10 de julho de 2019

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Day 100

"Alguma vez já te falaram como você parece um desastre nisso?" Pacífica declarou quando as duas crianças estavam tentando cozinhar algo na pequena cozinha improvisada que elas haviam feito.

Claro, fazia muita falta uma geladeira que pudesse conservar alimentos visto que alguns dias eles sequer comiam algo, mas hoje foi o dia que ambos decidiram preparar algo para comer e comemorar quando Five teve um leve vislumbre do seu poder talvez voltar a funcionar.

Não era algo concreto, mas naqueles dias obscuros que ambos estavam presos servindo como uma luz de esperança.

Usando um pequeno apoio de metal e uma fogueira que seguiu feito do lado de fora de sua "casa", eles montaram um pequeno fogão que serviu perfeitamente, visto que Pacífica havia levemente queimado a ponta de seu estômago quando tentou arrumar a posição de uma panela.

As panelas não eram algo tão revolucionário quanto poderiam se formar no fim do mundo, mas após algumas lavagens, elas podiam muito — com eufemismo — comparar aquela pequena cozinha improvisada com algo que aguardava um chef sofisticado.

"Não é minha culpa, nós mal temos uma tábua para cortar as coisas!" Ele se defendeu visivelmente irritado. "Além disso, não é como se eu tivesse me formado num curso de culinária pós-apocalíptica."

"Não é minha culpa que você nunca ajudou sua mãe a fazer comida."

"Ela era literalmente um robô!"

Pacífica ficou em silêncio e se tornou com a testa franzida para encará-lo. "Isso é sério?"

"Do chimpanzé mordomo você não duvidou." Ele lembrou. "Por que uma mãe robô é tão estranha?"

"Não sei." Ela disse com sinceridade. "Seu pai nunca quis casar com alguém humano?"

"Eu duvidaria que alguém pudesse gostar dele a tal ponto de fazer isso, talvez seja aí que entre a mãe robô." Se havia tristeza em suas palavras, ele não demonstrou em sua feição.

De primeira mão, Pacífica pode perceber como o garoto não parecia ter muito afeto com seu pai. E mesmo não sabendo ao certo os motivos para isso, ela acreditava fielmente em Five em relação aos seus pais.

Na verdade, parecia ser muito mais fácil acreditar em pais ruins do que pais bons. Ela cresceu em um ambiente hostil com abusos a perseguindo desde que se conhecia por gente.

Os dois poderiam concordar que tinham inveja de famílias felizes e com relacionamentos saudáveis.

"O livro de Viktor não falava nem um décimo do inferno que acontecia naquela casa graças a ele." Ele deu de ombros antes de cortar a embalagem de macarrão instantâneo que acharam numa vendinha de esquina. "Acho que estar aqui preso num apocalipse foi um caminho melhor do que aquele que meus irmãos permaneceram com ele."

"Realmente não gosta dele."

"Não daria um prêmio de pai do ano para Regianald."

Pacífica murmurou em concordância. "É estranho quando as pessoas que deveriam nos proteger, são as causas dos nossos traumas."

"Não tinha uma boa relação com seus pais também, não é?" Five perguntou lembrando do primeiro dia que haviam chegado, quando ele encontrou hematomas no braço da garota.

"Digamos que tem uma parte minha que prefere ficar presa aqui o resto da minha vida do que voltar para as mãos do meu pai." Suas palavras foram como um choque de realidade percorrendo pelo seu cérebro e corpo, e foi então quando surgiu outra dúvida. "É... o que vamos fazer quando voltarmos? Tipo, se formos para nossas épocas em que desaparecemos."

Five pensou por um momento. Era algo difícil de se imaginar já que ele estava começando ficar confuso em relação aos seus poderes.

"Bem, eu te disse uma vez que você poderia ir comigo para a mansão, mas pensando bem, eu não sei se quero voltar para Reginald e suas broncas o dia todo falando como eu sou um fracasso."

Os olhos da garota suavizaram a ele. "É isso que pensa de si mesmo?"

"Deixei nós dois presos aqui, é o que eu sou." Five não estava procurando pena de ninguém, apenas esperando que alguém pudesse entender o fardo que ele carregava por colocar a vida dos dois à prova de sobrevivência. "Eu mal sei como fazer um macarrão."

"Você se culpa por coisas que não estão no seu controle." Northwest calmamente falou e foi até seu lado, ajudando a medir a quantidade para colocar na panela em que a água já fervia. "Você não conseguia prever que iria parar no fim do mundo. E bem, nunca fez um macarrão para saber a quantidade certa." Um leve riso no final tirou a tensão do momento que penetrava nos dois.

O silêncio pairou por eles por alguns segundos antes do garoto se virar novamente para ela, mais dúvidas surgindo em sua mente.

"Pacífica?"

"Hum?"

"E se eu não conseguir nos levar de volta?"

Ela pensou por um momento. "Eu... não sei." A dor de pensar sobre aquilo atingiu os dois, e principalmente, aumentou a pressão sobre Five. "Eu não te culpo pelo que aconteceu. De qualquer maneira, eu estaria nas ruas ou num abrigo para crianças. Aqui, pensando bem, ainda sou livre e tenho um amigo, e além disso, temos um mundo inteiro para conhecer. A destruição não pode ser a única coisa que vamos encontrar. Deve ter algo, certo?"

"Tudo acabou..."

"Nem tudo. Quero dizer, ainda temos um ao outro, e amigos de verdade nunca abandonam os outros nas horas ruins."

Five revirou os olhos. "Que clichê."

"Você que disse que somos amigos." Ela o deu um sorriso convencedor.

"E já estou começando a me arrepender." O garoto foi checar se a água já fervendo. "Então, como eu faço isso?"

Hard To Love - Five HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora