Nᴇʙᴜʟᴏsᴀ ᴅᴇ ʟᴇᴛʀᴀs ᴅᴏᴜʀᴀᴅᴀs

isso é para você, Poeta.

você me beija, mas é nela que penso. você me toca, mas é o nome dela que sussurro em lamento. tu tem meu corpo, mas ela tem meu coração. enquanto você fala sem parar de como é isso e aquilo, eu não ouço nada. pois tudo que consigo pensar é nela, na lua, em um campo de lavandas e na cor vermelha. você fala demais sobre si mesmo, ela fala muito sobre como ama ter me conhecido. você implica demais com minhas músicas, com meu amor por sete seres de outro continente, você não entende porque eu escrevo tanto sobre ele. mas ela entende, ela lê cada linha minha rabiscada em uma folha amarelada, e admira minha forma de descrever o cotidiano como se tudo fosse extraordinário. ela admira meu trabalho, ela ouve minhas músicas, e compartilha do mesmo sentimento roxo que guardo no peito. por isso eu escolhi ela, por isso fugi naquela noite e agi como uma maluca no dia seguinte. porque você não é ela, nunca foi.

e não me olhe assim, você nunca quis mais que uma noite de prazer.

você nunca me quis como ela.

por isso peço que pegue suas roupas, suas poesias, esse vinho barato e vá. eu não sou quem você pensa, não quero te dar uma cópia da minha chave para você entrar quando bem entender. não vou te privar de ficar com ele, pode ir. volte para Bahia, eu não me importo! você nunca se importou, você nunca quis um lugar a mesa, só estava empolgado para experimentar novos pratos. mas eu estou farta de você, querido. estou farta dos seus joguinhos, seus truques baratos e esse seu sorriso mortal. então, não me culpe por ter escolhido ela quando você agiu como um perfeito oposto de tudo de bom que há nela. não me culpe por sussurrar o nome dela naquele momento, quando você tinha o gosto de outro nos lábios. não me culpe por ser egoísta, quando você também é.

casualmente cruel, sorri ao cortar um bife mal passado, mancha os lábios de vermelho e revira os olhos em deleite. você acha que não sei o que você fez naquela noite com aquelas pessoas, acha que não vi as mensagens carregadas de ambiguidade. eu vi uma foto, o jeito que ele olhava para você, eu sei de tudo. então não me olhe como se eu fosse a vilã, pois enquanto eu te esperava ansiosamente como uma boba, você dormia nos braços dele. não diga nada sobre as mensagens que venho trocando com ela, quando você tinha o descaramento de fazer o mesmo estando ao meu lado.

eu posso ter sido babaca, meu bem. mas você... você foi muito pior.

então, de quem é a culpa? penso que não há um culpado nesse emaranhado que nos tornamos. dois garotos, duas garotas; alguém não vai sair ileso dessa história. talvez seja eu, que nunca mais me sinta o suficiente para ela, ou talvez seja você, que não vai conseguir voltar para ele. talvez seja ela, que ainda tem uma ferida aberta no peito, ou ele que sempre vai te esperar. de qualquer forma, alguém sempre acaba chorando baixinho de madrugada.

o que ainda faz aqui? vá.

[03/12/22]