Fuga

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- Sabe Leonardo eu li em um livro que algumas pessoas podem acabar se apaixonando por seu agressor, se sente apaixonado por mim?

Perguntou Charles encarando Leo no chão ensanguentado, sem conseguir falar e quase sem respirar, após ser brutalmente espancado por uma barra de ferro, ter tomado vários socos e chutes, tudo isso por ter chamado Charles de louco quando ele tentou ver até onde a barra de ferro iria no ânus do rapaz. Já faziam semanas ou talvez meses desde que Leo estava preso, seu psicológico já havia sido destruído e seu corpo já estava dando sinais de que não aguentaria muito tempo, seus músculos tinha sumido, seus ossos começaram a ficar expostos, a cada dia ele ficava mais pálido, sua barba estava grande e desgrenhada, a cada dia Charles começava a perder o interesse sexual nele e ganhava em ver ele sofrer.

- A querido eu não sou tão mal, você não é mulher e nem criança, então acho que é menos ruim, você aguenta mais. -afirmou sorrindo e dando um beijinho na bochecha dele.

- Me mata logo, não aguento mais. -a expressão de Charles mudou imediatamente.

- Você quer morrer igual aquele desgraçado?! -ele voltou a chutar Leo. - Eu faço tudo por você e é assim que me agradece?!!! -de repente ele mudou de expressão de novo, pegou Leo no colo e o abraçou. - Desculpa querido, eu não queria fazer isso, só queria ficar com você na nossa mansão, a gente ia ser tão feliz, eu até comprei aqueles cachorros idiotas peludos que você queria, eu fiz toda a decoração do jeito que você queria, porque você não está feliz, André?

  Então esse era o nome do homem que Charles amou, foi isso que Leo concluiu, o nome do primeiro a morrer naquele porão. Após alguns minutos abraçado a ele, Charles levantou levando Leo seu colo até o jardim, fazia tanto tempo que ele não via o sol que seus olhos arderam e sua pele coçou, as lágrimas em seus olhos foram inevitáveis, algo como o sol se tornou tão precioso para ele que poderia morrer naquele momento. Mas não durou muito, logo Charles voltou a sua expressão normal e o empurrou de volta para o porão, Leo passou mais de seus dias chorando e lamentando tudo o que perdeu, se ao menos tivesse mantido contato com sua mãe e irmã, elas poderiam ter se preocupado com seu sumiço e ido atrás dele, ou se tivesse feito amizade com alguém, poderia ter se permitido apaixonar também e talvez nem tivesse aceitado esse tipo de trabalho, seu orgulho foi tão grande quando tudo começou a dar errado ele resolveu se prostituir antes de sequer tentar pedir ajuda a sua mãe ou a irmã, depois disso não pode olhar na cara delas com vergonha e agora nunca mais às veria.

  Mais algum tempo se passou, Charles voltou, novamente o espancou dessa vez sem motivo aparente, ele parecia muito nervoso e mais maluco que o normal, dessa vez Leo perdeu a consciência e quando acordou estava na beira da porta imóvel, cheio de sangue e não sentia muitas parte do seu corpo de tanta dor, foi quando ele ouviu alguém batendo na portinha.

- Ainda está vivo? -perguntou a voz de um senhora.

- Acho que sim. -respondeu com falta de ar, ela abriu a portinha por onde passavam água e comida para ele.

- Sinto muito pelo que ele está fazendo com você, mas preciso me apressar. -ela jogou um envelope. - A chave está ai, o senhor Charles vai ficar um mês fora em outro país a trabalho, você precisa desaparecer antes que ele volte, é sua única chance, nesse envelope tem a chave daqui e um mapa, nele mostra os lugares onde as câmeras pegam, o caminho até uma saída no muro que nós usamos para descartar o lixo, tem a chave do portão, espere um pouco, tome um banho, aqui tem uma peça de roupa. -ela jogou uma calça , um moletom e um chinelo. - Siga as instruções, não confie em ninguém, não fale com policiais, o senhor Charles tem muitos amigos na polícia, eles vão te trazer de volta, suma, não deixe rastros de que você sequer existiu ou ele vai te achar, você tem menos de um mês até ele dar falta de você, entendeu?

- Sim...

- Tranque a porta quando sair.

- Obrigado...

- Eu tenho filhos, não posso deixar outro garoto morrer aqui, adeus, boa sorte.

  Leo reuniu suas últimas forças, lavou seus ferimentos, vestiu a roupa, pegou o envelope e leu atentamente o mapa detalhado, ele abriu a porta e quase não conseguiu sair achando que estava sonhando, haviam muitos corredores e câmeras, estava a noite, ele andou com cuidado seguindo as instruções, a mansão parecia deserta, como dizia no envelope de noite os poucos funcionários que faziam a manutenção do local iam embora e ficavam apenas os cachorros e um homem fazendo a guarda, porém confiante nas câmeras, no muro muito alto e cerca elétrica, o homem sempre ficava em sua salinha tirando um cochilo com os cães quando Charles não estava por perto. Leo saiu na parte de trás da mansão e de longe avistou a saída do lixo, ali estava sua tão sonhada liberdade, ele caminhou com dificuldade até pequena porta, abriu e como estava extremamente magro conseguiu passar, Leo atravessou a rua chorando e caminhou por dentro do bosque que indicava no mapa, conforme se afastava da mansão as lágrimas foram se transformando em berros compulsivos, até que ele avistou prédios e a cidade, Leo se recompôs, parou um mulher que ficou assustada.

- Moça... desculpa, posso usar seu celular para fazer uma ligação? -ele havia apanhado tanto que mal conseguia falar direito.

- Não moço, vai me roubar? -perguntou se afastando com medo, já que Leo parecia um morador de rua de tão maltrapilho.

- Não, por favor, é urgente, eu imploro. -a cara de desespero dele acabaram por convencer ela, Leo discou o número de telefone que ficou tentando lembrar durante todo seu cativeiro, o de sua irmã mais velha.

- Alô? -ela atendeu meio confusa, ele voltou a chorar imediatamente por ouvir a voz dela.

- Ana, sou eu, seu irmão.

- Leo, o que houve?

- Me perdoa por sumir, eu estou tão arrependido que você nem imagina, eu amo vocês tanto, você e a mamãe, desculpa me afastar depois que o papai morreu, só quero que vocês me perdoem.

- Está tudo bem Leo, mamãe e eu nunca deixamos de amar você, ficamos com raiva do seu sumiço, mas sempre sentimos sua falta, o que aconteceu?

- Consegue ir para o meu apartamento agora?

- É muito longe Leo, não pode me falar agora?

- Se você não for eu vou morrer em alguns dias, por favor. -Ana ficou meio assustada, o irmão nunca falou assim com ela.

- Está bem, chego lá em quatro horas, meu marido pode ir junto?

- Sim, ele pode ser útil. -Leo desligou o telefone da moça. - Muito obrigado.

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