Família

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  Após sua ligação com Hwan, Yuri preparou um jantar e foi levar ao quarto de Leo, o rapaz estava parado olhando para o nada, perdido em seus pensamentos.

- Eu trouxe um jantar, minha comida não é muito boa, mas é bastante nutritiva. -disse levando um prato e uma garrafa com suco natural.

- Obrigado, não precisava se incomodar. -Leo deu um sorriso de canto.

- Desculpa ter ficado fazendo perguntas mais cedo, eu fiquei preocupado.

- Tudo bem, esse lugar é muito bonito, a casa, a cidade, nunca imaginei que ficaria feliz com um frio desses. -disse lembrando de como era horrível ficar preso sem sequer um raio de luz natural.

- É, aqui é bem frio. -Yuri se sentou no canto da cama e ficou encarando Leo, que desviava o olhar para todos os lugares que não fosse na direção dele.

- Seu pais, morreram a quanto tempo?

- Quatro meses.

- Os dois juntos?

- Sim, eles eram o que se pode chamar de alma gêmea, começaram a ficar doente ao mesmo tempo, eu fiz o melhor que podia para tratar dos dois, levei a bons especialistas, mas eles se foram, juntinhos, na cama do andar de baixo. -Yuri parecia um pouco triste, mas ao mesmo tempo feliz com a história deles.

- Meus pêsames...

- Obrigado, mas eles tiveram uma ótima vida e foram os melhores pais que eu poderia ter, então, tudo bem. -ele sorriu e encarou o prato. - Não vai comer?

- Sim... -Leo deu uma colherada na sopa de legumes e carne, não era muito saborosa, mas fazia tanto tempo que ele não comia legumes que parecia a melhor sopa do mundo. - Está muito boa.

- Coma tudo e beba o suco depois, já volto aqui! -Yuri se levantou.

- Vai aonde? -imediatamente Leo colocou a mão na boca achando que sua pergunta demonstrava que ele queria que Yuri ficasse mais um pouco.

- Eu ia te trazer a TV do outro quarto caso queira assistir alguma coisa, é melhor assistir aqui em cima, o aquecedor funciona melhor que na sala, já volto.

  Era estranho, mas Leo sentia que não queria mais ficar sozinho, toda vez que não tinha alguém por perto parecia que Charles passaria pela porta e ele voltaria para o mesmo pesadelo, isso o deixava inquieto e com o mesmo nó na garganta que sentia em seu cativeiro, passou alguns minutos e Yuri voltou com uma estante móvel e uma TV nem grande, ele ligou e deu o controle para Leo.

- Não vou te incomodar mais, pode ficar a vontade, por favor cuidado com curativos se for tomar banho e qualquer coisa me liga.

- Yuri! -a voz de Leo saiu meio fraca em um tom de desespero que chegou a ficar fofo. - Você... Você disse que queria que a gente fosse amigo e que não gostava de ficar sozinho, né?

- Sim, morar aqui sem meus pais é muito estranho e solitário.

- Então, não quer ver algo comigo?

- Claro, eu ia fazer isso no meu quarto para não te incomodar, mas já que me ofereceu companhia fico feliz. -era difícil saber se o sorriso dele ficava mais fofo pela naturalidade ou pelos olhos grandes e puxados para o lado.

- Obrigado.

  Leo respirou aliviado enquanto Yuri se sentava de novo perguntando para ele do que gostava de assistir. Acabou que o resto da noite foi composta pelos desenhos estranhos que Yuri gostava não só de assistir mas de falar muito sobre eles, normalmente Leo não se interessaria pela conversa, mas estava tão desesperado com medo de ficar sozinho que aquilo acabou se tornando interessante para ele, porém logo Yuri teve que ir dormir para trabalhar no outro dia. Tudo no quarto parecia assustador enquanto estava sozinho, porém depois de algum tempo Leo começou a gritar tendo seus pesadelos, Yuri acordou assustado correndo achando que alguém tinha entrado na casa, ele foi até o quarto com um taco de madeira.

- Leo! -chamou, mas logo percebeu que o rapaz estava dormindo, então ele sentou ao lado da cama e segurou em sua mão. - Ei, está tudo bem.

- Yuri... -ele abriu os olhos e olhou em volta. - Desculpa, eu tenho tido muitos pesadelos.

- Que susto me deu, achei que tinham invadido a casa. -disse dando uma risada e soltando a mão dele.

- Desculpa. -pediu novamente meio envergonhado.

- Relaxa, ainda bem que eu era um ótimo rebatedor, se alguém entrar aqui estou pronto. -Yuri balançou o taco de uma forma meio desajeitada que fez Leo rir. - Precisa de alguma coisa?

- Não, vou tentar dormir sem surtar.

- Olha, meu quarto fica antes do seu, vou deixar a porta aberta, qualquer coisa promete me chamar? -perguntou estendendo seu dedo mindinho.

- Prometo. -respondeu apertando o dedo dele com seu mindinho.

- Certo se descumprir sua promessa posso cortar seu dedo fora entendeu?

  Ao sair do quarto Leo ficou mais alguns minutos tentando se acalmar, Yuri parecia ser a pessoa mais gentil que ele já havia conhecido, como um irmão mais velho ou uma fada madrinha, pensar nisso lhe trouxe um pouco de conforto, mais ainda saber que estava tão longe de Charles e tão longe do seu cativeiro lhe deu um pequeno respiro de paz. Na manhã seguinte Leo levantou cedo, mal havia luz no céu, fez questão de ir fazer um café da manhã e dar uma ajeitada na casa para agradecer Yuri que acordou alguns minutos depois e achou que Leo tinha surtado e sumido ao não vê-lo na cama.

- Leo!!! -gritou descendo as escadas de pijama.

- Aqui. -respondeu com muita calma surgindo atrás dele que tomou um susto por não ter visto o rapaz.

- Quer me matar do coração. -ele o abraçou de forma muito espontâneo e suspirou. - Achei que tinha saído correndo por ai, Hwan me mata se acontecer alguma coisa com você.

- Vocês são bem próximos né?

- Parte da nossa família já se foi e antes disso éramos muito unidos, nós sempre levamos nossos laços familiares muito a sério, agora é só eu, ele, sua irmã, sua mãe e você.

- Me considera da família sem me conhecer direito?

- Claro, se sua irmã ficar triste por acontecer algo com você o Hwan vai ficar triste e consequentemente eu também, mesmo que não fosse por isso estou achando ótimo te conhecer.

- Entendo, eu fui muito tolo, fiquei tão focado em coisas superficiais que nem sabia que minha irmã tinha um ótimo marido e perdi parte da construção dessa família.

- Para falar a verdade até alguns dias atrás eu nem sabia que minha cunhada tinha um irmão...

- É, eu fui embora a uns quatro anos atrás e simplesmente ignorei elas por todo esse tempo, às vezes elas me mandavam mensagem e eu era bem seco. -Leo se encostou no canto da escada demonstrando que sentia muito remorso sobre isso. - Mesmo assim ela veio correndo me socorrer quando precisei, se eu tivesse pedido ajuda para ela anos atrás...

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