O GOSTO METÁLICO DA DOR

QUANDO FECHAM A PORTA, UMA JANELA SE ABRE

Capítulo 24

     Lá estava eu, fazendo meu perfil com a colaboração da Dany, a minha psicóloga e amiga. Ela monitorava ao meu lado, cada passo nesta nova jornada.

Ainda era complicado para mim, encarar algo mais próximo de uma rede social e mesmo que eu tentasse me convencer que não era, que era apenas uma plataforma de leitura, havia outras pessoas e na sua maioria jovens como eu.

- Está pronto para colocar uma foto no perfil?

- Mas, eu não quero usar meu rosto! Eu nem posso!

- Respire devagar e vá contando. Não vamos usar uma foto. Olha – Disse ela, mostrando na tela alguns perfis aleatórios. - A maioria usa personagens como "ícones" e "user" também. Não precisa se expor. Só quando realmente se sentir totalmente seguro e confiante.

- Está bem, Dany. Obrigado! Agora, o plano de fundo...

Olhei algumas imagens no Google e joguei a terceira opção. Tudo era tão excitante e assustador ao mesmo tempo!

Depois de um tempo, escolhi alguns livros e organizei a biblioteca e a lista de leitura. Tudo pronto, mostrei pra ela, que pacientemente esperava ao meu lado. De repente me virei e encarei-a, com os olhos arregalados:

- Tá! E agora? O que eu coloco na bio? Eu não faço ideia do que botar lá!

- Vejamos.... Você colocou seu user com um pseudônimo. Use uma frase de efeito, relacionado a esta personagem. Não há porque você se preocupar com isto. Estás para ler e escrever. Lembre-se sempre disto!

Depois de tudo pronto, sorri satisfeito com o resultado. Agora era hora de organizar um livro e postar. Me despedi dela, sem contato físico e fui cuidar do meu gato.

A vontade de escrever e fazer uma capa bem legal me deixou eufórico. Fazia muito tempo que eu não me sentia assim e era uma sensação boa. Poder ter com quem conversar ou ler livros de pessoas como eu, era quase um presente dos deuses!

No dia seguinte, depois de tudo, revisei algumas das poesias e estava pronto para postar meu primeiro livro. Fui clicando, ajeitando e percebi que estar ali, fazia com que me sentisse vivo novamente.

- Pronto! Agora vou pegar algum livro para ler e relaxar! – Falei, me jogando na cama.

Nesta época, eu já tinha iniciado minhas aulas na faculdade e tinha de dividir meu tempo com as aulas, estudos, leituras e meu gato. Não restava muito para pensar em coisas desagradáveis e a Dany tinha razão em dizer que eu iria me sentir renovado e me ver como alguém que realmente era e não como eu me via. Minha autoestima era baixa e precisava trabalhar nesta parte de interagir com os leitores e escritores, de maneira que eu não me ultrapassasse o limite, até que me sentisse confiante. Mas, minha natureza sempre foi muito altruísta e empática. Eu jamais iria tratar mal alguém ou ser indiferente, caso me chamassem. Mesmo que eu estivesse estudando ou em alguma tarefa, mesmo que cansado e com sono, se me chamassem eu acabaria atendendo da melhor maneira possível. Sempre sendo o mais gentil possível e isto, às vezes acarretava algumas impressões erradas, mas nada que uma boa conversa não se resolvesse.

Por conta dos calmantes, eu me sentia sonolento, mas sempre que conseguia dormir, acabava tendo os mesmos pesadelos e, muitas vezes, vinham intensos e nada conseguia me acalmar. Às vezes, eu me sentava na cama, ofegante, febril e em lágrimas. Por algum motivo que eu desconhecia, minha depressão se agravou e eu não via esperança de voltar ao que eu era, apesar de me sentir melhor, escrevendo. Estava tão no fundo do buraco que eu mesmo cavei com as unhas e me joguei lá dentro, que não tinha forças ou vontade de sair.