O PREÇO DA CONFIANÇA

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Capítulo 06


     Fazia um tempo que eu me comunicava com Fabrício, o King. Parecia que toda minha vida se resumia a conversas e ligações pelo celular com ele. Me sentia tão dependente dele que odiava a ideia de me afastar dele um minuto sequer e não percebia na época o mal que eu estava alimentando. Me anulava, para agradá-lo.

Parecia que tudo que fazia era pouco ou sem valor algum. Me sentia preso numa teia fina e confortável. Eu o amava e precisava da aceitação dele para tudo e ele gostava deste poder sobre mim. Ele sentia prazer em me humilhar, mas eu não enxergava assim. Para mim, era amor e a culpada, a distância:

- Alô? Pedro? Por que demorou pra atender?
I
- Eu tava almoçando, ué! Tudo bem contigo?

- Eu tava, mas fiquei horas te esperando! Tu sabe que odeio esperar! Me falta ar e fico com febre! Parece que tu tá com outra pessoa!

- Mas que bobagem, cara! Eu tenho vida fora da internet, sabia? Preciso comer também! – Ri.

- Tu tá rindo de mim?

Entrei em pânico! Eu não sabia como contornar a situação:

- Não! Eu não tô rindo de você!

- Tá, sim! Com quem tu aí? Quem é ele?

- Ele quem??

- Não me enrola, Pedro! Eu tô ouvindo a voz dele daqui! Tu não me amas mais? É isto?

- Com quem você está conversando, filho?

- Ninguém, mãe.

- Este ninguém é o tal jogador de LOL?

- Não, pai. Ele não joga mais e tá fazendo faculdade.

- Fabrício de que, mesmo? Não lembro.

- Eu nunca falei, pai. Ele tá me contando que se sente doente e tals.

- Ah... sei...

- Mãe! Por favor? Dá licença?

Meus pais se olharam, apreensivos com o rumo da minha conversa e amizade com alguém que nunca aparecia.

- Com quem tu tá de trela?

- Meus pais, cara...

- Tu não tá mentindo, né? Tu sabes que te amo muito, né? Eu me mato se tu me deixar!

Eu me sentia exausto psicologicamente.

- E a outra voz? Quero saber ainda quem é! Tu falou que sou eu pros coroas? Por que?

- Relaxa? Aguenta aí? Vou mandar uma foto pra você ver.

Olhei em volta e só tinha a televisão ligada no jornal local e meus pais sentados na sala, assistindo. Ele não ia acreditar, então, tirei uma foto da tv com eles dois e mandei para ele, pelo Whats.

- Te mandei uma foto. É a televisão ligada e meus pais assistindo. Pelo amor de Deus! Para de achar que tô sempre te traindo!

Senti as lágrimas subindo para os olhos e saí de perto dos meus pais, porque eu sabia que teria de dar explicações e eles jamais entenderiam e Fabrício terminaria comigo caso ele contasse nosso namoro secreto. Subi rapidamente para o quarto e me trancando lá.

- Tô passando mal, Pedro! Acho que vou morrer!

- Não fala assim, Fabrício! Você sabe que acabo chorando, toda vez que você diz estas coisas!

- Quero te ver! Me manda uma foto? Tu tá mesmo chorando? Duvido!

Peguei o celular e tirei uma foto, com o rosto inchado e o nariz vermelho. Mandei.

- Recebi. Tu ficas tão bonitinho, assim!

- Bonitinho? Tô desesperado!

- Ouwnn, amor.... Não chora, vai! Tira outra foto, sem roupa? Tô com saudade de ti!

Ele sempre me pedia, mas eu não conseguia. Eu sempre fui muito tímido e não parecia certo, já que não conhecia o Fabrício pessoalmente.

(-Não faça isto, Pedro!) – A voz me avisava com jeito suave.

- Então? Tu me amas ou não? Me prova, então que sou o único amor da vida!

- Fabrício...

- Eu sabia! Que ama que nada! Mentiroso! Eu te amo tanto e nem tô pedindo nada demais!

- Eu tenho vergonha, poxa! Nunca fiz estas coisas!

- Tira só a camiseta, vai! Faz teu amorzinho feliz? Por favor? Quero ver seu corpo e sonhar que tu tá aqui, comigo...

(-Não, Pedro!) – Eu ouvia aquela voz quase suplicar.

- Só a camiseta, ok?

- Só a camiseta, amor!

Respirei fundo, levantei e fui até o espelho do meu roupeiro. Fiquei me olhando e meu coração acelerava descompassado. Eu não queria fazer aquilo, na verdade. No fundo, sabia que era errado, mas eu precisava provar que eu o amava muito e num impulso, tirei a camiseta do capitão América e olhei para meu tórax desnudo. Uma onda de vergonha me dominava. Tirei quatro e mandei a menos ruim.

- Pronto! E chega! – Falei.      

- Recebi! Você é tão perfeitinho...

Sorri, feliz que estava agradando-o. Era tudo que eu queria no mundo. Fazê-lo feliz.

- Preciso estudar, amor.

- E eu? Não vamos conversar mais?

- Vou acabar repetindo o ano assim!

- E o que tem? É só um ano!

- Não! Nem vem com esse papo! Eu vou desligar!

- Ok! Desculpa, vai! Só tava brincando, cara!

- A gente vai se ver, hoje? No notebook?

- Pode ser! Que horas?

- Depois da janta, tá?

 Fiquei contente que ele aceitou.

- Combinado, então! Quero falar coisas de namorado, pra ti! Te tranca no quarto e não inventa de contar pra alguém, ok? Não vai bater com esta língua mole nos dentes!

- Eu te ....

Desligou, sem nem me dizer "Te amo" e sem ouvir o meu "Eu te amo". Deitei e chorei, até que o cansaço mental me dominou e adormeci. Sem forças nem para sonhar....

(915 palavras)

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O GOSTO METÁLICO DA DOROnde histórias criam vida. Descubra agora