𝕿𝖎𝖇𝖎 𝖉𝖊𝖉𝖎𝖈𝖔 𝖈𝖔𝖗 𝖒𝖊𝖚𝖒

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Te dedico meu coração, onde cada batida ecoa teu nome.


James caminhava inquieto pela mansão, seus pensamentos tumultuados. Desde que ele e Severus se reencontraram, havia um desconforto silencioso entre eles, algo que James não conseguia ignorar. Não era ódio ou mágoa, mas sim uma espécie de incerteza, uma tensão que pairava entre os dois. Eles estavam se acostumando com a presença um do outro novamente, como se fossem dois desconhecidos, tentando reconstruir algo que sabiam que era valioso, mas que estava perdido no tempo.

Apesar da rotina, eles ainda não dormiam no mesmo quarto, e isso incomodava James mais do que ele gostaria de admitir. Não era apenas uma questão física, mas emocional. Ele queria reconquistar Severus, trazê-lo de volta àquele espaço de confiança e intimidade que haviam compartilhado tantos anos atrás. Contudo, as circunstâncias eram diferentes agora. A separação, as memórias apagadas, tudo o que havia sido arrancado deles... eram barreiras reais.

James suspirou, os pensamentos voltando sempre à mesma questão. Como poderia retomar o que foi interrompido à força? Como poderia reconquistar Severus, que agora era uma pessoa mais distante, mais introspectiva? Ele lembrava-se de quando eram adolescentes e de como tudo parecia mais fácil naquela época. Havia paixão, desejo, e mesmo as brigas tinham uma intensidade que, no fim, os unia ainda mais. Agora, era como se estivessem começando do zero, mas sem a leveza de um novo começo.

Severus estava mudado. Sem as influências que o haviam moldado nos últimos seis anos, ele começava a redescobrir partes de si que James não reconhecia completamente. O Severus que James conhecera sempre fora firme, quieto, mas agora havia um toque de liberdade, uma espontaneidade que surgia em momentos inesperados. James o observava, maravilhado às vezes, mas sempre preocupado. Sabia que Severus ainda estava se ajustando, que muitas de suas memórias estavam bagunçadas, e que a dor do que haviam perdido ainda estava presente.

James esfregou as mãos nervosamente, lutando contra o desejo de acelerar o processo. Ele queria estar ao lado de Severus, queria que as coisas voltassem a ser como antes, mas também sabia que forçar isso poderia afastá-lo ainda mais. Havia uma paciência que ele precisaria cultivar, algo que ele não estava acostumado a exercitar.

— Ele precisa de tempo, — James murmurou para si mesmo, tentando se convencer. — E eu também preciso dar isso a ele.

Mas mesmo enquanto dizia essas palavras, um desconforto profundo se instalava. Havia algo à espreita, uma sensação distante de que o tempo estava contra eles. James sabia que, eventualmente, ele teria que lidar com seus próprios desafios pessoais, questões que ele preferia manter à distância para não pressionar Severus. Era algo que ele teria que enfrentar sozinho, sem colocar isso sobre os ombros do ômega.

E ainda assim, havia aquela vontade, aquela ânsia de estar perto, de reconectar. De certa forma, eles nunca haviam realmente se separado. A influência externa os afastou, mas seus corações, seus corpos, ainda lembravam. James sentia isso, um fio invisível que os mantinha ligados, mesmo nos momentos de silêncio mais desconfortáveis.

Mas ele sabia que precisava ir devagar. Seis anos era tempo demais para simplesmente ignorar, e Severus não era mais o mesmo garoto que ele conquistou uma vez. James teria que fazer isso de novo, mas com cautela, com a devida consideração pelo homem que Severus havia se tornado.

Ele olhou para a porta fechada do quarto de Severus e respirou fundo. Haveria tempo para eles, ele tinha que acreditar nisso. Agora, tudo o que podia fazer era estar presente, dar pequenos passos, e esperar que, um dia, Severus estivesse pronto para abrir aquela porta.

Severus estava sentado no sofá da sala de estar, os olhos fixos nas páginas de um livro que ele não conseguia ler. As palavras à sua frente flutuavam em um borrão desconexo, enquanto seus pensamentos se perdiam em outro lugar. Ele podia sentir a presença de James em algum ponto da casa. Era algo que ele sempre soubera fazer, um tipo de sexto sentido que desenvolveu durante os anos de casamento, mas agora, aquilo parecia mais uma lembrança longínqua de uma intimidade que eles já não compartilhavam.

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