstância era tão ruim como a dele, que esse foi o motivo que os levou a ficarem presos juntos no fim do mundo. Por que ela dentre todas as pessoas?

Havia algo entre duas crianças destinadas a ter uma vida miserável que os uniu?

Ele nunca pode achar uma resposta para isso, mas pelos anos seguintes que eles permaneceram juntos, a vida tratou de lhes de responder.

Hard To Love - Five HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora