in media res

15 2 0
                                    

os olhos vermelhos em lágrimas encaravam a jovem princesa com descrença, pavor, mágoa. neles refletiam toda a dor que seu peito sentia, todo o desgosto de ser traída. um fio de sangue escorreu pelo canto dos seus lábios, misturando-se junto com as lágrimas e o suor da batalha. a moça desceu os olhos para seu próprio peito, que ardia como um inferno, e viu tanto sangue que se perguntou como ainda estava consciente. as mãos da princesa, tão delicadas e adornadas por jóias, agarravam o punho da espada em seu peito com força.

a jovem encarou sua alteza a procura de respostas, mas a encontrou com a cabeça baixa encarando o chão. a cabeleira longa e loira cobria-lhe o rosto, o peito subia e descia em um ritmo constante, seu vestido estava manchado de sangue. era uma cena trágica, havia corpos caídos ao redor das garotas, pessoas agonizando e outras apenas perplexos encarando a cena que se desenrolava ali. mesmo em um cenário de guerra, tudo o que a jovem ferida conseguia ver era a moça que empunhava sua espada, e se perguntar o porquê. por que ela? por que não a encarava? por que?

ㅡ percebe que estou apenas fazendo o mesmo que você fez, não é? ㅡ a voz da princesa soou entre o caos, em um tom sinistro. ela ainda mantinha a cabeça baixa. ㅡ você também me feriu naquela vez... eu também chorei, eu também sangrei!

ㅡ mas... ㅡ a jovem murmurou, lutando para continuar com os olhos abertos. ㅡ eu me arrependi... eu coloquei curativos em seus ferimentos. eu... te amei.

ㅡ não importa. ㅡ a outra moça soou firme. ㅡ eu lutei tantas guerras ao seu lado, veja onde chegamos! mas eu estou tão exausta disso tudo...

ㅡ até... de mim?

a moça loira levantou a cabeça, lançando um olhar mórbido para a jovem ferida.

ㅡ não me olhe assim, não me faça ser a vilã. ㅡ a princesa torceu o punho da espada, com os olhos cheios de lágrimas. ㅡ isso está sendo difícil para mim também!

ㅡ imagino...

ㅡ quando eu estava no seu lugar, eu gemia de dor. eu quebrei ossos, eu sangrei tanto que pensei que fosse morrer!

ㅡ certo...

ㅡ pare de me olhar assim! eu não sou a vilã!

ㅡ sim, alteza... você não é uma vilã...

ㅡ eu apenas gostaria que entendesse os meus motivos. agora mesmo percebo como está doendo em você... mas eu realmente preciso fazer isso.

ㅡ eu entendo...

ㅡ entende mesmo? acho que não, acho que está sendo incondizente. acho que não percebe como eu me sinto, acho que...

a princesa se calou ao ver a jovem cair aos seus pés. ela puxou a espada, jogou-a longe e se ajoelhou ao lado da moça que tinha os olhos vidrados em nada. as mãos delicadas tocaram-lhe o rosto, sentindo a pele extremamente fria e a ausência de respiração.

ela... se foi.

então, subitamente, a princesa gritou. ela havia perdido o amor da sua vida.

[06/04/23]

n/a: algumas histórias simplesmente não fazem sentido.

Nᴇʙᴜʟᴏsᴀ ᴅᴇ ʟᴇᴛʀᴀs ᴅᴏᴜʀᴀᴅᴀs Onde histórias criam vida. Descubra agora