CAPÍTULO I.

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França, 17 de setembro de 1914. 

O grande estrago feito pela batalha do rio Marne era observado de perto por duas figuras com sobretudos negros, andando calmamente sobre corpos e escombros.

Não havia muita chance de alguém ter permanecido vivo por tanto tempo em meio aquele caos. Não havia mais soldados ou esperança de qualquer outro resgate no local. Havia apenas o cheiro de fumaça, corpos em decomposição e pólvora:

- Acho que Soojin errou o local.

- Soojin nunca erra uma previsão.

Um suspiro breve foi dado pela primeira a falar. Ryujin era direta e normalmente fazia coisas com o intuito de terminar rápido e voltar ao palácio do outro lado do mundo.Karina era cuidadosa e extremamente eficiente no que fazia. Apesar de falar pouco e permanecer sempre nas sombras, seu posicionamento e ordens deviam ser seguidas.A busca parecia não ter fim naquela noite e as duas precisam voltar com o que foi pedido: uma sobrevivente. Uma única sobrevivente da tragédia. Que daria origem à sétima tragédia. E assim eles continuariam a equilibrar o mundo.

Um mundo não pode ser construído apenas de desastres e guerras.
Por outro lado, também não teria como construir um mundo pacifista e extremamente bom.
O equilíbrio precisava existir. Um equilíbrio para o controle da população, além do controle de estrago do próprio Universo.

Para isso foram criadas as tragédias.

Segundo uma profecia elas deveriam ser sete. Sete pessoas que sobreviveram a desastres inimagináveis e renasceram no local com toda a energia dos que partiram ao seu redor.
Os outros moradores do mundo sobrenatural, chamavam as tragédias de anjos caídos ou demônios. Na maioria das vezes eles andavam entre todos com suas grandes asas negras escondidas. 

Cada tragédia carregava seu próprio dom e eram responsáveis por manter o mundo das sombras na linha. Até porque não era difícil monstros e outras criaturas menos pacifistas do mundo sobrenatural, ultrapassarem o véu e se infiltrar na sociedade humana comum. E isso incluía também os demônios, os mais perigosos e caóticos seres.

Karina estacou em certo ponto, próxima a uma igreja destruída e esperou Ryujin alcançá-la. As tochas que ambas carregavam traziam uma ondulação de fogo azul, tornando a cena fantasmagórica e mais bizarra ainda. Um barulho baixo, mas audível, fez com que ela virasse lentamente o olhar para o que parecia antes ter sido o altar da construção. Havia algo ali:

- Tem algo no altar. - Ela sussurrou vendo o olhar de Ryujin seguir o seu. 

Dando de ombros, Ryujin foi em direção aos escombros tomando certo cuidado ao realmente escutar um choro infantil próximo a um grande balcão de mármore destruído.

Sem diminuir o passo, Karina fez o mesmo, observando por uma pequena abertura no que provavelmente seria a mesa de cerimônia, uma criança com olhos negros e furiosos. Seu rosto estava machucado e já era visível o crescimento de suas asas:

- Olá Yuna. Iremos te levar pra casa. Você será muito bem cuidada como nossa sétima tragédia.

Ryujin afastou as pedras que serviam de teto para a criança e a pegou no colo, fazendo com que ela dormisse imediatamente. Karina apenas assentiu e puxou seu amuleto, abrindo finalmente o portal para casa. 


Dias atuais. (Mundo sobrenatural)

A biblioteca só não estava mais silenciosa, porque os passos das duas garotas com expressão séria e fechada, soavam pela extensão de pisos de pedra do local. As luzes davam um ar fantasmagórico ao ambiente, deixando também o rosto de Karina escondido nas sombras, enquanto ela descansava o corpo no batente da porta observando tudo.
Um suspiro escapou de Yuna, que provavelmente seria a primeira a abrir a boca em protesto ao trabalho repetitivo e antes que o desastre acontecesse, Ryujin deu um leve cutucão em sua costela, apontando para a morena que ainda estava na porta e sorriu ironicamente dando um aceno de mão:

Trivium - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora