REPRISANDO O SOFRIMENTO

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Capítulo 15

     Não sabia na época o tempo que fiquei hospitalizado, mas meus pais me disseram depois que foram exatamente 48 dias. Sendo que 38 dias foram na UTI, cirurgias, reparação de órgãos e praticamente em coma. Os outros 10 dias foram de recuperação, onde eu revivia todas as noites, o que eu passei.

Destes dez dias, consigo me recordar bem de muitas coisas. Lembro das dores, dos pesadelos, das paradas cardíacas, das hemorragias, vômitos e muitas agulhas. O que mais me incomodou foi o dreno.

Aquilo sim, foi uma tortura! Eu não conseguia dormir direito e muitas das vezes, o soro saia da veia e vinha uma enfermeira e recolocava tudo e sempre doía!

Descobri que às noites em hospitais, sendo o paciente não é como se vê em seriados de hospitais. Você não dorme! Simplesmente não se consegue dormir. Ou porque tem remédio pra tomar, curativo pra trocar, soro para ser renovado ou porque a dor e o medo não deixam. Sem falar nos outros quartos do corredor. Sempre tinha alguém gemendo de dor.

Você fica na dependência de alguém para tudo e saber que até para urinar, precisa usar uma sonda, já te deixa no fim da fila da privacidade! Tudo que você quer é esquecer o que lhe aconteceu e seguir sua vida, sem lembrar de nada. Mas não dá. Seu corpo está praticamente remendado. Sim! Soube bem depois que eu tinha levado muitos pontos para reconstruir meu reto e intestino perfurado, mais pontos nas costas, para retirar a faca do meu pulmão direito, perdendo uma parcela pequena dele, que iria me acarretar alguns problemas futuros.

Recebi tanta visita médica que me senti um personagem do seriado House. Vieram seis especialistas de uma só vez, além de um cirurgião dentista. Vinham, conversavam com um dos meus pais que estavam no dia me cuidando e voltavam dois dias depois, olhando a tal “obra de arte”.

Mas, teve uma tarde que saiu totalmente do habitual hospitalar. Entraram no quarto a médica e o psicólogo que me acompanhavam, uma enfermeira e três pessoas completamente estranhas para mim. Eles entraram e meu estado de alerta acendeu como um raio. Olhei para meu pai, que estava naquele dia comigo, quase implorando por socorro. Ele me olhou, segurando meu pulso, na tentativa de me acalmar:

- Calma filho. São os policiais que te salvaram.

- Pai... - Sussurrei, num gemido rouco.
                                           
Ele me sorriu, com aquele sorriso meigo que só ele tinha e isto me deu alento. Segurei a mão dele e apertei com força.

Um homem de meia idade e barbeado acompanhado de uma mulher e um outro mais novo se aproximaram.

- Olá, Pedro! Sou o investigador de polícia de crimes sexuais e essa é assistente social do conselho tutelar da criança e adolescente e este é o policial que está averiguando seu caso. Ficamos felizes em saber que apesar de tudo estás vivo e a cada dia, mais forte. Logo estarás em casa.

Eu só assenti, sem conseguir falar.

Ele continuou puxando uma cadeira pra mais perto da minha cama. Olhou meu pai, pedindo permissão para me fazer algumas perguntas.

Congelei de pavor:

- Eu sei que você não gostaria de relembrar tudo, mas precisamos de algumas informações, para colocar estas pessoas na cadeia.

O GOSTO METÁLICO DA DOROnde histórias criam vida. Descubra agora