o enterro

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você morreu para mim, mas permaneço no velório. gritando seu nome, xingando muito, implorando que fique. uma garrafa de vinho pela metade contra o peito, cacos de um coração espalhados pelo chão. os olhos são opacos, a dor da perda é tanta que chega ser anestésica. não sinto porra nenhuma, só uma vontade descomunal de dizer palavras chulas e esquecer a sequência das letras do seu nome. eu te odeio, eu te machuquei, eu te amei, eu te avisei... eu realmente mereci? meu amor cabe na sua palma fria, meus punhos estão da cor dos seus lábios secos, minhas pernas estão tão pedreficadas quanto seu corpo estirado dentre as flores.

oh, mas que cena mais fantasmagórica!

não teve nem mesmo a descencia de partir graciosamente como nos filmes, não houve uma canção triste ou uma dura despedida. surgiram sinais sutis, você esteve pensando nisso há um tempo. houve pistas do crime, tapei meus olhos e fingi não escutar as frases ambíguas. burra. você se foi. casualmente cruel, assim como todos eles, assim como eu já fui. agora permanece vagando pelo mundo com a alma, deixando para mim esse corpo frio e um fantasma de alguém que já nem existe mais. eu grito mais alto, mas ninguém me escuta. você era a única que ouvia minha voz, mas agora eu quero que vá para o inferno. veja como as minhas lágrimas richicoteam sob o muro que ergueu entre nós, veja como meus dedos doem de socar tijolos, veja como minha garganta dói de gritar tanto pelo seu nome idiota.

veja o que você fez comigo.

[escrevi isso num papel qualquer e a neblina do momento me impediu de lembrar de colocar uma data, mas me lembro que foi em uma noite extremamente longa de sábado (?) ou domingo]

Nᴇʙᴜʟᴏsᴀ ᴅᴇ ʟᴇᴛʀᴀs ᴅᴏᴜʀᴀᴅᴀs Onde histórias criam vida. Descubra agora