carta aberta (pois o destinatário provavelmente nunca lerá)

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olá, sou eu. o meu nome muitos sabem, meus gostos poucos conhecem, meus amigos são quase inexistentes. eu não gosto de mim a maioria das vezes, evito olhar no espelho e desvio o olhar quando conheço alguém pois temo decepcionar. se alguém se aproxima, penso ser por interesse, não consigo aceitar o fato de que alguém realmente possa gostar de mim, me achar bonita. por isso me escondo atrás de livros e uso as palavras para me expressar, é mais fácil assim. não dói.

eu já fui machucada demais, que passei a acreditar no amor como uma lenda, um privilégio que não é para mim. já fui tão má que evito deixar que se apaguem, temo machucar mais alguém. já quis desistir tanto, que hoje evito pensar nos motivos que me fizeram a quase fazer isso. então mascaro a minha dor transcrevendo no papel, transformando tudo em poesia, em um romance épico que algumas pessoas vão se lembrar um dia distante. me torno uma mentirosa, que diz que está bem, mas usa outra pessoa para dizer que não está.

eu não sou alguém legal, não queira se aproximar de mim.

não busco que me amem, não escrevo com o intuito de ter milhões de fãs. eu apenas... faço isso. não gosto de falar de mim, por meses tentei esconder meu nome e rosto por não me amar. eu estrago jantares de família, já fiz minha mãe chorar, e me recuso a ir a encontros por não me sentir suficiente. eu sou o problema da minha vida, não é apenas um ex ou um trauma. sou eu. e as vezes eu digo isso em uma roda de amigos e eles concordam sem notar. que eu sou problemática. em certas ocasiões, percebo que todas as garotas do mundo conseguem ser bonitas, sexys e cool. menos eu. eu persisto sendo o mostro de sete cabeças que grita a todo momento afastando todos a sua volta. algum dia poderei ser mais que uma criatura exótica? algum dia serei aquela que é levada para casa depois do jantar, ou que recebe uma ligação no dia seguinte? algum dia poderei ser a escolhida?

algum dia eu me amarei?

são tantas perguntas, tantos números na agenda, tantos nomes em dedicatórias, mas poucos a quem contar. e a culpa é toda minha, eu os afasto. essa sou eu. tem certeza de que quer ficar? que quer me encontrar? eu temo te decepcionar, não sou tão bonita quanto ela, não tenho um corpo perfeito e nem sei fazer aquele delineado afiado que cortou seu coração. tudo o que sou são as letras, elas me compõem. entre versos, poesias, bilhetinhos secretos, romances fictícios; tudo faz parte de mim.

sou eu, olá. te espero na saída do aeroporto.

[25/10/22]

Nᴇʙᴜʟᴏsᴀ ᴅᴇ ʟᴇᴛʀᴀs ᴅᴏᴜʀᴀᴅᴀs Onde histórias criam vida. Descubra agora