7 de abril de 2019

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Day 6

Quase uma semana havia se passado desde que ambos haviam caído naquele inferno na Terra. E ao contrário dos planos de Five, ele mal havia sequer pensado em números para os levar novamente.

No dia após que os dois amanheceram nas ruínas da velha loja de conveniência, foi a primeira vez que Five teve a coragem de abrir o livro escrito pelo seu irmão, Viktor, alguns anos antes do fim do mundo.

Ele realmente preferia ter feito isso completamente sozinho e longe dos olhos curiosos da garota, mas como o menino que sempre foi responsável por se colocar na linha de fogo quando necessário para salvar os irmãos, ele não pode deixar de ficar preocupado com Pacífica que ainda estava extremamente fraca para sair de onde estavam.

Então, lendo em voz alta para ela, Five aos poucos foi descobrindo sobre seus irmãos e o que levou a cada um. E o pouco que ele sabia já podia ser antecipado que poucas coisas boas haviam acontecido na vida deles, como foi quando por intermédio do capítulo de seus outros irmãos que ele soube de Ben.

Após passar por Luther que havia sido mandado para a Lua, Diego que trabalhava combatendo o crime ainda como um Umbrella, Allison como uma super-estrela de Hollywood com uma filha, Claire, que Five já amava e considerava como parte da família, e Klaus onde ele descobriu que os vícios apenas evoluíram para outras drogas e overdoses, finalmente ele havia chegado no capítulo onde tinha seu nome como título, e por um momento, era como se ele houvesse esquecido como se lia.

Após esses dois dias que se passaram, Five esperou que Pacífica estivesse bem o suficiente para ele saltar para algum lugar e ler sozinho. Mas por mais que não gostasse de admitir — e provavelmente ele nunca admitiria isso para ela —, ele descobriu naquele exato momento que não suportaria saber sozinho o que foi deixado para trás das lembranças dele.

E foi isso que o levou a pedir que ela lesse para ele. Five não suportaria fazer isso sozinho. O destruiria ainda mais.

"Você tem certeza?" Pacífica perguntou sentando ao lado dele e abrindo o livro na página que estava marcada por um pequeno pedaço de papel. "Olha, eu entendo se você quiser fazer isso sozinho, é você e sua família, talvez seja pessoal-"

"Só vamos fazer isso logo" Ele piscou extremamente cansado, lutando para continuar com os olhos bem abertos e atentos.

Pacífica assentiu positivamente uma vez enquanto o analisava, ainda sentindo suas mãos tremendo de nervosismo e talvez ainda dos sintomas da desidratação.

Respirando fundo, ela começou a ler. "Five Hargreeves, o quinto de nós." O título foi como um soco no estômago para tomar toda a atenção dele. "Era estranho termos que mentir para os outros dizendo que nosso irmão estava morto. Era mais fácil do que dizer que ele simplesmente havia sumido através do tempo. Nós recebiamos semanalmente dezenas de caixas de pelúcias, cartas, lamentações de fãs que realmente acreditavam que ele havia morrido, e a verdade é que nós nunca pudemos desmentir porque nunca soubemos de fato o que havia acontecido. Klaus tentava conjurá-lo toda noite e Reginald acreditava que ele havia se perdido no tempo, mas havia uma parte de mim que nunca desistiu de ter esperança que ele sempre voltaria com seu orgulho intacto e nos contaria aventuras sobre o futuro. Eu esperei ele com sanduíches de manteiga de amendoim e marshmello. Ele nunca voltou."

"Five não me odiava por ser comum. Ele não reclamava quando eu treinava violino até certas horas da noite e brigava com nossos irmãos quando eles gritavam comigo. De certa forma, por muito tempo eu achava que ele era o único amigo que eu tinha naquela Academia, e isso fez falta para a minha vida, por mais egoísta que pareça."

"Uma vez conversamos sobre como queríamos ser quando crescessemos. Eu admiti que sonhava em ser um grande violinista e acho que acabei fracassando nas minhas tentativas. Ele nunca soube ao certo o que gostaria de ser, só sabia que era bom com números, tanto que algumas vezes Reginald o obrigava a nos ajudar com algumas lições de casa. Ele teria sido um bom professor."

"Eu acho que teria traumatizado meus alunos." Five comentou cabisbaixo, seus olhos brilhando das lágrimas que ele não ousou deixar derramar.

"Você ainda tem tempo de tratar essa cabeça quente." Pacífica riu, tentando dispersar a tristeza no rosto dele. Ela não entendeu o porquê, mas sabia que odiava vê-lo daquela maneira. "Você pode ser um bom professor numa boa universidade."

"Professor do que?"

"Bem, você viaja no tempo e parece entender bastante sobre esses negócios." Ela refletiu sobre a curiosidade dele. "Talvez um professor de física?"

O garoto ficou em silêncio pensando em sua resposta por alguns segundos. Sabendo que provavelmente ele não falaria nada a respeito disso, Pacífica assentiu silenciosamente uma vez e voltou a leitura.

"Nós não brincávamos como todas as crianças normais da nossa idade e mal sabíamos como era o lado de fora daquelas paredes da Academia, mas nosso irmão nos teletransportava até o Griddy's Donuts e sempre comíamos até passar mal e irmos para casa com a barriga doendo e torcendo para que nosso pai não tivesse sentido nossa falta nesse meio tempo. Ele raramente notava nossa falta, o escritório era mais importante do que sete filhos."

"Não éramos realmente uma família unida e feliz, mas Five acabou sendo meu melhor amigo por mais que eu nunca houvesse de fato confessado isso a ele. Mas além de mim, ninguém conseguiu de fato superar a ida dele. Nós ainda sentimos sua falta sempre que passamos por alguma foto de família ou vemos a enorme pintura que Reginald encomendou para Five e pendurou acima da lareira. Havia noites quando crianças que aquela era a nossa única certeza que ele era real."

"Entre discussões onde eu era alvo de julgamento dele por admitir em voz alta que Romeu e Julieta era um bom romance ou quando ele saltava até meu quarto para me acalmar nas noites em que as palavras frias de Reginald me atingiam, essas foram as boas e velhas lembranças que eu tenho dele cada vez que vejo como nossa família se tornou incompleta."

"Naquele dia quando ele foi embora eu não perdi apenas um irmão, mas também o meu melhor amigo e a única pessoa que eu podia contar naquela casa."

"Sinto sua falta. Por favor, volte."

Pacífica virou a página vendo que o próximo capítulo sobre seu outro irmão se iniciava, e então ela ficou em silêncio quando fechou o livro e estendeu para ele, ainda recebendo o silêncio do baque das palavras de seu agora falecido irmão.

"Viktor parecia ser um irmão incrível..." Ela refletiu passando os dedos através da capa que contava com a foto dele. "Ninguém te esqueceu, isso é bom, porque significa que eles se importam com você o suficiente para sempre ser lembrado e terem ansiado pela sua volta-"

"Importavam." Ele corrigiu. "No passado. Eles estão mortos agora."

Pacífica ficou em silêncio com a sua fala repentina. Ela sabia que de fato não tinha lugar de fala naquele momento quando não sabia da dor dele em relação a sua família.

Por mais que a palavra 'família' viesse à tona, a garota de fato não conseguia se sentir mal pensando em seus pais. Ela mal conseguia lembrar de quando realmente se sentiu em casa com eles. Ela realmente teve um lar algum dia?

"Nós vamos voltar..." Relutantemente, Pacífica estendeu sua mão até as costas dele, tentando confortá-lo. "Eu sei que não sou a pessoa mais inteligente desse mundo e mal chego ao seu nível, mas se você quiser ser um professor algum dia, tem que começar por algum lugar, e talvez você possa me ensinar esses cálculos para voltarmos."

"Não é algo fácil." Ele falou mais calmo.

"Eu sei, mas é melhor do que assumir todo esse peso sozinho."

Five olhou para ela e a agradeceu silenciosamente, sabendo que se falasse alguma coisa, haveria o risco de estragar aquela minúscula confiança que ela tinha nele.

Ele pegou o livro de Viktor e abriu numa das últimas páginas, onde havia mais espaços em branco livre para ele escrever.

"Vou começar te explicando sobre a teoria da relatividade..."

Hard To Love - Five HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora