Na época da escola, quando meu único momento de lazer era de tarde, antes de ir para as esquinas "bater ponto", tive um livro favorito.
A Divina Comédia não era nem de longe, engraçada, ou o tipo de livro que um adolescente normalmente tem interesse, principalmente na versão tailandesa. Mas foi essa obra que me ensinou a ler, que formou minha gramática e me ensinou a amar a poesia.
Por muito tempo, nunca entendi porque Dante entrou no inferno por uma mulher, uma moça que ele viu apenas uma vez, alguém por quem tinha um vínculo puramente platônico. Tampouco fazia sentido que Virgílio, seu melhor amigo, fosse arrastado para essa Odisseia que não termina exatamente como se espera.
Agora, enquanto o caixão escuro desce no retângulo cavado na terra, onde o corpo pálido e frio de meu amor platônico descansará pela eternidade, finalmente entendo o que compeliu Dante a entrar na Barca do Inferno e descer em busca de sua amada.
Se pudesse, faria o mesmo. Todavia, tudo que posso fazer é chorar atrás dos óculos escuros, soluçar enquanto assisto o desespero de todas as pessoas que lamentam a partida de Kinn Theerapanyakul.
A poeira sobe quando os coveiros jogam a primeira porção de terra sobre a urna. Alguém grita, talvez Khun, talvez Porsche, talvez Kim, talvez eu mesmo. Não sei. Tudo parece distante e silencioso, como um filme em preto e branco, e essas são as cenas finais.
O sol é brilhante, ardente sobre nossas cabeças, como se estivesse se divertindo às custas de nosso sofrimento, mostrando que nenhuma dor é tão importante ao ponto de parar o universo. Nenhum coração é valoroso o suficiente para que sua quebra impacte, de alguma forma, o todo angustiante da existência.
Eu deveria me sentir feliz, Porsche deveria se sentir livre, mas quando a pá do coveiro se moveu pela última vez, encaramo-nos a alguns passos um do outro e não nos reconhecemos. Não como antes.
Não éramos mais Tay e Porsche, éramos Dante e Virgílio, e nossa vida a partir dali seria o próprio inferno.
[FIM DO QUARTO ATO]
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War of Hearts (KimMacau)
Fiksi PenggemarAlmas destinadas sempre foram uma dádiva, as lendas se tornando reais quando dois corações se unem com um vínculo que supera qualquer obstáculo e adversidade. Ao menos era isso que Macau achava, até encontrar seu amor e perceber que o d...