Capítulo 25- Proteção

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Na manhã seguinte...

Mãe admirava Negrinho dormindo, um garoto lindo e tão novinho. Conforme ela admirava sua preocupação começou aumentar.

Caipora chega apertando suas próprias mãos e com pequenos passos.

- Mãe?- Disse baixinho e de cabeça baixa.
- Eu estava errada.- Disse Mãe se desculpando.- Peço desculpas, a culpa nunca foi sua dessas queimadas. Você e sua irmã são diferentes, quero me desculpar, Clarice. Eu fiz errado.

Caipora se assusta, ela nunca imaginou que uma deusa pediria desculpas, um ser tão poderoso assim.

- Eu quero dar o meu melhor.
- E ja esta fazendo isso. Mas vou precisar de sua ajuda se não for pedir muito.- Ela olha para o Negrinho preocupada.

Caipora se aproxima, fica bem pertinho e a Mãe segura em sua mão.

- Você é a única que sabe sobre os humanos e a única que aparentemente é uma.

Ela respira fundo para continuar a falar.

- Negrinho não pode ficar com a gente, eu não tinha ideia do quanto aqui é perigoso para ele.
- Mas Mãe... E o Saci quando...
- Saci se aliou com a Cuca ele não vai voltar.- Interrompe a frase dela.

Caipora da um sobressalto não esperando isso.

- Ele precisa de proteção. E aqui não tem. Não podemos cuidar de uma criança.- Mãe olha com os olhos cheios d'agua.- Sabe de algum lugar que ele pode ficar?
- É-É... Sim, mas talvez Negrinho não queira...
- Ele não tem opção. Leve ele assim que se recuperar.

Mãe se levanta e começa a andar.

- Obrigada, Clarice.

Ela da um sorriso e vai de encontro com súbito que esperava ela no topo de um dos maiores morros.

- O seu cheiro...- Disse Súbito estranhando- Não esta igual.
- Estou queimada, Súbito.

Os dois se olham, dão uma pausa séria, mas logo começam a rir.

- Minha criatura fez isso?- Disse Súbito olhando a paisagem queimada.
- Não, foi a minha.

Súbito fica surpreso.

- Saci?
- Uma humana.

Súbito se assusta com a resposta. Como uma simples humana conseguiu fazer um estrago enorme na floresta.

- Preciso da sua ajuda, Súbito.
- Eu sei, é só pra isso que você me chama.

Mãe fica em silêncio, se sentindo meio culpada depois dessa resposta.

- Queria que vigiasse a floresta pra mim enquanto eu descanso, só pra caso aquela bruxa voltasse.
- Você aproveita que eu não sei dizer não.

Mãe tenta ficar séria, mas não aguenta e solta um sorriso.

- Drácula esta machucado com oque Iara fez e quase não sai da torre.
- Fiz para protege-la e esta dando certo.
- Drácula disse para não dizer as coisas que eu sinto... Mas eu preciso.

Mãe olha para ele, séria.

- Você sente alguma coisa?- Pergunta ela surpresa.
- Sinto e você?
- É-É-É...Sim- Começa a gaguejar.- Oque quer me falar?- Ela desvia o assunto.
- Oque é amor?- Revida ele com outra pergunta, mas realmente querendo saber.

Mãe começa a pensar em como dizer.

- Tem vários tipos de amor, cada um diferente. Tem de filhos, pais, amigos, amores...
- Defina amores.
- É quando você vê uma pessoa e seu coração acelera, começa a sentir dores na barriga e tremedeira. O seu corpo só quer ficar ao lado dela e poderia ficar para sempre conversando e ouvindo ela.

O coração de Súbito começa a acelerar, ele nunca teve esses tipos de conversa com ela.

- Mas você não sente amor, Súbito. Eu criei o amor para as minhas criaturas e você não...
- Talvez o amor ja existisse antes de você cria-lo...

Mãe começa a desconfiar.

- Oque quer me dizer? Você me ama?- Disse ela rindo.

Se súbito tivesse pele humana, com certeza nesse momento ele estaria todo vermelho de vergonha.

- Não, claro que não.- Ele ri sem graça.- Só queria te dar isso.

Ele estende a mão e a Mãe da um passo para trás, para que não tocasse em sua mão.

Nesse momento parece que o coração de súbito tivesse levado um soco. Ele tinha esquecido completamente do seu toque mortal.

- Desculpe.- Ele coloca o objeto numa pedra.

Ela vai até a pedra e a pega.

- Isso é muito... Oque é isso?- Pergunta ela sem entender.
- Os humanos chamam de pulseira, eu fiz uma de ossos.- Disse contente.
- Ossos das minhas criaturas?
- Esqueci desse detalhe. Mas são os humanos malvados esses, você pode sentir as almas pesadas que eles carregam.
- Eu não sinto os pesos das almas, mas eu acredito em você.

Mãe da um sorriso sem graça e segura a pulseira com as duas mãos.

- Você pode fazer esse favor para mim?- Pergunta ela voltando ao assunto da floresta.
- Pergunta besta.

Ela da um sorriso e desce a montanha.

Na árvore...

Negrinho acorda, coça seus olhos e se espreguiça.

- Bom dia, Negrinho.- Disse Caipora chegando com suculosas frutas.

Ela vai até ele e os entrega. Ele come com gosto e logo volta a ficar triste.

- Saci me deixou.
- Você não precisa dele.
- Mas eu gosto dele, Caipora. Ele era meu melhor amigo.
- Saci é um homem fraco, não deve confiar em todo mundo, Negrinho.
- Como eu vou saber em quem confiar?- Pergunta ele baixinho e cabisbaixo.
- Não vai saber, você apenas senti.
- Eu senti com o Saci.

Caipora passa as mãos em seus cabelos enroladinhos e olha em seu rosto, tendo uma cicatriz de chicote.

- Vou te levar para uma casa, onde há várias crianças e lá você vai estar seguro.
- Ta bom.

Caipora estranhou pelo fato dele nem se quer hesitar em querer ficar. Talvez ele realmente não queria ficar aqui ou ele esteja triste demais para tentar dizer algo.

- Ficarei de guarda observando, até que realmente esteja seguro.
- Não precisa, eu não ligo.- Negrinho se levanta e Mãe escutava toda a conversa de coração partido.

Ele olha para ela e se despedi.

Caipora vai até o rio, se limpa, retira as tintas de seu corpo e lava seu cabelo. Pega uma roupa de algodão que sempre deixa guardada para caso precisasse ir na cidade, veste e vai em direção de Negrinho. Ela pega em sua mão, olha em seus olhos e sorri, eles começam a andar em direção da cidade mais próxima da floresta.

Na caverna...

Uma mosca sobrevoava o corpo de Lara e pousou em sua costela, onde o ferimento estava aberto. A costela começa a voltar para o seu lugar sozinha e a mosca sai daquele local e voa direto na boca ensanguentada dela.

Começa a sugar aquele sangue avermelhado. Lara fecha a boca e mastiga a mosca. Seu coração volta a bater e volta a respirar.

Ela se levanta tonta e olha em sua costela, havia sido curada. Uma das quatro poções que havia era de ressuscitação. Lara olha em suas mãos e começa a sorrir, não acreditando estar viva. Ela visa três poções cheias de um líquido de cor rosa na estante, ela pega e as guarda.

Olha para a floresta e corre em direção ao desmatamento.

Folclore Brasileiro I: A Ascensão Dos GuardiõesOnde histórias criam vida. Descubra agora